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Todos Negros: Prêmio Esso 1993

por Cristina Huggins___


De tanto olhar as grades, seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na Terra:
grades, apenas grades para olhar.
Rilke, A pantera



Os versos do poeta expõem o triste fim de uma pantera, cerceada de seu ambiente natural. Para o felino, a liberdade é pretérita; seu presente, a jaula de um zoológico. Contrastes entre uma cidade do passado, mais generosa e hospitaleira, refúgio e conforto de seus habitantes, e outra, atual, inóspita e tirana com os cidadãos, permeiam a memória dos mortais que residem na urbe registrada por Taciana Oliveira.
Quantos gritos cabem no silêncio dessa cidade? O média-metragem da diretora é também uma pergunta que rouba o sossego. No filme, a cidade é melancólica, assombrada pelo descaso e pela incerteza. Suas personagens, “panteras-bípedes”, aprisionadas nessa urbe nada gentil, deambulam pelas ruas, atormentadas em meio à nostalgia e à angústia. Uma delas vagueia até esbarrar na mesma porta. Confere a residência, velha conhecida, e tomba o corpo fatigado na mesma cama. É noite. É dia. É noite. É dia. É noite. É dia... Desperta, sufocada por um cotidiano linear.
Uma cidade é um corpo de pedra com um rosto”, escreveu Machado de Assis. Taciana mostra o rosto de sua cidade. Ousada, evita obviedades. Escolhe uma vereda tortuosa para dialogar com o espectador. Dispensa a narrativa esperada, conduzida pela palavra, e constrói uma crônica imagética que flerta com a música. Na tela, passeiam tipos insones, alucinados, atordoados, perdidos; mas igualmente solidários, generosos, puros e, às vezes, confiantes. Ela incorpora cada um deles como alter egos e convoca a sociedade à reflexão.
O destemor e a singularidade da cineasta chamam a atenção. É preciso valentia para fazer perguntas lancinantes e cortar o próprio músculo. Ela tem essa coragem. Não receia sangrar. Como Saramago, brada aos sete ventos: “Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia”. Seu trabalho é faca amolada. Fere, mas também emancipa. As cores incidentais, a generosidade de pessoas de uma comunidade humilde e a inocência de uma criança-anjo — punctum de uma cena hostil —, entremeadas no cenário sombrio do filme, acenam para respostas e uma esperança de cidade harmônica possível.

Neste e-book, estão reunidos frames e fotografias da diretora, textos de convidados, e de escritores selecionados por ela para integrar a edição. Apreciar esse material é empreender uma jornada pela visão de Taciana sobre viver e conviver nas metrópoles de hoje. O e-book e o média-metragem fazem parte dos trabalhos levados ao público pela Galeria do Meio-dia, projeto da Garagem 94, em 2018. 

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Cristina Huggins é especialista em Linguística aplicada(UFPE). Tem formação em Estudos Hispânicos (Salamanca, Espanha). Sua experiência inclui ensino, pesquisa, produção de textos e tradução.
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Abaixo você pode assistir o trailer do filme e  visualizar o catálogo da exposição.










por Taciana Oliveira_____


por Taciana Oliveira__




O que a gente mais precisa é aprender a se levantar desse lamaçal que invadiu casas, ruas, escolas e instituições. Ele tomou conta de templos, batizou o judiciário, abençoou o legislativo, executivo, excluiu o juramento de ética da grande imprensa. Essa lama toda faz pouco caso dos direitos humanos, aplaude políticas excludentes, favorece uma hipocrisia cínica que elege imbecis. E são essas mesmas pessoas que querem definir a sua vida, o seu direito de ser. Desmerecem a história, sua condição sanitária, a garantia de segurança, sua identidade sexual. Eles vandalizam ecossistemas, apoiados em uma moral cristã que Cristo rejeitaria. É urgente tirar essa sujeira de cada cômodo, avenida, hospital e aldeias... A nossa apatia também responde por esses corpos enterrados na lama.

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Taciana Oliveira é cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.

 Fotografias de Bárbara Ellen

Fotografia: Bárbara Ellen
Fotografia: Bárbara Ellen
Fotografia: Bárbara Ellen
Fotografia: Bárbara Ellen





por Taciana Oliveira__


                                              
  No fundo a Fotografia é subversiva, não quando aterroriza, perturba 

ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa. 

-                                                                       A Câmara Clara, Roland Barthes.







                                

Fotografia de DamirSagolj/Reuters /PrêmioPulitzer de Destaque em Fotografia