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 por Taciana Oliveira__

 

por Mayk Oliveira__

 

 

Intervenção na fotografia de Marek Piwnicki


 por Verônica Ramalho__



 por Taciana Oliveira__

 


 por Renata Ettinger__




  

por Taciana Oliveira __





  

por Lua Pinkhasov__

 


por Jr Korpa

 

 

por Taciana Oliveira__



 por Rafael de Oliveira Fernandes__


Foto: Xiaokang Zhang


 por Caio Bulla__




 por Tito Leite__

 


por Jr Korpa

 

 por Leo Barth__


Jr Korpa



 por Conceição Rodrigues__



 por Lau Siqueira__

 





por Eva Potiguara__


Foto:Ricardo Stuckert


por Taciana Oliveira__


                                                                            Fotografia:Nazym Jumadilova


 PRINCIPADO EXTINTO

 

Isto é um poema

fala de amor

ou do medo do amor

Fala da morte

ou do fim da amálgama

rosto voz alma e cheiro

que é a morte

Isto é um poema

tenha medo

Fala dos peregrinos

que atravessam avenidas

de sobretudo e óculos

carregando flores invisíveis

e chorando mudos

Isto aqui é um poema

fala da permanência inútil

de um coração devastado

de uma floresta devastada

de uma corrida devastada

logo depois do disparo

da arma de 40 peças

que soltou a bandeirinha

e assim mesmo se desfez

Isto é um poema

fala da aparição do inverno

fala da fuga dos albatrozes


fala do punhal sobre a mesa

e do absurdo do punhal

feito de madeira e pedra

sobre a mesa do jantar

Fala do poder da erosão

que afinal incide sobre

pele e nervo e osso e olho

Fala do desaparecimento

Fala do desaparecimento

Claro que é um poema

fala do toque de saída

 no colégio de Île de France

e das 39 saias das meninas

esvoaçando sem vontade

na direção do cais de ferro

Fala do pânico do corpo

que esbarra em si mesmo

no espelho pela manhã

e do urro silencioso

que nenhum vizinho

escuta mas que ainda

assim reverbera sem dó

até a hora final

fala do vômito que advém

dos gestos repetidos


prolongados assim ad astra

até que o sono apague tudo

Fala da palavra saudade

ou da palavra terremoto

fala do olho que tudo via

deixando lentamente de ver

até mesmo a cara de Jack Steam

o porteiro da loja de discos

onde toca a canção de Chavela

Nada mais no mundo importa

Isto é que é poema

Fala do cheiro das flores

e da injustiça da existência

das flores na cidade

Fala da dor excruciante

meu bem excruciante

que faz até desejar

o fim do poema

o fim da palavra amor

que após o disparo

se espelha apenas

na palavra loucura.


ATÉ AS RUÍNAS PODEMOS AMAR NESTE LUGAR

 

Lembro-me muito bem do tal cantor basco

que costumava celebrar a chuva no verão

Não ligava quase nada para as conspirações

que recorrentemente se faziam ouvir

debaixo das arcadas noturnas da cidade

naquela época do intermezzo lunar

Foi já depois do fascismo, um pouco antes

da democracia enfaixada em magnólias

O cantor, as arcadas, o perfume e os disparos

me ensinaram que se deve aproveitar a época

de transição para destrinçar o brilho

As revoluções sempre foram o lugar certo

para a descoberta do sossego:

talvez porque nenhuma casa é segura

talvez porque nenhum corpo é seguro

ou talvez porque depois de encarar uma arma

finalmente seja possível entender

as múltiplas possibilidades de uma arma.


Matilde Campilho


*poemas do livro Jóquei (Editora 34, 2014)






Matilde Campilho
(Lisboa, 20 de dezembro de 1982) é uma escritora portuguesa. Publicou Jóquei (2014) pela Editora Tinta-da-China, reeditado pela Editora 34 em 2015 e Flecha, Editora Tinta-da-China (2020).










Taciana Oliveira – Editora das revistas Laudelinas e Mirada e do Selo Editorial Mirada. Cineasta e comunicóloga.  Na vitrolinha não cansa de ouvir os versos de Patti Smith: I'm dancing barefoot heading for a spin. Some strange music draws me in…




 por Taciana Oliveira___

 

JR Korpa

por Leonardo Amando__

 


por Luiz Mauro Leonel Ferreira__



 por Carol Sanches___




não fosse


 

teria conhecido maria

teria tido um filho chamado joão 

teria chorado ao ver isaac 

teria deixado as crianças na casa da avó

teria tido vertigem no 3º dia em machupicchu

teria desejado ir de trem

teria olhado as estrelas

enquanto mastigava coca

teria parado de fumar aos 28

começado a tomar vinho aos 30

teria feito uma festa surpresa aos 40

teria se divorciado aos 45

teria pesquisado sobre abdominoplastia 30 vezes

 fotografado um boto cor-de-rosa 

visto um tubarão cabeça chata no rio amazonas

subido os degraus do vaticano

descoberto condromalácia aos 53

começado a tomar frontal aos 60 

teria o maior dos deja vis 

teria colecionado carros em miniatura

 teria cruzado o deserto de atacama aos 70 

teria conhecido maria

 



experiências alquímicas

 

no fogo,

comecem jogando meus poemas

vejamos se dói

 

depois,

joguem minha vida inteira

no fogo

 

há nos desejos incendiários

o risco de matar o estado das coisas

– há chance de não haver volta

 

há também o risco

dos desejos incendiários

criarem alteridade:

não é o que sobra

é no que se transforma




 

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Carol Sanches é autora de Devo admitir que me dá um certo prazer (Urutau, 2020), Não me espere para jantar (Patuá, 2019), menção honrosa no Prêmio Maraã de Poesia 2018, e dos livros independentes Poesias Pormenores (2007) e Toda diva tem divã (2008). Seu trabalho já foi publicado em revistas digitais e antologias poéticas. Seu próximo livro, Tudo é química (Quintal Edições, 2022), será lançado dia 25/3 na biblioteca pública Guilherme de Almeida, no distrito de Sousas, em Campinas - SP. Venda em:  clica aqui