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O discurso narrativo critica abertamente a lavagem cerebral perpetuada pela ideologia armamentista da extrema direita brasileira. Na abertura temos o depoimento de Joelma Andrade, mãe de Mario Andrade, um menino de 14 anos, assassinado a tiros em 2016 por um policial militar, no bairro do Ibura, periferia do Recife. Em Texas a mensagem é explícita:
Um tiro, uma farpa
De onde veio a bala?
Foto amigo? Ou inimigo?
Uma conspiração
Um copo d’água
E onde isso nos leva?
Ao que nos resta
O que nos resta?
Trecho de Texas, música de Diablo Angel
O cenário escolhido para a produção do videoclipe revela a paisagem urbana da capital pernambucana e o semiárido de Surubim. Em tempos de intolerância e políticas genocidas, Diablo Angel nos chama para a consciência. Afinal, a arte nos fortalece no caos. Mario, vive! Resistir ainda é a nossa melhor opção. Assistam o vídeo, escutem a música e reflitam sobre o nosso cotidiano segregador, fincado nos alicerces da banalidade do mal. Texas nos representa.
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Felipe Soares (1984) é produtor, roteirista e diretor cinematográfico. Vive e trabalha no Recife, Brasil. Em 2008, se tornou professor e especialista em educação escolar, seus estudos acadêmicos problematizam o cinema e a cultura corporal. Em 2016 dirigiu o seu primeiro curta-metragem “Autofagia”, onde conquistou 11 prêmios, dentre eles, Melhor Filme no XII Cine PE e no Circuito Penedo de Cinema 2017, posteriormente, o filme foi adquirido pelo Canal Brasil. Recentemente, Felipe está em fase de distribuição do seu segundo curta-metragem de ficção "O Menino que Morava no Som", o curta estreou na Itália (Edera Film Festival 2019) e esteve presente em festivais na Espanha, México, Áustria, Brasil e França.
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Foto: David Nat 01 |
Diablo Angel tem Kira Aderne, vocal e guitarra, Tárcio Luna, guitarra, e Walman Filho, bateria. Em 2020, a banda completa 6 anos de estrada com dois discos lançados e uma turnê pelo Nordeste. Em 2016, lançou o seu primeiro trabalho em estúdio, o disco Fuzzled Mind (Tratore). Já 2019, a Diablo Angel trouxe em fita k7 o disco Futuro (Tratore). Dois trabalhos bastante elogiados pela crítica local e em sites especializados pelo Brasil. Com dezenas de apresentações ao vivo pelo Nordeste, o trio já passou por alguns dos festivais mais importantes da região, entre eles o Abril Pro Rock, o Coquetel Molotov, o Festival de Inverno de Garanhuns, o Grito Rock, entre outros.
contato@diabloangel.com @diabloangeloficial www.diabloangel.com
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Taciana
Oliveira é mãe de JP, cineasta, torcedora do Sport Club do
Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e
literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do
abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.
por João Gomes_
Hoje
se comemora os 77 anos do lançamento do livro "O
Pequeno Príncipe", de
Antoine de Saint-Exupéry,
para comemorar com um capítulo a mais, o escritor e cineasta Wilson
Freire lançou hoje um documentário sobre um dos colecionadores da
obra, o pernambucano Jaime Junior. Segue um trecho do depoimento do
diretor do filme, Wilson Freire, para o Mirada: “Fui
com a equipe de um cineasta só. Eu, tripé, uma steadicam manual,
para smartphone e um rebatedor. Esse equipamento, o smartphone, nos
dá essa possibilidade de sermos independentes, de não precisarmos,
para esse tipo de filme, em lugares pequenos, com luz ambiente, som
captado direto com um microfone lapela, também específico para o
aparelho, com um só personagem, principalmente sem nenhum recurso
financeiro de patrocínio, para pagar a outros profissionais.
Treinei, aprendi e pus em prática. Em uma manhã fizemos as
gravações e, logo em seguida, a edição. Tudo no smartphone.”
Wilson Freire, em um trecho da entrevista ao poeta João Gomes.
*A
entrevista completa você acessa aqui: João Gomes entrevista Wilson Freire e Jaime Junior
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João
Gomes
(Recife, 1996) é poeta, escritor, editor criador da revista de
literatura e publicadora Vida Secreta. Participou de antologias
impressas e digitais, e mantém no prelo seu livro de poesia.
por Kamila Ataíde__
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Andrei Tarkovscki é um gatilho, um convite à memória. Foram às minhas lembranças mais caras da infância a que fui atirada. Quando recebi o impulso de escrever sobre ele, pensei que das tantas coisas as quais eu o atribuo, a que eu poderia falar com mais propriedade e, aliás, a mais presente quando lembro das suas obras, é o impacto emocional e afetivo ao qual ele me lança sobre minha própria vida, mais especificamente, sobre a minha infância. Fui rememorando cada um de seus filmes e noto que há sempre uma sensação de nostalgia em mim impactada pelas representações intensas e pungentes de cada momento em que ele projeta um traço de memória. Particularmente, as minhas lembranças mais ternas da infância se desenham na minha mente exatamente com determinadas características de cores e texturas de algumas das suas películas. Isso não só acontece com memórias reais, mas com alguns dos meus sonhos mais significativos.
Tarkovscki trouxe uma verdade onírica e humana às narrativas, que através das características visuais e linguagem fotográfica escolhida por ele me atira sobre cenas calorosas dos 5 ou 6 anos de idade, como também aos sonhos mais conflitantes. A rua da minha casa às 7 horas da manhã, as tardes chuvosas e à meia luz, assistindo TV na companhia da minha avó sentada na cadeira de balanço - fui levada a essa memória ao assistir Nostalgia (1983) e me deparar com a cena do quarto de hotel, onde o personagem Gorchakov está deitado na cama e a iluminação vai se modificando aos poucos no quarto, os cachorros que tive, a tarde em um sítio de algum parente, em algum lugar do mundo, as correrias de fim de semana no meio da rua.
Revisitando alguns trechos do filme O Espelho (1975) para escrever esse texto, fui arrebatada por memórias inéditas de algum lugar no espaço-tempo da minha infância. Apenas alguns flashes de um campo arborizado, pessoas muito altas por perto e uma luz de fim de tarde. Andrei ainda dota desse poder. A cada vez em que paro para revisitar alguns de seus filmes, eles extraem de mim alguma cena esquecida e guardada no fundo da memória.
O Espelho (Andrei Tarkovski, 1975)
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Nesse mesmo filme, O Espelho (1975), Tarkovscki traz uma leitura da própria vida através do paralelo entre passado e presente e sugere - através de algumas características do filme como a utilização dos mesmos atores para personagens diferentes – a percepção de como algumas vidas são reflexos de outras, como uma reprodução hereditária de comportamentos. Isso me faz pensar sobre como vi e ainda vejo algumas histórias da minha família se repetirem com o passar das décadas. Cada uma das películas me convidou, em determinado momento, a viajar no tempo até algum instante considerado importante para a cabeça de uma criança entre os 4 e os 10 anos. E cada uma dessas películas também me convidou à refletir como os elementos de uma linguagem fotográfica, seus aspectos técnicos, dramáticos, suas composições, a iluminação, a música, o silêncio em momentos cruciais, são capazes de inspirar e encaminhar o espectador a regiões tão pessoais da própria vida e, por mais destoante que possa ser a realidade da personagem com a do espectador, ainda assim, gerar algum segundo de identificação e viagem no tempo. Tarkovscki é realmente um convite à memória, a dele e a nossa, da forma mais sensível e humana que se pode fazer.
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Andrei Tarkovski nasceu em 1932, na extinta União Soviética. Filho de uma atriz e de um poeta, foi criado pela mãe (seu pai abandonou a família quando Tarkovski tinha cinco anos). Formado em geologia, mas apaixonado pela sétima arte, cursou a Escola Soviética de Cinema (VGIK). Dirigiu A Infância de Ivan (1962), Andrei Rublev (1966) Solaris (1972) e Stalker (1979), Nostalgia (1983), O Sacrificio (1986) entre outros títulos. É considerado um dos maiores cineastas do século 20 e talvez seja apenas superado, em grau de importância no cinema russo, por Sergei Eisenstein.
Faleceu em 1986 em consequência de um câncer no pulmão.
Faleceu em 1986 em consequência de um câncer no pulmão.
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por Taciana Oliveira__
Poeta, artista visual, produtor cultural e editor literário. Baga Defente é múltiplo e incansável. Há tempos que a gente queria publicar essa entrevista. Há tempos que ela precisava acontecer. Equilibramos nossas agendas e o resultado de nossas conversas compartilhamos agora.
por
Fernando de Souza__
APRENDENDO A VIVER COM A SOLIDÃO DO MORRER
APRENDENDO A VIVER COM A SOLIDÃO DO MORRER
morte,
não sejas orgulhosa
apesar
de alguns te chamarem terrível e poderosa
tal
não serás
aqueles
que pensas teres deixado para trás
não
morrem, pobre morte,
nem
a mim podes levar
após
um breve sono, acordamos eternamente
e
a morte deixará de existir,
morte,
tu também morrerás
(John
Donne)
Emma Thompson |
por Fernando de Souza__
..Não
dá pé, não é direito
Não
foi nada, eu não fiz nada disso e você fez um
Bicho
de sete cabeças
Não
dá pé, não tem pé nem cabeça
Não
tem ninguém que mereça, não tem coração que esqueça...
(Zé
Ramalho)
A
expressão popular “bicho de sete cabeças”, assim como “fazer
muito barulho por nada”, refere-se à (infindável) capacidade
humana de projetar seus medos, ansiedades e angústias em situações
aparentemente sem grandes repercussões factuais. Este “bicho”
nos lembra a Hidra de Lerna, monstro da mitologia grega, também com
várias cabeças, e que tinha a capacidade de regenerá-las toda vez
que uma era cortada, crescendo outras em seu lugar. Via de regra, o
grande problema dos “bichos de sete cabeças” é justamente este:
assim como a Hidra, eles tendem a tomar proporções maiores do que
as reais, especialmente quando mal ou não resolvidos...
Neto, personagem interpretado por Rodrigo Santoro, vive com seus pais e sua irmã mais velha, e frequenta o Ensino
Médio. É um adolescente comum, com as dificuldades de
relacionamento com os pais, dúvidas e conflitos, como outros de sua
fase. Usa maconha esporadicamente com seus colegas, por lazer (ou
falta dele!), embora mantenha conservados os vínculos familiares,
sociais, escolares, etc. Certo dia, Neto e seus amigos, num ato de
rebeldia, vandalizam e picham um prédio, somente ele é preso pela
polícia e solto mediante a presença de seus pais: ele, autoritário;
ela, passiva. A partir deste evento e da posterior descoberta, por
seu pai, de um cigarro de maconha no bolso de sua roupa, a vida de
Neto vira de cabeça para baixo, com sua internação compulsória
num hospital psiquiátrico, autorizado por sua família, para um
pretenso tratamento para dependência química - apesar de nenhum
exame laboratorial, avaliação psiquiátrica ou psicológica ou
sequer entrevista ser realizada durante sua internação – baseado
exclusivamente na administração de medicamentos e exposto à
realidade de pacientes dos mais variados problemas de saúde mental e
de graus de gravidade clínica. Após um período de
ressocialização malograda, acontece uma segunda internação noutra
instituição, com efeitos terapêuticos e sequelas psicológicas
igualmente desastrosas. A nova internação nem surte os “resultados
esperados” (por quem?) como, ainda por cima, desestabiliza ainda
mais a saúde mental de Neto, novamente entregue a um tratamento
desumano, irresponsável e ineficaz. O que não era, até então, um
grande problema, agora o é. Um bicho de sete cabeças.
O
filme Bicho de sete cabeças (direção de Laís Bodanzky, 2001 ) nos possibilita várias
reflexões. Numa esfera subjetiva - embora representativa da
realidade de muitos jovens, tomando Neto como seu representante -
pensamos nas experiências de descoberta e de rebeldia durante a
adolescência, os conflitos geracionais presentes nas dinâmicas
familiares, causados pelo autoritarismo, repressão, incompreensão e
falta de abertura, e os impactos destas relações na vida afetiva e
no comportamento dos adolescentes. Podemos refletir também na
dificuldade em aceitarmos o “diferente” (eufemismo para
“perturbador” ou “indesejável” tanto nos indivíduos de
conduta transgressora juvenil como naqueles acometidos por
psicopatologias, por apresentarem comportamentos “excêntricos”
(outro eufemismo, desta vez para “inadequado”, “incômodo” ou
“desagradável?). Ambos os “perfis” são frequentemente
rotulados como desviantes e, em consequência, estigmatizados e
marginalizados.
Entretanto,
há uma reflexão – senão uma crítica – imprescindível neste
filme: trata-se de um símbolo da luta antimanicomial no Brasil.
Bicho de sete cabeças é baseado no livro Canto dos malditos, de
Austregésilo Carrano Bueno, que conta suas experiências de
internação em hospitais psiquiátricos, similares às de Neto.
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Fernando de Souza é psicólogo em formação, mestre em Letras e bacharel em
Comunicação pela UFPE. Publicou artigos acadêmicos em Psicologia,
concorreu e recebeu alguns prêmios de poesia entre 1991 e 1995.