por Taciana Oliveira___



 por Iaranda Barbosa __




 por Divulgação__




 por Divulgação___

 


 por Manu Bezerra de Melo__

Fotografia: Raisa Milova


Tinha um gato às mãos que miava sem parar. Tentava acalmá-lo sem sucesso. Repentinamente, o felino avança em direção ao seu peito, adentra seu corpo, possui-o, acomoda-se no seu interior de modo que ela começa a miar. Tenta dizer umas palavras, soa engasgada. Angustiada, rebate-se e acorda deitada de bruços na cama, gofa uma água azeda quase sufocada. A porta está fechada, é o gato, quer sair. Tem fome. Mia alto enquanto observa ela se levantar lentamente, quase tonta. Abre a porta, volta pra cama, apoia-se com os braços na janela. Abre as cortinas e olha o céu. Está azul e brilhante. É domingo, um domingo de verão. Seus cabelos então dançam o ritmo do vento que bate e ela deita em forma de brisa. Há um copo com água na mesa lateral à cama. Alcança-o, bebe dois, três goles curtos. Não tem pressa, nem precisa. Hoje não vai sair, nem vai trabalhar, nem vai ao mercado, não vai ao ginásio, nem a biblioteca. Hoje vai ficar em casa, assim tem sido. Pode se recuperar do seu pesadelo felino, pode lamber suas feridas. Ficar em casa tem suas vantagens. Está cansada das máscaras que precisa usar pra esquecer-se de si mesma, e pra proteger a si, deseja outras novas mais condizentes com sua figura. Ficar em casa não deixa de ser privilégio. Há comida na tigela, há uma manta, há uma janela pra ver o céu, há vento.


Setenta dias podem passar rápido, a depender. Ou podem ser lentos como um jabuti de apartamento. Neles consegue estar atenta a coisas dantes nunca reparadas. O movimento das nuvens de segunda a sexta-feira, e suas mudanças de direções aos finais de semana. O caminho das formigas até o buraco no móvel de madeira da cozinha, seu esforço pra carregar no lombo a comida da semana tal qual carregar seis sacolas cheias do mercado, três em cada mão. Os movimentos contínuos do gato; cochila de manhã, dorme a tarde, diverte-se a noite com ruídos assombrosos. Em trinta dias repara melhor a crosta de poeira que se forma sob os móveis, dia a dia crescente. E ignora a crosta mais vezes enquanto alterna os olhos a tomar conta da menina que, às cinco em ponto, desce com sua bicicleta e dá dezoito ou vinte voltas em torno da fonte do seu quintal. Depois deixa pousada por cima das roseiras mantando ali as cores múltiplas, promovendo uma emboscada contra si mesma.


Esta manhã viu mais pombos que o normal. O alpendre está imundo. O gato salta pra cima do vidro e arranha-o com as patas em tom de ameaça. Os pombos desdenham do ridículo, depois voam rasantes em desorientação pra pousarem de volta no mesmo alpendre, pra cagarem de volta no mesmo alpendre enquanto ameaçam espelhos que revertem o sol, pinos de repelência, discos velhos em cd-rooms pendurados à janela. Enquanto se arriscam no céu que todos desejam, mas só eles o têm, e sorriem pra o despeito dos que os chamam de ratos.


Setenta dias podem ser proveitosos. A ordem dos livros na estante já não é a mesma e foi garantida a descoberta de um novo trapo liso pra limpar prateleiras que já não engancha nas farpas. A louça suja acomoda-se mais do que nunca ao formato da pia, a pia, no entanto, luta contra o peso e o incômodo das panelas anti-aderentes. A comida podre dos restos do almoço de ontem escorrega lentamente pela parte interna do saco preto da lixeira, cujo odor é possível sentir tão logo a porta da cozinha é aberta. Seu corpo se toma em pelos. Não há lâminas, não há ninguém pra ver este corpo. É inverno, está felino agora, nem mesmo é possível saber qual o dia deixará de sê-lo. É possível deitar-se novamente, e deita-se, embola-se de um lado ao outro, abraça as pernas como um feto, debate-se por dentro tudo aquilo que pousa por fora, deixa o corpo dorido tomar a forma do impossível. No teto há uma projeção de si, mas a imagem não condiz com a de costume. Indeterminável, indetectável, incompreensível. Soa seu alarme, um som estridente. Sente o estado de emergência e pode, então, ser o que quiser. Até segunda ordem.


 



Manuella Bezerra de Melo
é recifense, autora de Pés Pequenos pra Tanto Corpo (Urutau, 2019) e Pra que roam os cães nessa hecatombe (Macabéa, 2020), tem mestrado em Teoria da Literatura e atualmente cursa o Doutoramento em Modernidades Comparadas: Literaturas, Artes e Culturas na Universidade do Minho, em Portugal, onde reside.

 por Yvonne Miller__

Jr Korpa

por Wilson Freire__

 

 


Pintura Mistureba: caneta esferográfica, giz de plástico e pastel sobre papel machê reutilizável - 20 X 30 cm 

  

por Taciana Oliveira__



 

 por Taciana Oliveira__









 

por Taciana Oliveira___


Retomando a nossa série de grandes nomes da fotografia, apresentamos nesta edição a narrativa visual da genial Annie Leibovitz, fotógrafa americana que imprimiu seu estilo ousado e intimista nas páginas das revistas Rolling Stone e Vanity Fair. No documentário Annie Leibovitz: A Vida Através das Lentes, dirigido por sua irmã Barbara Leibovitz, somos convidados a conhecer a evolução do processo artístico, detalhes da trajetória familiar e afetiva de um dos nomes mais representativos da história da fotografia contemporânea. O fazer fotográfico de Annie não apenas transitou no universo musical e na moda, mas também na denúncia dos conflitos armados e no cerco a Saravejo. Companheira de Susan Sontag, fotografou os instantes finais da escritora americana, a quem nomeou como responsável por colocar o seu trabalho em um novo patamar. Em um dos seus depoimentos para o documentário, Annie Leibovitz sentencia: O que é a vida de um fotógrafo senão uma vida através das lentes?

Bette Midler/Fotografia de Annie Leibovitz

 

por Diego Mendes Sousa__

 

 

Ilustração: Sanzio Marden

por Alexandra Vieira de Almeida__

 


por Valdocir Trevisan__



 

por Iaranda Barbosa___ 



 

por Adriana Minervina da Silva____