por Adriane Garcia___

 



 por Allysson Casais__

 


 

por João Gomes__

 

Foto: Sérgio Lima/ no portal Poder 360

 por Áurea Silva de Holanda__

 

Foto: Annie Spratt

 Hoje acordei mais cedo e resolvi ler um pouco antes de começar a trabalhar. Estou curiosa com o capítulo final do livro que venho lendo ao longo da última semana. Concentrada na leitura, percebi com dificuldades que uma voz delicada se dirigia a mim.

- Bom dia! Podemos conversar um pouco?

- Quem está aí? – Estava sozinha em casa e o medo me fez tremer por inteiro. A voz vinha do banheiro e, mesmo apavorada, fui até lá.

- Sou eu. Fui escolhida pelas minhas amigas para falar com a senhora. Afinal de contas, sou a mais antiga da casa.

Era minha toalha de rosto cinza. Era linda, com croché na ponta e um belo bordado em flor feitos pela minha mãe. A idade tirou um pouco de sua maciez, mas continuava sendo utilizada. Aqui em casa, os idosos têm o seu trabalho valorizado, não sendo trocados facilmente por jovens sem experiência. Ainda assustada, respondi com suavidade.

- Olá, que honra poder lhe ouvir. Há anos você me faz companhia e nunca trocamos ideias, não é mesmo? Vocês, Toalhinhas, têm demandas? Não estão sendo bem tratadas?

- Não é sobre isso. Somos muito bem tratadas aqui na sua casa.

Respirei aliviada, pois prezo pelo respeito a todos os seres, inclusive os teoricamente inanimados.

- A gente tem percebido que, ultimamente, a senhora tem nos utilizado em situações e lugares incomuns.

- Como assim?

- Sempre fomos usadas no seu banheiro para o trabalho padrão de uma toalhinha: enxugar mãos e rostos depois de lavados. 

- Continuo sem entender.

- Nos últimos tempos, temos sido deslocadas de função e de lugar. Passamos a lhe acompanhar por toda a casa e a enxugar suas lágrimas. E elas são muitas, viu? A senhora não tem medo de se afogar?

E, antes que eu pudesse respondê-la, continuou:

- Chora por tudo, seja notícia boa ou ruim, se emociona até com o vento, quando ele entra pela janela de um jeito diferente. Falei para as minhas amigas, mais jovens na casa, que a senhora não era assim quando cheguei por aqui.

- Você tem razão. Até o pessoal da família comenta que não sou mais a mesma. A verdade é que passei muito tempo guardando minhas emoções dentro de mim e até adoeci por causa disso.

- Sério? Não sabia que isso podia acontecer. É que não entendo muito desses assuntos de humanos... Acho que nós, seres toalhas, somos mais descomplicados.

- Pois é... É possível sim.

- E, sem querer ser intrometida, como foi que conseguiu mudar?

- Ah, isso foi um longo processo que exigiu persistência e força de vontade. Tive ajuda de pessoas especiais também, sem as quais não teria conseguido. Tenho um profundo sentimento de gratidão por elas.

Ela me escutava com atenção e senti-me à vontade para continuar.

- Quando eu não conseguia externar minhas dores, sentia um aperto no peito e na garganta. Faltava até o ar... De vez em quando, isso ainda acontece, mas sigo em frente. Sempre em frente.

- E as alegrias?

- Acredita que até as manifestações de alegria eram contidas? Faltava vibração, emoção mesmo! Hoje, sinto a alegria percorrendo todo o corpo, é uma delícia! Obviamente, as lágrimas de alegria também não podem faltar, né? – falei sentindo meu rosto ficar vermelho.

E continuei:

- Tenho percebido que sentir é viver! Assim, alegre ou triste, deixo a emoção chegar e se manifestar livremente. Sou mais feliz assim!

A conversa fluiu e não percebi o passar do tempo. Era hora de me despedir, mesmo que o coração pedisse para ficar.

- Adorei estar com você, mas preciso trabalhar. Antes de ir, gostaria de saber seu nome. Estamos conversando há tanto tempo e eu nem perguntei.

-  Chamo-me Cinza em Flor.

- Muito prazer, Cinza em Flor! Saiba que já lhe admirava como profissional e agora ainda mais enquanto “ser toalha”.

- Obrigada! O prazer foi todo meu!

- Ah, uma última perguntinha. Gostaria de saber se este desvio de função tem lhes causado problemas. Não gostaria de causar incômodos a nenhuma das minhas toalhinhas.

- Na verdade, estávamos preocupadas com a senhora. Mas, depois da nossa conversa, fiquei tranquila. Falarei com minhas amigas e tenho certeza de que elas receberão as notícias com alegria. A senhora sabe, né? Quando a gente mora na casa das pessoas, a gente sente afeto por elas.

- Que bom saber disso! – falei com a voz embargada de emoção. As lágrimas não tardaram a escorrer pelo rosto e, olhando para Cinza em Flor, perguntei:

- Posso?

- É claro que sim!

Passei Cinza em Flor delicadamente em meu rosto para enxugar as lágrimas e agradeci a dedicação ao longo dos anos. Amanhã é dia de troca de roupa de banho, é hora de Cinza em Flor se perfumar e repousar. Merecido descanso!

 

 




Áurea Silva de Holanda
: professora do curso de Engenharia Civil da UFC, navega entre a lógica e a poesia, escreve fórmulas matemáticas e contos, desenha geometria e mandalas. Faz da literatura o amor que se expressa na palavra sensível. Integra o Coletivo Insopitáveis de cientistas-poetas, com participação no livro Leveza e Escrita Experimental.

por Lisiane Forte__


Imagem de Stefan Keller, por Pixbay


 

por Valdocir Trevisan__


Jota Camelo/ Apoie: clique aqui

 por Thais Guimarães__

16/07/2021      11:06      Atualizado 


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Equipe médica descartou cirurgia de emergência. Presidente se queixava há dias de dores abdominais e soluços contínuos. Após exames clínicos, laboratoriais e de imagem, os médicos optaram por um tratamento conservador e convocaram os neurolinguistas. Foi identificado que o excesso de declarações escatológicas gerou “um acúmulo de merda” (SIC) no corpo do paciente e que ele precisará se submeter a um tratamento severo de reeducação, envolvendo todos os aspectos neurais, de linguagem e cognitivos, incluindo o difícil aprendizado da empatia para com o povo brasileiro. Segundo especialistas, “a língua é um reflexo do que ocorre no corpo e, por sua vez, o corpo fala”. As manifestações do corpo são regidas por princípios subterrâneos e podem ser afetadas por fatores genéticos. Nesse sentido, identificou-se que, no cérebro do Presidente, há um tipo de microbiota habitada por famílias de vírus letais e desconhecidos que passam pela língua e se manifestam na linguagem. Por isso, esse tratamento está sendo considerado um verdadeiro desafio para a equipe da chamada PNL (Programação Neurolinguística).


 Por outro lado, a junta de psiquiatras, que está avaliando o caso, foi categórica no diagnóstico: há dois transtornos de personalidade evidenciados – antissocial e narcisista – formando um quadro de sociopatia grave e que precisa ser tratado em manicômio após o controle da “merda residual” aderida ao cérebro do paciente, entupindo seus pensamentos.  Isso contraria os peritos criminais, que defendem o julgamento e a prisão imediata, após avaliação e limpeza da “merda”, também, espalhada no âmbito externo.


 Há, ainda, a análise da equipe especializada nas Sagradas Escrituras (nas quais o paciente se ancora), endossando a necessidade de um tratamento conservador inicial, afirmando que o Presidente violou de forma grave o Verbo, chamando para si o julgamento de um Deus vingativo. Pois, segundo os especialistas, o uso indevido do Verbo somado com atos perversos pode provocar reações físicas inesperadas, identificadas pelos crédulos como “castigo divino”. 

 

De todo modo, está evidente que a situação do Presidente é bastante complexa, já que “merda” acumulada é elemento de grande potência obstrutiva, tanto sob o aspecto físico, quanto no plano espiritual.


 Apesar da consistência do tratamento conservador indicado, os céticos defendem que não há remédio e nem cura para o paciente, e que o povo brasileiro precisa tomar diariamente um banho de descarrego para se livrar do encosto.

 









Thais Guimarães, mineira, nascida no Ceará, é poeta e escritora.  Publicou - Jogo de Cintura; - Dez Pretextos para uma noite de solidão; - Jogo de Facas;  - Seis Poemas;  - Notas de Viagem;  - A Poetisa (que ganhou 1º LUGAR NA OFF-FLIP/2019) e  Uma praça chamada Liberdade (escrito em parceria com o poeta Carlos Ávila).  Ganhou um Prêmio Jabuti, em 1988, com o infantojuvenil - Bom Dia, Ana Maria. E publicou, em abril deste ano, o infantil “Senhor Relógio”, com ilustrações de Silvana de Menezes. Desde os anos 1980, coordena, pontualmente, oficinas de escrita para jovens e para professores.  Paralelamente, trabalha no setor do audiovisual, tendo sido coautora do roteiro do documentário “Obra Falada”, que mostra como as pessoas com deficiência visual constroem suas relações com as obras de arte contemporânea.


 

por Taciana Oliveira e Divulgação___

 


 

por Marcela Güther/Divulgação



 

por Adriano B. Espíndola Santos__

 

Jr. Korpa

 

por Divulgação___

 

Fotografia: Leo Silva

 

por Divulgação__

 



 

por Valdocir Trevisan__


Esperança, de Gustav Klimt

 

por Iaranda Barbosa__

 



 

por Rebeca Gadelha__


Ilustração: Rebeca Gadelha