O Mito e o Monstro, Valdocir Trevisan

 por Valdocir Trevisan___


Dick Vigarista e Mutley


O mistério do cotidiano é imprevisível. Não sabemos será a próxima aberração. As tramas e dramas surgem quando menos esperamos. Aliás, esperamos.

 

Como afirma o historiador Will Durant, a história tem caráter, onde a "sociedade é fundada não em ideais, mas na natureza do homem, onde a constituição do homem reescreve a constituição dos países. Mas o que é a constituição do homem?"

 

Qual a constituição de Hitler? Qual a constituição de certos "mitos"?

 

Como definir uma constituição humana de um Hitler? Impossível, a constituição do homem perverso se relaciona com sua natureza, porém nem todos são bons ou maus, não podemos generalizar, nem pelo mal nem pelo bem.

 

O intelecto faz parte da essência humana, tanto para o lado positivo como para o destruidor. Ideias novas surgem, mas poucas, pouquíssimas tem origens de moral acentuada. Os interesses atropelam, e a coletividade do bem vai para o brejo. Estamos num barco onde icebergs ameaçam nossas jornadas e a qualquer momento podem nascer novos paradigmas sem nenhuma obrigação com o próprio conceito.

 

Na história universal sobrevivemos aos monstros, os ditadores, a igreja medieval, - como na série os Bórgias - enfim, já teve de "tudo", e por sorte, a resiliência humana é uma outra grande constituição, caso contrário...

 

E assim vamos convivendo, com agruras, mas também com progressos tecnológicos e, apesar de tudo, e de todos, percebo e creio em avanços espirituais. Apesar deles...

 

Sim, o pior do humano pode explodir nas próximas horas e o terror está à espreita. Não, não estou me referindo às ruas de Londres em 1886, nem ao médico e ao monstro de Robert Louis Stevenson.  Estou em Brasília em 2021, onde o mito(sic), é nosso presidente e o monstro é Ônix Lorenzoni.

 

Dostoiévski, sempre ele, dizia que existem cidades meditativas, como Petersburgo, e outras não meditativas, e acho que um ótimo exemplo poderia ser Brasília, com seus marajás, monstros e mitos.

 

Monstros de todos os tipos.

 

Poderia citar outros monstros, mas vamos ficar com Lorenzoni que "é do bem", com seu caixa 2.

 

Ele é o homem perverso, cria do mito, incapaz de ações (já foi ministro, secretário e acho que atualmente é assessor de elevador) e repete as palavras de seu criador, assim como Hyde segue seu guia, Dr. Jekyll, pois são homens desprezíveis. Quando representa os homens de bem, sente uma saborosa sensação de crueldade impune, e com sua identidade sinistra não se preocupa com seus erros, pois depois é só pedir desculpas. Acha que pode deletar seus erros e configurar memórias extras. Em época de delações, acho que está confundindo e misturando os termos.

 

Afinal, o mito e o monstro dizem que nossas mortes são insignificantes, eles seguem conceitos do Dr. Jekyll, mas não esqueçamos que Dr. Jekyll até assassinou um ilustre opositor. Ainda assim, o verdadeiro monstro é mais honesto, pois o senhor Hyde paga suas contas sem utilizar o caixa 2, enquanto o monstro de Brasília ainda apresenta documentos falsos na CPI das vacinas. É, vivemos dias nebulosos como se estivéssemos em Londres do século XIX.

 

Dois momentos históricos com duas situações trágicas em ambos os séculos, e todos de olho no poder, com sangue se for necessário.

 

 É o capital sanguinário. Dinheiro, dinheiro, dinheiro, o resto...

 

Talvez a ficção explore perversidades de nossa intimidade, sim, afinal somo humanos, porém a ficção de uns difere do cotidiano de monstros, mas tudo bem, tudo se resolve, afinal, basta pedir desculpas pelos "desvios".

 

O horror do Dr. Jekyll obriga a uma vida solitária, ele é assombrado consigo mesmo e não tem controle de suas atitudes.

 

Já em Brasília, o descontrole é geral, um lugar de pessoas de bem que não traz bem para ninguém...somente para eles.

 

Enquanto isso, tenho que controlar o monstro que tenho dentro de mim, porque às vezes dá vontade de...deixa para lá.

 

Mas como digo, monstros, mitos e médicos à parte, somos resilientes.

 

Perseguimos a moral onde ela estiver, pois já nos acostumamos com monstros, marajás e outros elementos históricos.

 

Não vão ser uns monstrinhos a mais que vão sugar nosso sangue. Isso passa. E se estou sendo malvado com os malvados, quem sabe troco a nomenclatura da dupla diabólica para Dick Vigarista e Mutley. Dick Vigarista que já não sabe mais qual a ocupação de Mutley nem sua finalidade.

 

Assim vamos vivendo, com monstros, mitos, marajás, Dick Vigarista, Mutley, senhor Hyde, Dr. Jekyll... Quem pensa que vamos parar por aqui, estão muito enganados. Sempre haverá eleitores, infelizmente, para o Caçador de Marajás II, Mito II, e por aí em diante.

 

Não esqueçam das mídias malditas, né pessoal? Se políticos ditam leis para (seus) direitos, ainda temos Ratinhos, Hulk e outras lideranças nas mídias malditas.

 

E dizer que morei 10 anos na mesma quadra do bar Jekyll, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, onde com dezenas de garrafas de cervejas ou vinhos na cabeça, nunca vi um monstro, muito menos mitos.

 




Valdocir Trevisan
é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui