Livro destaca a Festa de Iemanjá em Fortaleza como patrimônio imaterial e ato político de resistência

 


Livro destaca a Festa de Iemanjá em Fortaleza como patrimônio imaterial e ato político de resistência


A pesquisadora e geógrafa cearense Ilaina Damasceno lança no próximo dia 15 o livro Iemanjá em Mares Verdes, resultado de sua pesquisa de doutorado na Universidade Federal Fluminense (UFF), durante a tradicional Festa de Iemanjá no aterro da Praia de Iracema, em Fortaleza. Celebrada há mais de 50 anos e reconhecida como patrimônio imaterial da cidade em 2018, o evento é analisada pela autora como expressão religiosa, mas também como estratégia política de visibilidade e resistência.


Na data do lançamento, o público poderá acessar a obra gratuitamente por meio de QR codes espalhados em cartazes durante o evento. Com pesquisa de campo realizada entre 2011 e 2019, Damasceno mostra como as religiões de matriz africana transformam o espaço público em palco de afirmação cultural e luta por direitos. “A presença do corpo afro-brasileiro em rituais públicos é uma experiência estético-política que reinventa narrativas e territórios”, afirma.


A obra evidencia que, para além da devoção religiosa à “Grande Mãe”, como é chamada Iemanjá, a festa reforça identidades negras e indígenas no Ceará, articulando ancestralidade, tradição nordestina e performance. Música, gestos e indumentárias são, segundo a autora, maneiras de “fazer política com o corpo”, tornando a celebração um ato de ocupação simbólica e concreta da cidade.


Natural de Quixadá, no sertão cearense, Ilaina cresceu entre práticas católicas populares e referências à Jurema Sagrada. Somente no Rio de Janeiro, onde reside, aprofundou-se na umbanda e no candomblé, experiência que a levou a se tornar cambone em um terreiro. “O processo me transformou pessoal e academicamente, aproximando-me das comunidades de terreiro, cujas vozes ecoam no livro”, conta.


Adaptada para alcançar um público não acadêmico, a obra inaugura uma nova fase no trabalho de Damasceno, que já prepara um segundo livro (previsto para novembro de 2025) reunindo entrevistas com pais e mães de santo organizadores da festa. Para ela, Iemanjá em Mares Verdes é uma contribuição tanto para os estudos geográficos quanto para o movimento negro, ao revelar a força da religiosidade afro-brasileira como instrumento de transformação social.


Sobre a autora

Ilaina Damasceno é doutora em Geografia pela UFF e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde integra o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB). Com trajetória acadêmica focada em relações étnico-raciais e espaço público, atua também como ekedji no Ilê Asé Abraça, no Rio de Janeiro. Seus trabalhos anteriores incluem coletâneas sobre juventude e urbanismo, sempre com enfoque nas dinâmicas culturais e políticas das periferias.