Helianto Negro: do flow à escrita, Didimetamorfose estreia na poesia


Fotos: Instagram do autor

Helianto Negro: poesia que nasceu do rap chega às páginas com obra inaugural de Didimetamorfose


Lançado pela editora Tamba-Tajá, livro do poeta e rapper de Pelotas transforma décadas de rima e resistência em literatura marginal


A potência das ruas, a cadência do rap e a ancestralidade periférica ganham forma em Helianto Negro, livro de estreia de Didimetamorfose, lançado pela editora Tamba-Tajá. Vencedora do edital PNAB Pelotas, a obra marca a estreia literária de um artista concebido nos versos improvisados e nas batalhas de rima do sul do país, agora materializados em poesia escrita, sem perder a urgência da oralidade.


Nascido na comunidade do Areal, Didimetamorfose, aos 13 anos inicia sua trajetória rimando na Praça da Liberdade. Fruto de duas residências artísticas, Helianto Negro é mais do que um exercício de transposição entre linguagens: é a revelação de uma voz que descobre na escrita uma extensão natural de seu flow.


“Descobri que a poesia escrita era também minha expressão. Ela tem o impacto da música e a permanência da reflexão”, afirma o autor.


O título, uma metáfora que atravessa o livro, vem do nome científico do girassol, Helianthus. O autor o ressignifica como símbolo de autonomia e resistência negra: “Não busco refletir o sol alheio. Crio minha própria luz. Sou o girassol negro orientado por um sol interno”, define.


Entre autobiografia, ancestralidade e vivência periférica, os poemas dialogam com saraus, performances e a arte marginal do Rio Grande do Sul, em um gesto estético que desafia os cânones literários e celebra a multiplicidade da arte negra brasileira.


Por que Helianto Negro é leitura essencial em 2025? A obra une oralidade e literatura, traduzindo o rap em poesia gráfica e reflexiva, traz o olhar direto e lírico da periferia pelotense, revelando sua vivência crua e insurgente e reivindica espaço na cena literária para vozes que resistem, performam e transformam a linguagem.


Com edição caprichada da Tamba-Tajá, casa editorial que investe em narrativas enraizadas na identidade e na resistência, o livro está disponível para venda e circulação nacional. A editora também articula entrevistas, recitais performáticos e debates sobre literatura periférica, rap e identidade negra no Sul do Brasil.


Abaixo três poemas do livro:



Eu

Helianto Negro

no escuro ainda preto

não me vejo no espelho

enquanto penso

escrevo

percebo

encontrei na mata

meu sossego

na fauna

bacias hidrográficas

tomei da lava

no copo do vulcão mais quente

comi palavras

cuspi o veneno da serpente


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poema da esquina

segunda de manhã

mais um dia nublado

rima de quebrada

do barro poesia chata

poeta perturbado

corpo e mente em guerra prazer x sabedoria

tendo em mente a saída

e o corpo parado na esquina


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se resume num belo luar

lindo olhar

jeito de ser

perfume de rosas do campo

da terra molhada no amanhecer



Sobre o autor


DIDIMETAMORFOSE é poeta e rapper. Iniciou sua trajetória artística em 2010, escrevendo suas primeiras composições. Dois anos depois, formou com amigos o grupo Metamorfose MCs, gravando e se apresentando em festivais de rap da região. A partir de 2015, seguiu compondo e gravando em parceria com um dos integrantes originais. Em 2016, lançou a mixtape Sujo 100 tema, reunindo faixas inéditas e registros anteriores, consolidando uma trajetória musical mercada por inúmeros fits e singles. Seu álbum PURUSANGUE está disponível nas plataformas digitais. Recentemente, expandiu sua expressão para a palavra escrita, com poemas publicados na Antologia Fogo Lava Água, participando de residências artísticas e festivais literários. HELIANTO NEGRO é seu primeiro livro de poesia e marca mais uma vez a sua voz crítica. Siga no Instagram @didimetamorfose