Monique dos Anjos lança livro que coloca o prazer feminino no centro da narrativa


Monique dos Anjos subverte narrativas coloniais em estreia na Flip


Como escrever sobre o prazer das mulheres sem moralismo, romantização ou colonização? Essa foi a provocação que norteou a estreia literária da jornalista, escritora e consultora em diversidade
Monique dos Anjos. Lançado durante a 23ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no último sábado (2), Nós entre três (Editora Telha, 2025, 124 págs.) reúne catorze contos eróticos que tratam o desejo como um direito e o corpo como território de fricção, memória e liberdade.


Monique propõe uma literatura que rompe com a lógica eurocentrada do casal ideal, dando espaço para mulheres negras, retintas, mães, maduras, inseguras, vaidosas e complexas experimentarem e reivindicarem o gozo em seus próprios termos. “Escrevo porque preciso me ler. Porque durante tempo demais fomos reduzidas a corpos servis, objetos ou ausências”, afirma a autora, que participou da mesa “Ocupação vulva negra” na Casa Poéticas Negras, ao lado de Yasmin Morais e Odalita Alves, com mediação de Noelia Miranda.


O livro conta com prefácio de Caroline Amanda, fundadora da Yoni das Pretas, e comentários de contracapa da pesquisadora Mayumi Sato, conhecida por liderar a maior rede social de sexo do Brasil. Ao abordar o erotismo de forma direta e política, Monique recusa a estética do sexo perfeito e mergulha em experiências ambíguas, às vezes engraçadas, às vezes brutais, sempre centradas na autonomia dos corpos femininos.


Nascida na periferia de São Paulo e hoje residente no interior paulista, Monique é mestre em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp. Já viveu em países como Panamá, Canadá e Alemanha, e atua como consultora de diversidade, além de realizar oficinas antirracistas em escolas da região de Campinas. Suas referências transitam entre a teoria e a experiência corporal, com influências que vão de Audre Lorde, Lélia Gonzalez e Grada Kilomba a Amanda Carolina, Carmen Faustino e Mariah Prado. Com Nós entre três, ela reafirma que o corpo da mulher negra não é apenas campo de luta, mas  também território de prazer, presença e escrita.