por Valdocir  Trevisan__


Steve Cutts

 

por Divulgação___




 

por Divulgação__



 

por Taciana Oliveira__





por Germana Accioly__

 

 




 

por Iaranda Barbosa___


 


 

por Valdocir Trevisan__


Jota Camelo. Para apoiar: clica aqui


Hein? Catábase? O que é isso?  O que significa?

 

Segundo a filósofa Márcia Tiburi esse termo é usado na literatura para lembrar descidas aos infernos, além de se referir à outras "caídas".

 

Márcia fala em humilhação como exemplo de catábase, uma vez que humilhar lembra uma descida ao inferno. É quando o humilhado perde sua voz e dignidade, lembrando a teoria da Comunicação Espiral do Silêncio, uma teoria onde o opressor "obriga" o oponente a ficar quieto, mudo.

 

Como uma catábase silenciosa.

Como as velhas artimanhas da indústria cultural que prendem nossas liberdades e emancipações quando a humilhação restringe nosso cotidiano impondo limites naqueles "tocados ou que serão violados, pois estão na mira", acrescenta Tiburi. E por incrível que pareça, a humilhação está inserida nas famílias, escolas, nas "instituições" de Foucault, e diante tais relações, a catábase revela seu ponto nefasto, trabalhando como controle.

 

Controlando os passos humanos que devem seguir as normas, caso contrário...catábase...tipo assim, controlando minha maluquez....

 

Para não cair, devemos andar no passo certo seguindo as normas ditadas? Deveria responder sim, só que não, ora, é isso que estou querendo dizer, não quero cair em tentação muito menos em catábase.  Porém, temos que ter conhecimento de sua existência, não é mesmo? Pois somente assim poderei ter controle de minha vida, e decidir o que é o certo ou o errado. Eu e somente eu. Claro, com coerência.

 

Para evitar humilhações, o discernimento é fundamental, simples. E nesses entremeios, surge a relação da catábase com a resiliência, palavra da moda, vigente e ativa. Se caímos, rogamos à resiliência.  E se tudo está correndo bem, ótimo, vamos prosseguir companheiro. Porém, estamos passando uma pandemia desgraçada, vivemos um (des)governo que mais parece um hospício, vivemos com crises econômicas, vivemos, vivemos e...sobrevivemos...

 

A catábase vem, mas a resiliência também. As leis da vida estão aí e apesar "deles", amanhã será outro dia.

 

Os paradigmas e conceitos mudam e mesmo com cotidianos líquidos (Bauman), e uma identidade pós-moderna em crise (Stuart Hall), o rei sol vai entrar em nossas casas com sua beleza magnânima. E quando nossas estruturas pedem socorro, forças desconhecidas surgem dos subsolos. Crescemos e amadurecemos à força, literalmente.

 

Quando matamos nossos pais (no sentido figurado), estamos assumindo responsabilidades.

 

Interessante perceber que o conceito catábase ainda não circulou nos milhares de livros de auto-ajuda. Realmente curioso. E catábase não significa catar bases existenciais ou mesmo na nossa linguagem, pois somos humilhados com a imposição dos vocábulos de outros idiomas como: center, tower, etc.

 

Que orgulho do Policarpo Quaresma que desejava um hino nacional em tupi-guarani. As cenas com o recém falecido ator Paulo José permanecem em minha mente como refúgio das identidades latinas.

 

São violências culturais originárias desde a nossa descoberta no século XVI, onde "vivemos desde então, o paradoxo de sermos definidos por palavras que não nos representam", acrescenta Márcia Tiburi. Quase um caos em nossa identidade onde a liquidez nos deixa à deriva. E a catábase nos leva aos quintos dos infernos dos imperialismos e opressões. Como a Revolução Industrial, sim, a Revolução do "Progresso" que massacrou a massa trabalhadora.  Deixo como exemplo para leitura “Germinal”, de Émile Zola, um drama humano.

 

Também me vem à cabeça o "divertsement" de Pascal: para fugir de nossos sofrimentos buscamos alegrias com alegorias. Fugas como jogos e vícios para "afastar" nossas misérias humanas. Para amenizar nossas descidas ao inferno, apelamos a famosa resiliência com doses de fé como se fôssemos Jó.

 

A "Queda" de Camus é referência para outras descidas de ladeiras. No romance o narrador, Jean-Batist Clemenc, se se isola ao presenciar, e não fazer nada para impedir, um suicídio no Rio Sena. Clemence sofre com sua culpa, escutando o grito do suicida como uma verdadeira...catábase.

 Quem não sentiu tais sentimentos em suas vidas atribuladas?


Clemence espera um milagre quando diz:  "ó jovem, atira-se de novo no rio, para que eu possa salvar sua vida..."

 

Infelizmente, muitas situações de nossas vidas não oferecem uma segunda oportunidade. 

A catábase está à espreita esperando nossos erros. Pelo menos na literatura.

 

   Ou não...






Valdocir Trevisan
é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui

 

por Dias Campos__


Street art: Banksy

 

Divulgação/BoniPeixe – Comunicação e Fotografia

 


 

por Isabela Sancho__




 

por Divulgação/Marcela Güther



 

por Divulgação__

 


 

por Divulgação/ Marcela Güther

 


 

por Íris Cavalcante___


Jr Korpa


 por Adriano B. Espíndola Santos__


Jr Korpa

 

por Adriane Garcia___

 



 

por Taciana Oliveira___

 

 por Valdocir Trevisan__

 


 por Taciana Oliveira__


Fotografia de IssaK Alexandre KaRslian





 Afã

 

Olhou para o Sol

mas viu a noite dos dias

 

Olhou para a Lua

mas viu o eclipse das noites

 

O que lhe atravessava

chegava lhe quadriculado

desde a pequena infância

 

Quando se descobria ao lado

do marido era puro afã

por liberdade tomada à força

sob tiros opressores do talibã

 

O sol a lua os tiros ela-objeto

Era o que ela era- Era após Era

uma menina uma mulher afegã

 

Assim acordava

Assim dormia

Coberta por telas

em seu jazigo

 

Na esperança

de um outro amanhã

de aquarelas para ela

mãe irmã amigas e

seus muitos filhos.    



*poesia selecionada para a coletânea “Por elas”. Do Mulherio das Letras para as mulheres afegãs 2021


 

Via Láctea

 

Pisaram em nosso jardim

Queimaram

Derrubaram

A centenária araucária

A jojoba a aroeira o jasmim

 

O desrespeito com  as gentes

A fome volta dando lugar ao pasto- capim

Aqui.  Ali. Por imensos canteiros brasis.

 

Povos ancestrais lutam contra o fogo

Pré posto ao som do choroso sabiá laranjeira

 

Pisaram a mata arrancaram flores

Sob a força das armas de festim

 

A procura é por ouro o porco dinheiro

Enquanto o aroma do sândalo e da cidreira

Cedem sua vez dando lugar ao chumbo e ao carbono.

 

O prato principal sobre a mesa de madeira

É  a morte ceifadora ao céu de Marte na via

Crucis orquestrada pelo capital: a.p.o.r.t.e.

 

Só a via Láctea vê que a Terra  incandescera...

 


*selecionado pelo concurso Vivara novos poetas, 2020






Sílvia Schmidt nasceu em São Paulo mas morou no Nordeste e Sul do Brasil. Desde que deixou Florianópolis em 2000 transformou-se em uma verdadeira nômade digital, explorando novas cidades, países e culturas, sempre em busca de liberdade, independência e inspiração. É graduada em Letras- Português Inglês e respectivas Literaturas/Fatea. Especialista em Comunicação e Semiótica na PUC/SP, Sociologia e Política/ USP, e Ontopsicologia em SC. Ministrou aulas de Literatura Brasileira por quase 20 anos. Obras publicadas: Duty Free ( romance I (2000), Made in Brasil : romance II ( 2019), Circunstâncias-uma polifonia do pensar: poesia(2018), Baladas para ou um caderno de passagens do mal: poesia( 2017), Palavras sem Fronteiras: coletânea 2017/8, Encontros: uma cartografia do tempo; contos (2012).






Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.


 

 

por Taciana Oliveira__