A vida pela notícia


por Felipe Rocha___





O horror da guerra afeta a vida das pessoas de forma destrutiva,  provocando dores, traumas e mortes. As consequências são diversas, mas só é possível entender e conhecer sua dimensão graças aos profissionais de comunicação que arriscam suas vidas, trabalhando no meio do caos, mostrando ao mundo as catástrofes provocadas por esses conflitos. É essa triste realidade que o jornalista Hernán Zin quis apresentar em sua obra A Vida Pela Notícia, que como o próprio título já diz, vidas são abdicadas para trazer informação e conscientização ao mundo sobre as guerras.

Em 2012, Hérnan Zin sofre um ataque de pânico em um carro do exército americano, enquanto cobre uma intervenção no Afeganistão, evidenciando  que o peso dos vinte anos  atuando na cobertura de guerras podem resultar no desgaste psicológico de um profissional experiente. 

A partir desse acontecimento, ele decide não mais trabalhar da mesma forma. Anos mais tarde, Hérnan tem a ideia de documentar o quanto é traumático viver à beira da morte, todos os dias, em um campo de batalha. O filme apresenta depoimentos de vários jornalistas, fotojornalistas e cinegrafistas que vivenciaram coberturas de conflitos em vários lugares do mundo: Iraque, Sudão, Afeganistão, Síria, entre outras nações. Eles relatam experiências diante da crueldade da guerra, a perda de amigos e familiares, além dos sequestros e torturas aplicadas por grupos terroristas. Os sequestros são a prova de que organizações e grupos como Al Qaeda não suportam a presença dos jornalistas. Essas organizações os tratam como uma ameaça, pois esses profissionais são os responsáveis por divulgar as atrocidades cometidas nos conflitos, revelando localizações e tornando público o que deve ser mantido em segredo para o resto do mundo. 

A perversidade dessas pessoas se reconhece  na falta de compaixão, revelando o quão terrível o ser humano pode ser. Além de sequestrar, torturar e matar jornalistas, esses grupos são responsáveis por atentados a bombas em cidades, matando, mutilando e ferindo milhares de pessoas inocentes, incluindo crianças e idosos.




A preocupação com os entes queridos é algo recorrente na maior parte dos depoimentos. É angustiante para cada um dos entrevistados pensar na dor que podem proporcionar  a seus familiares e amigos, no caso  de acontecer alguma fatalidade. Por esse motivo alguns profissionais abandonam o ofício, enquanto outros continuam, porque não conseguem trabalhar de outra maneira. 
A falta da adrenalina, presente nas ações de combate e guerrilhas, é algo que a maioria dos correspondentes não conseguem superar. Apesar das tentativas de distanciamento, em prol de uma qualidade de vida familiar, há ocorrências de problemas de depressão e crises de ansiedade. 

Um dos pontos importantes do documentário é a exposição dos problemas psicológicos motivados pela convivência com a guerra. Os entrevistados relatam que nunca mais foram os mesmos depois de passarem por tantas experiências e assistirem a tanto sofrimento. Estresses pós-traumáticos, depressão, angústia extrema, ansiedade, ataques de pânico são alguns dos problemas que afetam esses profissionais.

A importância dessa obra é inconteste. Ela não só apresenta histórias, relatos e sobreviventes, como também, homenageia grandes nomes do jornalismo, que foram assassinados em meio ao horror dos campos de batalha. São profissionais, que inicialmente, se arriscam para trazer informação, mas acabam conhecendo e se envolvendo com a atmosfera que os cercam. Assim, o trabalho ultrapassa os limites da comunicação. Fazer algo pela população também faz parte dessa jornada, o que torna tudo isso algo inspirador.
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Felipe Rocha é aluno do 7° Período de Publicidade da Faculdade ESM FAMA. Esta resenha foi escrita para o Seminário Narrativas Visuais: Uma Introdução ao Conceito e Formatos do Gênero Documentário, produzido para a disciplina Redação Publicitária TVC.