Hannah Arendt - Ideias Que Chocaram o Mundo | Resenha

 por João Oliveira Melo | 



Hannah Arendt — Ideias Que Chocaram o Mundo, da cineasta alemã Margarethe von Trotta (Hanna Arendt, 2012), filme coproduzido internacionalmente pela Alemanha, França e Luxemburgo, estreou globalmente em cinco de julho de 2013. O longa narra o itinerário da filósofa política judia Hannah Arendt ao acompanhar o julgamento do nazista Adolf Eichmann em Jerusalém, e escrever voluntariamente um artigo para a revista norte-americana The New Yorker. Eichmann, personagem envolvido no holocausto, responsável pela organização, identificação, reunião e o transporte de judeus para campos de concentração e câmaras de gás, foi capturado em onze de maio de 1960 por uma equipe  israelense da agência de inteligência de Israel (Mossad), na Rua Garibaldi, subúrbio de Buenos Aires, quando estava foragido na Argentina após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Hanna Arendt acompanha o julgamento e conclui que o criminoso de guerra não era o “demônio encarnado”, mas uma pessoa comum, medíocre e burocrata que não possuia pensamento critico e só obedecia às autoridades. Esses eventos inspiraram a filósofa a criar o conceito da banalidade do mal, onde o individuo comete atos hediondos sem intenção, reflexão, mas por serem consideradas ações mundanas e cotidianas no ambiente onde vive. Tanto o conceito quanto a crítica dirigida aos líderes dos conselhos judaicos, que colaboraram com os nazistas na execução do plano final, provocaram intensas reações: críticas públicas, telefonemas furiosos, desavenças com amigos, ataques, pré-julgamentos e até mesmo suspeitas de que Hannah Arendt fosse, secretamente, simpatizante do nazismo.


O filme aborda suas relações pessoais, incluindo a amizade com diversas figuras, a convivência com o marido Heinrich Blücher (poeta e filósofo), referências à sua experiência em um campo de concentração francês e lembranças do envolvimento amoroso com seu professor e mentor Heidegger, que aderiu ao partido nazista em 1933. Há recortes originais do julgamento de Adolf Eichmann,enjaulado” em uma cela de vidro. Nessas sequências há diversas citações de figuras importantes daquela época, mas que em algum momento da narrativa podem passar por despercebidas e causar confusão ou descontextualização. 


Indicado para quem deseja compreender a origem e o conceito da banalidade do mal, que revela de que maneira indivíduos podem aceitar e até participar de atos cruéis quando deixam de refletir, questionar e passam a seguir cegamente quem detém o poder. É também uma forte referência para o entendimento de muitos dos conflitos atuais do nosso mundo. Destaco aqui a interpretação da atriz alemã Barbara Sukowa, que entrega uma Hannah Arendt, com imperfeições e contradições, mas sobretudo humana.


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João Oliveira Melo é natural de Recife. É aluno do sexto período do Curso de Ciências Sociais (UFRPE).