Vitória Gomes lança livro que denuncia apagamento histórico das mulheres
Quem decide o que é memória? Essa é a pergunta central que move a pesquisadora da Universidade Federal do Cariri (UFCA) Vitória Gomes em sua nova obra Por que nos querem esquecidas? Patrimônios, matrimônios e a descolonização da memória (Editora da Universidade Estadual do Ceará, 2025, 290 págs.). O livro, fruto de sua tese de doutorado, mas atualizado com pesquisas recentes, expõe como o patriarcado e a violência de gênero moldaram políticas de esquecimento que invisibilizam ainda hoje as mulheres, sobretudo negras, indígenas, periféricas, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência.
O ponto de partida da reflexão de Gomes foi a própria etimologia da palavra patrimônio, que remonta ao termo latino pater familias, associado à transmissão de bens por linhagem masculina. A pesquisadora questiona: como um conceito criado a partir do poder patriarcal se tornou a base para definir o que deve ser preservado como memória coletiva? Uma inquietação, que nasce também de sua vivência familiar marcada por histórias de mulheres exploradas e com pouca escolarização, guia a crítica ao que ela chama de “memoricídio” — o apagamento sistemático da memória feminina, paralelo ao feminicídio como forma de extermínio.
No livro, Gomes sustenta que a exclusão das mulheres na história não é acidental, mas parte de uma política de dominação. Para ela, pensar a memória é também um ato de resistência. “O feminicídio atenta contra a vida, enquanto o memoricídio retira das mulheres seu lugar como sujeitas da história”, afirma. A proposta não é abandonar as políticas patrimoniais, mas ampliá-las para contemplar práticas, saberes e culturas produzidas pelas mulheres, reconhecendo-as como protagonistas da história.
Nascida em Brasília e criada entre Goiás e Ceará, foi no Cariri, terra de sua família materna, que ela reencontrou práticas tradicionais e afetos que serviram como base para sua pesquisa. Ao relacionar vivências pessoais com análise crítica, a obra constrói uma narrativa que é tanto acadêmica quanto afetiva. Além do lançamento, Vitória Gomes promove o curso online Por que nos querem esquecidas? Patrimônios e matrimônios em conceitos e disputas, com início em 20 de outubro. Voltado a estudantes, artistas, pesquisadores e interessados no tema, o curso terá bolsas destinadas a pessoas negras, indígenas, trans e PCDs, reforçando o compromisso com a democratização do acesso ao debate.A publicação é um chamado à reflexão sobre qual memória e identidade queremos construir como sociedade. Para Vitória, incluir as vozes das mulheres é fundamental não somente para reparar injustiças históricas, mas também para propor novas formas de pensar o futuro.
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FICHA TÉCNICA
Livro: “Por que nos querem esquecidas? Patrimônios, matrimônios e a descolonização da memória”
Autora: Vitória Gomes
Número de páginas: 290
ISBN: 978-65-83910-14-1
Gênero: Não-Ficção
Editora: coleção Territórios da Criação, da Editora da Universidade Estadual do Ceará
Ano: 2025
Vitória Gomes é professora, pesquisadora e brincante. Integra o grupo de Coco São Francisco de Mestre Dodô e Mestre Joãozinho, em Juazeiro do Norte (CE). Doutora e mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), é professora na Universidade Federal do Cariri (UFCA), onde coordena o grupo de pesquisa SABERES. Em 2025, iniciou seu pós-doutorado em Comunicação Social na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), investigando memórias e saberes de mulheres no Programa de Saberes Tradicionais. Sua trajetória acadêmica e pessoal é profundamente marcada pelas culturas populares e pela luta contra o apagamento das memórias femininas.
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