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Gilberto Salvador – Geometria Visceral, mostra que revisita seis décadas de criação e apresenta obras táteis

Foto: Henrique Luz

Paço Imperial inaugura “Gilberto Salvador – Geometria Visceral”, mostra que revisita seis décadas de criação e apresenta obras táteis


O Paço Imperial inaugura, no dia 9 de dezembro de 2025, a exposição “Gilberto Salvador – Geometria Visceral”, trazendo ao público carioca um panorama abrangente da fase mais recente do artista paulistano — que não expõe no Rio de Janeiro há 17 anos. Com curadoria de Denise Mattar, a mostra reúne cerca de 40 obras, entre pinturas, esculturas e vídeos, ocupando os três salões do segundo pavimento do espaço cultural. Figura essencial da arte contemporânea brasileira, com mais de seis décadas de trajetória, Gilberto Salvador articula neste conjunto uma síntese sensível entre rigor geométrico, impulso orgânico e intensa pesquisa material. O artista, que convive desde cedo com dificuldades de locomoção devido a uma paralisia infantil, criou duas esculturas táteis especialmente para esta exposição, permitindo que visitantes experimentem suas formas com as mãos. “Acho fundamental o público ter essa experiência”, afirma.


A curadora destaca que a obra de Salvador permanece pouco conhecida no Rio, em grande parte devido às limitações físicas do artista — cadeirante — e ao seu desinteresse em enfatizá-las. Por isso, considera esta mostra “uma oportunidade rara” de contato com a produção de um nome decisivo da arte paulista, hoje em plena maturidade criativa. Embora focada na produção atual, a exposição abre com peças emblemáticas dos anos 1960 e 1970, como “Viu…!” (1968), que confronta simbolicamente a ditadura militar. Denise Mattar ressalta que, desde cedo, o artista soube mesclar “a racionalidade construtiva” à pulsação orgânica das formas, construindo uma poética marcada pela cor, pela denúncia e pelo gesto político.


Gilberto Salvador_Arco Verde_2023_acrílica sobre madeira_Foto Gil Salvador


A diversidade de materiais,acrílico, metal, tintas, objetos encontrados, elementos da construção civil,  refletem sua formação em arquitetura e urbanismo, e reverbera em trabalhos que exibem recortes, fragmentações e cromatismos intensos, inspirados tanto na paisagem brasileira quanto no imaginário popular e na mitologia indígena. “O Brasil tropical é colorido; a nossa flora é colorida”, afirma o artista.


A exposição organiza conjuntos de obras por blocos temáticos. Entre eles, destaca-se uma série de paisagens recortadas do Rio de Janeiro, que incluem representações dos Dois Irmãos, Pão de Açúcar e Saco do Mamanguá, dialogando com registros de Thomas Ender no século XIX.


Outro conjunto remete à memória gráfica das piscinas, com quadriculados que evocam azulejos e geram tridimensionalidade a partir de recortes em madeira. Há ainda nove obras amarelas em caixas de acrílico que combinam elementos como prumos, bolas de tênis pintadas e placas de chumbo marteladas, um repertório que expande os limites entre pintura, escultura e objeto.


O uso de um tipo especial de acrílico que polariza a luz dá origem a trabalhos que parecem emanar luminosidade interna, exibidos em uma sala escura que evidencia o efeito óptico. Vídeos sobre o processo criativo do artista completam o percurso, apresentando obras que não estão na mostra, como aquarelas feitas com café e gravuras em metal. Gilberto Salvador  é um criador inquieto, capaz de articular memória, técnica e sensibilidade em uma obra onde a geometria nunca se separa da pulsação do gesto, uma estética construída entre o cálculo e o instinto, entre a dureza da matéria e a vibração simbólica da cor.


Gilberto Salvador_Sem título_2024_acrílica sobre madeira_Foto Gil Salvador


SOBRE O ARTISTA


Gilberto Salvador (São Paulo, 1946) é formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (FAU/USP). Dentre suas principais exposições individuais, destacam-se “Água + Forte” (2017), no Museu de Arte Contemporânea de Campinas Jose Pancetti (MACC), em Campinas – SP; “Dois momentos” (2013), na Pinacoteca do Estado de São Paulo; “Gênesis” (2009), no Museu da Casa Brasileira (MCB), em São Paulo, SP; “Reflexões Visuais” (2006), na Galeria de Arte do SESI, no Espaço Cultural da FIESP, em São Paulo, SP; “O Reino Interior” (2001), na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em São Paulo, SP, e no Museu Alfredo Andersen, em Curitiba, PR; “30 Anos de Pintura” (1995), no Museu de Arte de São Paulo (MASP); “História natural do Homem Segundo Gilberto Salvador” (1985), no Museu de Arte de São Paulo (MASP), em São Paulo, SP.  

 

SOBRE A CURADORA


Denise Mattar crítica de arte e uma das mais respeitadas curadoras do país. Atuou em instituições como o Museu da Casa Brasileira (SP), o MAM-RJ e o MAM-SP, além de assinar retrospectivas de Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Portinari e Alfredo Volpi, várias premiadas pela APCA. Recentemente conduziu projetos de destaque como Armorial 50 (CCBB) e Nossos Brasis (Caixa Cultural) reafirmando seu papel como referência em exposições que unem rigor histórico e sensibilidade contemporânea.


 

Serviço: Gilberto Salvador – Geometria visceral

Abertura: 9 de dezembro de 2025, das 15h às 19h

Exposição: até 1º de março de 2026

Centro Cultural do Patrimônio Paço Imperial [2° pavimento]

Praça XV de Novembro, 48 – Centro – Rio de Janeiro – RJ

Terça a domingo e feriados, das 12h às 18h.

Entrada gratuita

Curadoria: Denise Mattar

Patrocínio: Itaú

Produção: Tisara Arte Produções