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Por Rebeca Gadelha__
Curadoria por Taciana Oliveira__
Esta zine surge da necessidade de movimento e da impossibilidade de continuarmos a ocupar as ruas, muros e repartições com arte, transportamos esta ocupação para o mundo digital. A proposta aqui é trazer a arte de isolamento para isolamento a fim de nos manter conectados não apenas com os outros, mas com nós mesmos. Dito isso, é traremos vários autores e autoras que, com seus versos, prosas, fotografias ou ilustrações nos falem sobre a poesia que (in)existe nesses dias em que quase esquecemos como é estar do lado de fora.
Rebeca Gadelha
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Fabrício Saldanha é Engenheiro Eletricista formado pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Observador do cotidiano, Rpgista, cinéfilo e participante de grupos de estudo de roteiro de cinema. Possui em seu currículo literário participação na antologia Paginário (Aliás Editora, 2019). Escreve atualmente em seu blog que se intitula Deturpadamente e possui um ig literário com o mesmo nome.
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Rebeca Gadelha nasceu no Rio em agosto de 1992, cresceu em Fortaleza, na companhia dos avós. Geógrafa sem senso de direção, artista digital, é apaixonada por animes, mangás, games e chá gelado. Tem medo de avião e a única coisa que consegue odiar de verdade é fígado. Foi responsável pela diagramação, ilustrações e concepção visual em Manifesto Balbúrdia Poética: 80 tiros (CJA Editora), Coordenação, Designer e ilustrações em Laudelinas (Editora Nada Estúdio Criativo), participa da coletânea Paginário, publicada pela Editora Aliás. Atualmente escreve para as revistas do Medium Ensaios sobre a Loucura e Fale com Elas sob o pseudônimo de Jade.
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Taciana Oliveira é mãe de JP, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.
Por Rebeca Gadelha__
Curadoria de Taciana Oliveira
Curadoria de Taciana Oliveira
Esta zine surge da necessidade de movimento e da impossibilidade de continuarmos a ocupar as ruas, muros e repartições com arte, transportamos esta ocupação para o mundo digital. A proposta aqui é trazer a arte de isolamento para isolamento a fim de nos manter conectados não apenas com os outros, mas com nós mesmos. Dito isso, é traremos vários autores e autoras que, com seus versos, prosas, fotografias ou ilustrações nos falem sobre a poesia que (in)existe nesses dias em que quase esquecemos como é estar do lado de fora.
Rebeca Gadelha
Rebeca Gadelha
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Rebeca
Gadelha nasceu no Rio em agosto de 1992, cresceu em Fortaleza, na
companhia dos avós. Geógrafa sem senso de direção, artista
digital, é apaixonada por animes, mangás, games e chá gelado. Tem
medo de avião e a única coisa que consegue odiar de verdade é
fígado. Foi responsável pela diagramação, ilustrações e
concepção visual em Manifesto Balbúrdia Poética: 80 tiros
(CJA Editora), Coordenação, Designer e ilustrações em
Laudelinas (Editora Nada Estúdio Criativo), participa
da coletânea Paginário,
publicada pela Editora Aliás. Atualmente escreve para as
revistas do Medium Ensaios sobre a Loucura e Fale com Elas
sob o pseudônimo de Jade.
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Taciana
Oliveira é mãe de JP, cineasta, torcedora do Sport Club do
Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e
literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do
abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.
por Rebeca Gadelha___
Curadoria: Taciana Oliveira
Esta zine surge da necessidade de movimento e da impossibilidade de continuarmos a ocupar as ruas, muros e repartições com arte, transportamos esta ocupação para o mundo digital. A proposta aqui é trazer a arte de isolamento para isolamento a fim de nos manter conectados não apenas com os outros, mas com nós mesmos. Dito isso, é traremos vários autores e autoras que, com seus versos, prosas, fotografias ou ilustrações nos falem sobre a poesia que (in)existe nesses dias em que quase esquecemos como é estar do lado de fora.
Rebeca Gadelha
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Tito
Leite (Cícero
Leilton) nasceu em Aurora/CE (1980). É autor do livro de poemas
Digitais do caos
(Edith,
2016) e Aurora de Cedro (Editora
7Letras,
2019). Poeta e
monge beneditino, é mestre em Filosofia pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte. Curador da Revista
Gueto.
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Rebeca
Gadelha nasceu
no Rio em agosto de 1992, cresceu em Fortaleza, na companhia dos
avós. Geógrafa sem senso de direção, artista digital, é
apaixonada por animes, mangás, games e chá gelado. Tem medo de
avião e a única coisa que consegue odiar de verdade é fígado. Foi
responsável pela diagramação, ilustrações e concepção visual
em Manifesto Balbúrdia
Poética: 80 tiros (CJA
Editora),
Coordenação,
Designer e ilustrações em
Laudelinas (Editora
Nada Estúdio Criativo),
participa
da coletânea Paginário,
publicada
pela Editora Aliás.
Atualmente
escreve para as revistas do Medium
Ensaios sobre a Loucura
e Fale com Elas sob
o pseudônimo de Jade
.
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Taciana Oliveira é mãe de JP, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.
por
Rebeca Gadelha__
Artista: Asteroid |
Tenho
(re)visitado essas memórias até se tornaram lugar-comum,
revisito-as com uma xícara de chá, como se me preparasse para algo:
poderia ser o começo de um novo dia, o fim de uma fase, o meio de
qualquer coisa que já passou da hora de terminar. Quando criança,
costumava dizer “meu pai caiu no mar e um navio passou por cima”
era a explicação infantil para justificar o descaso da ausência.
Alguns anos depois, mamãe me disse, com uma voz macia, que meu pai
vinha me visitar — e então meu mundo virou do avesso — então
ele não havia caído no mar, se perdido entre o infinito de água
acima e abaixo, mas estava lá em algum lugar e finalmente este lugar
seria perto de mim. “Ele quer te conhecer” e foi assim que se
começou o processo de idas e vindas, sem permanências. Conto nos
dedos suas visitas e suas promessas — quero ter contato com você,
dessa vez vai ser diferente — já na terceira vez que mamãe
anunciou com a mesma voz macia a visita deste ser distante, eu disse
“NÃO” e somente vovó me convenceu do contrário, ao que parece,
avós tem um certo jeito para convencer pessoas. Nada foi diferente,
tudo ficou no lugar, exceto a criança em mim, que deslocava-se cada
vez mais para algum lugar estranho, as somas de decepção minando
aquela vontade de ser completa, aquela nostalgia pelo o que não
existia.
Veio-se
então a vez que seria a última — e dentro de mim acredito que já
sabia — porque agora seria diferente, porque eu já tinha 20 anos e
éramos adultos, poderíamos falar sinceramente um com o outro, abrir
o jogo sobre questões do passado, lavar a roupa suja que se
amontoara nos quartos escuros. Não houve sinceridade que bastasse,
nem todo a roupa suja foi lavada, talvez fosse preciso todas as águas
do mundo para isso, talvez bastasse um pouco mais de vontade. O fato
é que sabia que ele não ficaria, não importava o que fosse dito e
que, sabendo disso, fosse melhor que fosse embora para sempre e
sumisse de uma vez. Continuaríamos como dois estranhos: ele como um
nome na certidão de nascimento e eu como um nome no imposto de
renda. Uma relação de ausências convenientes, principalmente para
ele — que ainda recebe descontos aqui e ali do leão por me
declarar como dependente. Alguns trocados por mês para poupar o que
o dinheiro não compra: tempo.
Este
texto é parte da série Reminiscências, que narra a tentativa de
uma garota de recuperar parte da história de sua família a fim de
compreender a si mesma. Clique aqui
para ler o prólogo.
Rebeca
Gadelha
nasceu no Rio em agosto de 1992, cresceu em Fortaleza, na companhia
dos avós. Geógrafa sem senso de direção, artista digital, é
apaixonada por animes, mangás, games e chá gelado. Tem medo de
avião e a única coisa que consegue odiar de verdade é fígado. Foi
responsável pela diagramação, ilustrações e concepção visual
em Balbúrdia, participa da coletânea Paginário,
publicada pela Editora
Aliás.
Atualmente escreve para as revistas do Medium Ensaios
sobre a Loucura e
Fale
com Elas sob
o pseudônimo de
Jade
.
por
Rebeca Gadelha__
Artista: Smile |
Horácio
veio do Norte com seu irmão, deixou na floresta um outro,perdido à
beira de um rio, apenas a espingarda deixada para trás. Na cidade ao
lado da capital comprou umas terras num povoado, fez um sítio,
casou-se com Chiquita, viveu da terra, dos bichos, teve filhos e
filhas — todos os nomes começavam com a letra M . Dizem estes que
Horácio ajudou a construir a cidade, hoje nada resta dele além de
uns poucos papéis na secretária de planejamento: Horácio é apenas
um nome que se perdeu, dentre tantos outros, no meio da história de
uma cidade — como tantas outras — que cresceu engolindo gente.
por
Rebeca Gadelha__
Artista:
kirisawa Juuzou
Isto
é o que sei (e não é muito):
Os bisavós teriam fugido para casar, bisavó teria morrido poucos anos depois, “doença” era tudo que vovô dizia; bisavô a seguiu pouco depois, o corpo precipitando-se de encontro à via férrea — se o fim foi proposital ou acidental, isto não o sei, vovô também nunca disse e só agora começo a desconfiar da veracidade desses fatos. Segundo vovô seus pais haviam fugido da Europa para o Brasil, pois os pais de seus pais eram contra o casamento, o que o avô (homem do qual eu nunca soube o nome) de meu avô fazia no Brasil na época da morte de seu filho eu nunca soube, também nunca questionei até este momento. O fato é que meu avô acabou indo morar com o pai de seu pai, um homem duro do qual ele nunca falava o nome. Falava da fome, das surras, das picadas de escorpiões, mas nunca o nome dele. Seus irmãos foram todos desbaratados em uma geografia incerta: alguns ficaram com os tios, outros com os avós maternos e somente um irmão — que tinha exatamente o mesmo nome do pai — juntou-se a ele na infelicidade de ser criado pelo avô paterno. Aos 15 anos meu avô e seu irmão falsificaram documentos e entraram para as forças armadas, era a década de 1940, num estado abandonado por deus e pelo estado como o Ceará, as opções eram poucas: mendicância, crime, tentar a sorte em Fortaleza e, se falhar, cair nas duas primeiras alternativas. Ouvi isso direta ou indiretamente de alguns dos poucos colegas militares que conheci, também ouvi dos filhos de outros, que encontrei por aí: “naquela época era a alternativa mais honrada para não morrer de fome”. Honrada ou não, foi a alternativa que meu avô escolheu, juntou-se à Marinha ainda antes de 1950 e os frágeis laços que tinha com sua família foram se desfazendo. Quando estava no mar — ou antes de viagens que sabia ser longas — depositava todo o ordenado para a esposa e o confiava ao bom senso da mulher, sem nunca saber se realmente voltaria. Já quando nasci, na década de 1990, só lembro de um cartão postal de minha tia-avó, enviado dos Estados Unidos, uma casa coberta de neve em uma rua qualquer, palavras de saudade que não esperavam resposta. Nunca soube muito da família de vovô: havia dois primos padres, um sobrinho era pistoleiro, a irmã perdera o útero para um câncer, outra estava nos EUA (talvez até fosse esta a do câncer), mas vovô nunca realmente se explicava, de forma que ele próprio parecia mais uma lacuna do que homem.
Os bisavós teriam fugido para casar, bisavó teria morrido poucos anos depois, “doença” era tudo que vovô dizia; bisavô a seguiu pouco depois, o corpo precipitando-se de encontro à via férrea — se o fim foi proposital ou acidental, isto não o sei, vovô também nunca disse e só agora começo a desconfiar da veracidade desses fatos. Segundo vovô seus pais haviam fugido da Europa para o Brasil, pois os pais de seus pais eram contra o casamento, o que o avô (homem do qual eu nunca soube o nome) de meu avô fazia no Brasil na época da morte de seu filho eu nunca soube, também nunca questionei até este momento. O fato é que meu avô acabou indo morar com o pai de seu pai, um homem duro do qual ele nunca falava o nome. Falava da fome, das surras, das picadas de escorpiões, mas nunca o nome dele. Seus irmãos foram todos desbaratados em uma geografia incerta: alguns ficaram com os tios, outros com os avós maternos e somente um irmão — que tinha exatamente o mesmo nome do pai — juntou-se a ele na infelicidade de ser criado pelo avô paterno. Aos 15 anos meu avô e seu irmão falsificaram documentos e entraram para as forças armadas, era a década de 1940, num estado abandonado por deus e pelo estado como o Ceará, as opções eram poucas: mendicância, crime, tentar a sorte em Fortaleza e, se falhar, cair nas duas primeiras alternativas. Ouvi isso direta ou indiretamente de alguns dos poucos colegas militares que conheci, também ouvi dos filhos de outros, que encontrei por aí: “naquela época era a alternativa mais honrada para não morrer de fome”. Honrada ou não, foi a alternativa que meu avô escolheu, juntou-se à Marinha ainda antes de 1950 e os frágeis laços que tinha com sua família foram se desfazendo. Quando estava no mar — ou antes de viagens que sabia ser longas — depositava todo o ordenado para a esposa e o confiava ao bom senso da mulher, sem nunca saber se realmente voltaria. Já quando nasci, na década de 1990, só lembro de um cartão postal de minha tia-avó, enviado dos Estados Unidos, uma casa coberta de neve em uma rua qualquer, palavras de saudade que não esperavam resposta. Nunca soube muito da família de vovô: havia dois primos padres, um sobrinho era pistoleiro, a irmã perdera o útero para um câncer, outra estava nos EUA (talvez até fosse esta a do câncer), mas vovô nunca realmente se explicava, de forma que ele próprio parecia mais uma lacuna do que homem.
Morreu
e hoje não sei nada sobre ele. Sei que me recitava poesia e falava
sobre universos alternativos e radiação, falava sobre psicologia e
mediunidade (era espírita, creio eu), suas únicas palavras sobre a
ditadura eram sempre “entrava gente para nunca mais sair”. me
pergunto se teria adiantado inquirir, investigar esses fatos de
verdades dilaceradas que vovô sobre si, creio que não. Vovô sabia
guardar segredos.
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Rebeca
Gadelha
nasceu no Rio em agosto de 1992, cresceu em Fortaleza, na companhia
dos avós. Geógrafa sem senso de direção, artista digital, é
apaixonada por animes, mangás, games e chá gelado. Tem medo de
avião e a única coisa que consegue odiar de verdade é fígado. Foi
responsável pela diagramação, ilustrações e concepção visual
em Balbúrdia, participa da coletânea Paginário, publicada pela
Editora Aliás. Atualmente escreve para as revistas do Medium Ensaios
sobre a Loucura e Fale com Elas sob o pseudônimo de Jaded.
por Rebeca Gadelha__
Link para download da edição completa do Manifesto: Manifesto Balbúrdia Poética: 80 tiros
por Rebeca Gadelha __
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