que jamais escreverei.
Poetas de Minas Gerais
e bardos do Alto do Araguaia,
vagos cantores tupis,
recolhei meu pobre acervo,
alongai meu sentimento.
O que eu escrevi não conta.
O que desejei é tudo.
Retomai minhas palavras,
meus bens, minha inquietação,
fazei o canto ardoroso,
cheio de antigo mistério
mas límpido e resplendente.
Cantai esse verso puro,
que se ouvirá no Amazonas,
na choça do sertanejo
e no subúrbio carioca,
no mato, na vila X,
no colégio, na vila oficina,
território de homens livres
que será nosso país
e será pátria de todos.
Irmãos, cantai esse mundo
que não verei, mas virá
um dia, dentro em mil anos,
talvez mais… não tenho pressa.
Um mundo enfim ordenado,
uma pátria sem fronteiras,
sem leis e regulamentos,
uma terra sem bandeiras,
sem igrejas nem quartéis,
sem dor, sem febre, sem ouro,
um jeito só de viver,
mas nesse jeito a variedade,
a multiplicidade toda
que há dentro de cada um.
Uma cidade sem portas,
de casa sem armadilha,
um país de riso e glória
como nunca houve nenhum.
Este país não é meu
nem vosso ainda, poetas.
mas ele será um dia
o país de todo homem.
“A Rosa do Povo” – 1943/1945 Carlos Drummond de Andrade
Com Demétrio Albuquerque em Olinda - Foto: Taciana Oliveira |
Teresa Montero - Foto: Daniel Ramalho/Divulgação |
Na pesquisa para o filme A Descoberta do Mundo, a diretora pernambucana Taciana Oliveira descobriu essa história, aliás mostrada de forma tocante no filme. Na biografia ela tem mais espaço para se expandir. Acredito que Eu sou uma pergunta: Uma biografia de Clarice Lispector trará novas leituras sobre esse itinerário literário. Clarice dialogou com a sua época, a ultrapassou muitas vezes e manteve uma troca fértil com o meio artístico (além do literário) brasileiro. Uma das perguntas que a biografia suscitará é o que significa celebrar o Centenário de uma mulher que se tornou uma escritora.
Entrevistando Raimundo Carrero - Foto: Taciana Oliveira |
O Rio de Clarice é um ato político, ele não se esgota em enaltecer a trajetória de uma mulher escritora que fez tanto pelo Brasil, o passeio coloca o leitor diante da cidade. É uma travessia pelos bairros, vendo, ouvindo, sentindo o dia a dia de várias partes do Rio. Eu mesma me sinto assim a partir do momento em que criei o passeio. Acredito que O Rio de Clarice abarca várias instâncias, não estamos falando simplesmente de “adorar a Clarice Lispector", estamos exercitando a nossa cidadania à medida que conhecemos uma cidade sob diversos ângulos. Acompanhados por Clarice Lispector o passeio se torna sempre revelador e transformador. Não importa se tiver somente uma pessoa ou trinta. Já fiz um passeio para uma pessoa com chuva no Jardim Botânico. Imagina o resultado disso em nós.
Com Cristina Pereira no Espaço Clarice Lispector |
Clarice Lispector |
A Coleção BH. A cidade de cada um comemora 15 anos, recontando a história da capital com o livro Arraial do Curral del Rei
Flávio Carsalade e Celina Albano |
Fotografia: Ricardo Laf |