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 por Adriano B. Espíndola Santos__


Jr Korpa

 por Valdocir Trevisan___

 

 

Banksy

 

 

por Germana Accioly__

 

Foto de Kat Smith no Pexels



 por Yvonne Miller__


Fotografia: Nacho Rochon


 por Dias Campos__



Foto: Tai's Captures



                                                                                                                 Zadig



            Ontem tive que enfrentar uma situação muito arriscada.


Mas ao contrário do que se poderia imaginar, ela não ocorreu porque me esqueci de colocar a máscara quando fui ao supermercado, porque não passei álcool gel durante o período em que estive fora, ou porque fui obrigado, pelas circunstâncias, a enfrentar um ambiente aglomerado.


As minhas costeletas volumosas aliadas ao confinamento que nos foi imposto é que foram as causas de tamanho risco.


É compreensível, leitor amigo, que você tenha enrugado a testa.


O desenrolar desta crônica, todavia, fará com que você compreenda aquela afirmação.


            Éramos recém-casados. No apartamento faltavam ainda alguns móveis e globos nas luminárias. E como os nossos salários não admitiam esbanjamentos, por um bom tempo as únicas quatro cadeiras revezaram-se entre as salas de jantar e de estar, e as lâmpadas de 60 W irradiaram mais luz do que deveriam.


Filhos? Não passavam de hipóteses remotas.


            Mas vivíamos muito felizes, como era de se esperar.


            É claro que os gostos e os hábitos trazidos da vida de solteiro tiveram que sofrer as naturais adaptações.


Assim, se antes o guarda-roupa era só meu, depois de casado tive que abrir mão de (várias) gavetas; se antes eu usava a mesma faca para passar no pão o requeijão e a geleia, depois de trocadas as alianças tive que me acostumar com uma faca para cada pote. E por aí vai. – Aproveito a oportunidade para protestar, pois até hoje reivindico pelo menos mais um gaveta!


Só que existem certas práticas que são impossíveis de serem alteradas.


Por isso, mesmo indo morar em bairro distante de onde vivia, não deixei de ir ao barbeiro que frequento há mais de trinta anos.


Não vou negar que, por causa da distância, cheguei a pensar em procurar outro barbeiro. Até porque, há os que cobram menos, os que são mais rápidos, e os que servem desde cafezinho até champanhe (desde que pague).


Esse pensamento jamais se concretizou, pois como nunca mudei o penteado, nem preciso dizer a ele o que quero. É só me sentar, pôr os assuntos em dia, e aguardar o resultado, que sempre me agradou.


Certo dia, porém, um presente que ganhei foi suficiente para que outras mãos substituíssem as do meu barbeiro.


 Minha mãe acabara de chegar de viagem do exterior. Ao passar pelo free shop, viu um cortador de cabelo recarregável, e se lembrou deste cronista.


O presente vinha bem a calhar, pois o momento por que passávamos pedia que apertássemos um pouco os cintos.


Por conta disso, perguntei para minha esposa se ela toparia dar uma de barbeiro.


Essa ideia a deixou um pouco receosa. Afinal, ela nunca manejara tal engenhoca.


Mas como enfatizei que faríamos uma boa economia, o receio se foi, e ela aceitou o desafio.


Sentei, então, de costas, inclinei a cabeça, e pedi para que começasse a aparar de baixo para cima, como sempre fez o meu barbeiro.


Ocorre que a maquininha tinha mais beleza do que potência, pois longe estava de ser um cortador profissional.


Apesar desse mero detalhe, insisti para que prosseguisse.


Entretanto, o aparelho não deslizava como supunha, o que obrigava minha esposa a aumentar a pressão contra a minha cabeça.


E de pressão em pressão, o terreno foi sendo vencido.


Devido à falta de prática, que impunha lentidão no cortar, as baterias logo gastaram, e o cortador perdeu a serventia.


E a experiência teve que ser suspensa.


Só que uma área razoável já tinha sido cortada. Nada mais natural, portanto, que quisesse conferir o seu trabalho; mesmo que, para isto, tivesse que me contorcer na frente do espelho.


Quando me virei para falar com minha esposa, notei que seu semblante não refletia a felicidade dos que se sentem orgulhosos.


E gelei!...


Levantei e fui ao espelho. E o que consegui identificar foi de partir o coração...


Eram degraus! Sim, o que minha esposa conseguiu foi esculpir vários degraus na parte de trás da minha cabeça!


Em um primeiro momento, meus olhos se arregalaram, e minha voz simplesmente sumiu.


Em seguida, levei a mão direita até aquela escada, na intenção de comprovar com o tato aquilo que minha visão já tinha constatado.


Com o passar dos segundos, contudo, meus olhos retornaram às órbitas, e minha voz reapareceu; se bem que ainda trêmula.


Minha esposa até quis se explicar.


Não precisou. Deixei claro que ninguém tinha culpa.


E o que se há de fazer quando nada mais pode ser feito? Chorar ou rir.


E preferimos a segunda opção.


Mas o estrago aí estava, e precisava ser contornado.


Pois tomei coragem, retornei ao meu barbeiro, e dei uma desculpa tão esfarrapada que nem um tolo acreditaria.


É claro que ele, experiente que só, em nenhum momento acreditou na minha justificativa; tanto que percebi a sutileza com que levantou o canto esquerdo da boca.


Mesmo assim, arrumou o quanto pôde.


E o que tudo isso teve a ver com o que afirmei no início deste texto?


Ora, por força da quarentena, todos sabemos que só deveremos sair de casa por motivos imperiosos – os ligados às atividades essenciais.


E pelo que sei, cortar cabelo não faz parte desse rol.


Daí que, não apenas o meu cabelo já estava para lá de comprido, como, também, faltava muito pouco para que as minhas costeletas fossem confundidas com suíças.


Pois adivinha, amigo leitor, qual foi a situação arriscada que tive que encarar ontem? Sabedora de que fico bastante incomodado quando as costeletas se avolumam, minha esposa se ofereceu para apará-las.


E gelei mais uma vez!...


            Não obstante o tremendo arrepio, o jeito foi aceitar que ela se aventurasse de novo. Só que desta vez, manuseando uma tesoura para unhas, pois me livrei daquele cortador tão logo surgiu ocasião.


            Depois de alguns minutos, e de muita tensão, o saldo até que foi satisfatório. – Ufa!


            De outra parte, tudo indica que a vacina contra a covid-19 demorará, em que pese já divisarmos luz no fim do túnel.


Por consequência, o isolamento social provavelmente será mantido, mesmo que flexibilizado.


Disso resulta que a barbearia, que já estava com as portas fechadas, talvez nunca mais reabra. – espero esteja enganado!


Seja como for, o meu cabelo continuará a crescer.


            Diante desse quadro, prevejo mais um risco, e por certo muitíssimo maior que o anterior: E se minha esposa ficar empolgada com o sucesso obtido com as costeletas e decidir estender o seu pequeno triunfo?


Bem, se isso acontecer, de duas, uma: Ou submeterei a minha basta cabeleira à sua tesourinha, ou terei que me acostumar a ir dormir no sofá. – Conhecendo-a como a conheço, não há uma terceira hipótese.


No entanto, por medida de precaução, antecipo que preces envolverão cada uma de suas tesouradas. É que seria terrível descobrir ao final uma escadaria serpenteando minha cabeça.





Dias Campos, paulistano da gema, é romancista, contista e cronista. Entre outros títulos, destacam-se o de Embaixador da Paz, pela Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos - OMDDH, o de Embaixador da Literatura, pela Corte Brasileira de Letras, Artes e Ciência - COBLAC, o de Ambassadeur Honneur et Reconnaissance aux Femmes et Hommes de Valeur, pela Luminescence Académie Française des Arts, Lettres et Culture-Literarte, e o de Embajador de la Palabra, pela Asociación de Amigos del Museo de la Palabra. É vencedor de muitos Prêmios Literários, membro de diversas Academias Literárias e Colunista e Colaborador de várias Revistas, Jornais e Blogs Literários.


 

por Émerson Cardoso__




 

por Germana Accioly__


Fotografia:Germana Accioly

 por Yvonne Miller__

 

Foto: Mikhail Vasilyev

 por Adriano B. Espíndola Santos__

 


Fotografia: Dan Farrell


por Rebeca Gadelha__


Foto: Anastasia Taioglou

 

por Valdocir  Trevisan__


Steve Cutts

por Germana Accioly__

 

 




 

por Valdocir Trevisan__


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Hein? Catábase? O que é isso?  O que significa?

 

Segundo a filósofa Márcia Tiburi esse termo é usado na literatura para lembrar descidas aos infernos, além de se referir à outras "caídas".

 

Márcia fala em humilhação como exemplo de catábase, uma vez que humilhar lembra uma descida ao inferno. É quando o humilhado perde sua voz e dignidade, lembrando a teoria da Comunicação Espiral do Silêncio, uma teoria onde o opressor "obriga" o oponente a ficar quieto, mudo.

 

Como uma catábase silenciosa.

Como as velhas artimanhas da indústria cultural que prendem nossas liberdades e emancipações quando a humilhação restringe nosso cotidiano impondo limites naqueles "tocados ou que serão violados, pois estão na mira", acrescenta Tiburi. E por incrível que pareça, a humilhação está inserida nas famílias, escolas, nas "instituições" de Foucault, e diante tais relações, a catábase revela seu ponto nefasto, trabalhando como controle.

 

Controlando os passos humanos que devem seguir as normas, caso contrário...catábase...tipo assim, controlando minha maluquez....

 

Para não cair, devemos andar no passo certo seguindo as normas ditadas? Deveria responder sim, só que não, ora, é isso que estou querendo dizer, não quero cair em tentação muito menos em catábase.  Porém, temos que ter conhecimento de sua existência, não é mesmo? Pois somente assim poderei ter controle de minha vida, e decidir o que é o certo ou o errado. Eu e somente eu. Claro, com coerência.

 

Para evitar humilhações, o discernimento é fundamental, simples. E nesses entremeios, surge a relação da catábase com a resiliência, palavra da moda, vigente e ativa. Se caímos, rogamos à resiliência.  E se tudo está correndo bem, ótimo, vamos prosseguir companheiro. Porém, estamos passando uma pandemia desgraçada, vivemos um (des)governo que mais parece um hospício, vivemos com crises econômicas, vivemos, vivemos e...sobrevivemos...

 

A catábase vem, mas a resiliência também. As leis da vida estão aí e apesar "deles", amanhã será outro dia.

 

Os paradigmas e conceitos mudam e mesmo com cotidianos líquidos (Bauman), e uma identidade pós-moderna em crise (Stuart Hall), o rei sol vai entrar em nossas casas com sua beleza magnânima. E quando nossas estruturas pedem socorro, forças desconhecidas surgem dos subsolos. Crescemos e amadurecemos à força, literalmente.

 

Quando matamos nossos pais (no sentido figurado), estamos assumindo responsabilidades.

 

Interessante perceber que o conceito catábase ainda não circulou nos milhares de livros de auto-ajuda. Realmente curioso. E catábase não significa catar bases existenciais ou mesmo na nossa linguagem, pois somos humilhados com a imposição dos vocábulos de outros idiomas como: center, tower, etc.

 

Que orgulho do Policarpo Quaresma que desejava um hino nacional em tupi-guarani. As cenas com o recém falecido ator Paulo José permanecem em minha mente como refúgio das identidades latinas.

 

São violências culturais originárias desde a nossa descoberta no século XVI, onde "vivemos desde então, o paradoxo de sermos definidos por palavras que não nos representam", acrescenta Márcia Tiburi. Quase um caos em nossa identidade onde a liquidez nos deixa à deriva. E a catábase nos leva aos quintos dos infernos dos imperialismos e opressões. Como a Revolução Industrial, sim, a Revolução do "Progresso" que massacrou a massa trabalhadora.  Deixo como exemplo para leitura “Germinal”, de Émile Zola, um drama humano.

 

Também me vem à cabeça o "divertsement" de Pascal: para fugir de nossos sofrimentos buscamos alegrias com alegorias. Fugas como jogos e vícios para "afastar" nossas misérias humanas. Para amenizar nossas descidas ao inferno, apelamos a famosa resiliência com doses de fé como se fôssemos Jó.

 

A "Queda" de Camus é referência para outras descidas de ladeiras. No romance o narrador, Jean-Batist Clemenc, se se isola ao presenciar, e não fazer nada para impedir, um suicídio no Rio Sena. Clemence sofre com sua culpa, escutando o grito do suicida como uma verdadeira...catábase.

 Quem não sentiu tais sentimentos em suas vidas atribuladas?


Clemence espera um milagre quando diz:  "ó jovem, atira-se de novo no rio, para que eu possa salvar sua vida..."

 

Infelizmente, muitas situações de nossas vidas não oferecem uma segunda oportunidade. 

A catábase está à espreita esperando nossos erros. Pelo menos na literatura.

 

   Ou não...






Valdocir Trevisan
é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui

 

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Street art: Banksy

 

por Íris Cavalcante___


Jr Korpa


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Jr Korpa

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por Adriano B. Espindola Santos__


Intervenção na foto de: Camilo Jimenez