por Taciana Oliveira__
Jane Fonda em cinco atos é um documentário que aborda a trajetória da atriz a partir do resgate de suas memórias e relacionamentos afetivos. Filha do ator Henry Fonda, refém emocional da trágica morte de sua mãe, Jane relembra seus três casamentos, escancara suas fragilidades e reconstrói o período significativo de sua militância. Feminista desde sempre, a narrativa do documentário revela uma mulher ainda profundamente conectada com o futuro.
por Taciana Oliveira___
Carioca
de nascimento, radicada em Pernambuco, produtora e atriz, Naná Sodré
é uma figura imprescindível na cena cultural do Estado. Uma das
idealizadoras da Mostra Luz Negra – O Negro em estado de
representação, iniciou sua trajetória trabalhando com luz cênica.
Mas no ano de 2009 começa a se dedicar aos estudos da interpretação
e atuar como atriz. Para Naná era “algo incontrolável” criar um
novo percurso profissional. A partir da aprovação de um projeto em
um edital, e a realização de um espetáculo, os efeitos do racismo
institucional se fez presente até mesmo na própria comunidade
teatral. Uma atriz negra em cena, para alguns, era um “devaneio”
![]() |
Naná Sodré em cena |
por Taciana Oliveira___
Não sei mais o que dizer de autoria de Jéssica Gabrielle Lima, uma publicação da Aliás Editora, é um desabafo poético sobre perdas, afetos e possíveis recomeços. As ilustrações de Jéssica revelam com delicadeza o caos emocional de uma solidão feminina. Tudo dói, é intenso, frágil e absurdamente sincero. Tudo grita e se cala na mesma proporção. Não sei mais o que dizer cria atalhos para conexões visuais onde o amor reverbera além de toda ausência.
*Jéssica Gabrielle Lima é editora e ilustradora da Aliás. Formada em Letras, dona de um gosto musical mais-que-perfeito, criada no Modubim, Fortaleza, atua como professora, revisora de textos e mediadora de leitura.
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Publish at Calameo
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Taciana
Oliveira é cineasta, torcedora do Sport Club do Recife,
apaixonada por fotografia, café, música e literatura. Coleciona
memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem
quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.
por Juliana Berlim__
Selva
Almada esteve no Brasil em 2018 para o lançamento nacional de seu
livro Garotas mortas (Editora Todavia), tradução do original argentino
"Chicas muertas" de 2014. A obra pretende acompanhar os
desdobramentos de três assassinatos de jovens argentinas entre as
décadas de 80 e 90 (Andrea Danne, Maria Luísa Quevedo e Sarita
Mundin). Nenhuma delas era portenha e todas provinham de famílias da
classe trabalhadora e/ou dirigidas por mulheres. Todas com idades
entre quinze e vinte anos. O alijamento socioeconômico contribui,
infere -se, na irresolução dos crimes. Almada, ela mesma uma jovem do
interior do país, criada em uma cidade vizinha à da família de uma
das vítimas, persegue essas histórias e refaz as pegadas deixadas
pelas investigações conduzidas. Vasculhando os detalhes dos
inquéritos, entrevista familiares, ex-namorados, amigos, vizinhos,
conhecidos, qualquer um que permita a elucidação dos crimes ou
lance nova luz ao obscurantismo dos acontecimentos de antanho.
Como técnica narrativa, Almada emprega a autoficção em conjunto com uma forma sincopada de jornalismo literário, já que a autora recusa sistematicamente a seus interlocutores a alcunha de "jornalista". Ela é sim uma escritora atormentada pelos fantasmas dos assassinatos de mulheres que, por serem tão próximas, poderiam ser qualquer conhecida, qualquer uma de nós. Este efeito aproximativo cria a vinculação pretendida pela autora para nos fazer perceber que os crimes contra o gênero afetam-nos mais diretamente do que a imagem plasmada, fria de uma notícia de jornal possa fazer perceber. Ela observa igualmente a inexistência, à época das mortes das jovens, do termo "feminicidio". O neologismo aponta para novos modelos de sociedade em que se entende a urgência do cuidado quanto à condição feminina, a qual, como Almada apresenta diversas vezes em seu livro, é ainda entendida como terreno livre para a consumação dos desejos e das perversões masculinas. O corpo da mulher é, em suma, um eterno campo de batalha.
Como técnica narrativa, Almada emprega a autoficção em conjunto com uma forma sincopada de jornalismo literário, já que a autora recusa sistematicamente a seus interlocutores a alcunha de "jornalista". Ela é sim uma escritora atormentada pelos fantasmas dos assassinatos de mulheres que, por serem tão próximas, poderiam ser qualquer conhecida, qualquer uma de nós. Este efeito aproximativo cria a vinculação pretendida pela autora para nos fazer perceber que os crimes contra o gênero afetam-nos mais diretamente do que a imagem plasmada, fria de uma notícia de jornal possa fazer perceber. Ela observa igualmente a inexistência, à época das mortes das jovens, do termo "feminicidio". O neologismo aponta para novos modelos de sociedade em que se entende a urgência do cuidado quanto à condição feminina, a qual, como Almada apresenta diversas vezes em seu livro, é ainda entendida como terreno livre para a consumação dos desejos e das perversões masculinas. O corpo da mulher é, em suma, um eterno campo de batalha.

Juliana
Belim é professora de Língua Portuguesa e Literatura do Colégio
Pedro II. Conduz no mesmo colégio, o projeto de iniciação
científica Neuromancers, de leitura e pesquisa sobre romances de
ficção científica, bem como faz parte do corpo docente da
pós-graduação Lato Sensu Ererebá – Educação Étnico-Raciais
no Ensino Básico. Participou de três edições da FLUP – Festa
Literária das Periferias, com a publicação de quatro contos no
total.
por Juliana Berlim__
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Zerstörung einer Illusion,’ 1977 © Karin Mack / SAMMLUNG VERBUND. |
O
brasileiro médio acorda, escova os dentes, toma café, sabe de uma
tragédia e vai trabalhar. Mas se o brasileiro médio fosse uma
brasileira média e tomasse conhecimento de uma tragédia logo de
manhã, é bem provável que engolisse seu café a frio: desde o
começo de 2019, não houve um único dia sem a notícia de uma morte
de mulher.
por Henrique Wagner__
No
ano em que os brasileiros elegeram um presidente machista e misógino,
e em que uma ministra declarou que “mulher nasceu para ser mãe”,
e ainda: “me preocupo com a ausência da mulher de casa, hoje a
mulher tem estado muito fora de casa”, a editora Objetiva lançou a
biografia “Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no cangaço”,
de autoria da jornalista nascida em São Paulo, Adriana Negreiros. A
sociedade civil resiste.
por Raimundo de Moraes__
Em
homenagem ao 8 de março, o Mirada traz cinco entrevistas realizadas
pelo escritor e jornalista Raimundo de Moraes, que fez das perguntas
não só uma breve coletânea de opiniões, mas também um eclético
painel sobre o universo feminino e suas múltiplas manifestações –
seja na arte, no dia a dia e nos desafios do combate à violência
contra as mulheres.
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![]() |
Gerusa Leal |
Na
base de tudo, a leitura. Fui uma criança muito introversiva, que
sempre adorou ler, vício que adquiri com um pai também leitor
inveterado, e escritor tão autocrítico que acabou pouco publicando.
Até hoje prefiro ler. Escrever foi uma descoberta feita outro dia,
há uns vinte anos quando, aposentada precocemente, me valendo da
legislação previdenciária da época, e abrindo mão de quase um
terço do salário, comecei a prcurar algo interessante para fazer.
por Thaís DSR __
Quando
caminho pelas ruas sempre me deparo com seu nome: Marielle Vive.
Está
pichado no muro em letras garrafais.
Quem
será que decora a cidade?
Quem
está construindo essas paredes?
Seja
lá quem for não se esqueceu de você,
Marielle
Franco.
Nenhuma
de nós jamais irá.
Em
outras paredes ainda em ato transgressor:
“Quem
mandou matar Marielle e Anderson?”
Também
não esqueceremos.
por Taciana Oliveira__
O clipe de Revólver acaba de sair do forno e já provoca múltiplas reverberações. Flaira Ferro vem com uma visceralidade que contagia, ultrapassa os limites da cidade. A letra da canção é antes de tudo um manifesto, uma ode ao frevo e a resistência artística de Pernambuco. Impossível você não se conectar a cada acorde, ao discurso poético-corporal de Flaira. Nesse passo regido pela ancestralidade nordestina a mensagem que fica não é apenas para os dias de Momo: A covardia impera sob a ignorância / Mas a esperança /é substância pra mudar
O meu revólver é um estado de espírito e o pessimismo é luxo de quem tem dinheiro A covardia impera sob a ignorância Mas a esperança é substância pra mudar Mudar as coisas de lugar Uma cidade triste é fácil de ser corrompida uma cidade triste é fácil ser manipulada No contra-ataque da guerra, arte! pra não viver dando murro em ponta de faca. No contra-ataque da guerra, arte! ninguém nessa terra vai comer farinata Eu quero ver você dizer que não vai ter mais frevo Eu quero ver você dizer que não tem frevo mais O frevo é um ser humano O frevo é o nosso Rock O frevo é a luta armada de Zenaide, de Capiba e de Spok Meu corpo é uma cidade com pernadas de aço pra furar um buraco na rocha do egoísmo A revolta do passo Ferrolho, tramela Rojão, abre alas Tesoura, martelo Espalhando brasa No contra-ataque da guerra, arte! pra não viver dando murro em ponta de faca. No contra-ataque da guerra, arte! Um corpo liberto deixa a mente afiada.
Revólver - Flaira Ferro
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Taciana Oliveira é cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.
por João Gomes_____
Quem
passeia pela literatura feita por escritores independentes sem dúvida
sabe o que é um zine. Pode ser e ter qualquer formato, guardar
textos de um autor apenas, de vários, ilustrações, o que se
desejar sendo autoral ou editorial. Pra ser zine tem que ser
impresso, sim. Mas o projeto gráfico pode também ser
disponibilizado na rede, o pdf pode ser encaminhado por e-mail e etc.
Venho aqui falar então do zine Bellzebuuu, do estado de Minas
Gerais, que em seu primeiro número em agosto de 2017 circulou por
Belo Horizonte após a curadoria e realização de Adriane Garcia e
Sérgio Fantini. Finalzinho do ano passado, fui convidado por Adriane
para transformar o zine numa publicação de Vida Secreta, onde sou
editor. Da minha leitura do material fiz a editoração eletrônica
que segue. É para ser lido de uma vez, numa sentada. A temática
proposta aos autores paira sobre como a religião pode corromper o
estado laico com seus retrocessos e doutrinas.
por João Gomes__
Nasci no Recife, capital do frevo, patrimônio
imaterial da humanidade. Digo mais: cresci no Recife Antigo, ou
Bairro do Recife, onde acontece o Carnaval de rua mais inclusivo e
multicultural do país. Mas só de alguns anos pra cá passei a
perceber como a festa de Momo acontece, ofertando todo o período
como palco do espetáculo, suas ornamentações e tradições
contendo tanta historicidade. O frevo, que nas palavras de Câmara
Cascudo é “a grande alucinação do Carnaval pernambucano”, o
maracatu da Rua da Moeda, os trios elétricos que arrastam multidões
no tão aguardado Sábado de Zé Pereira com o maior bloco de rua do
mundo, o Galo da Madrugada e etc. Isso sem falar nas ladeiras de
Olinda, com prévias todos os finais de semana muito antes e blocos
passando a todo instante. Eis nossa riqueza cultural que impulsiona a
economia antes e durante a festa.
por Taciana Oliveira___
O
zine A dor do agora é mais uma publicação do Aliás Selo
Editorial, e está disponível apenas para leitura na plataforma
Calameo. Conversei com a Thaís DSR que responde pela
autoria do texto. O resultado dessa conversa rendeu uma entrevista pocket para o
Mirada.
É
a tua segunda colaboração com o Aliás Selo Editorial. A primeira
foi a participação no e-book As Cidades e o Desejo. Como foi
produzir o zine? Era um formato novo para você?
Eu já tinha visto muitas mulheres escreverem no formato de zine. Até já tinha comprado alguns em feiras feministas e os da editora Aliás (comprei todos). De alguma maneira parece que esse formato é utilizado como ferramenta de luta das mulheres, já que as editoras nem sempre nos publicam e foge de outros formatos mais institucionalizados. Mas nunca tinha produzido um. Durante o processo me senti conectada com essas outras mulheres que utilizam o zine para se expressar.
Eu já tinha visto muitas mulheres escreverem no formato de zine. Até já tinha comprado alguns em feiras feministas e os da editora Aliás (comprei todos). De alguma maneira parece que esse formato é utilizado como ferramenta de luta das mulheres, já que as editoras nem sempre nos publicam e foge de outros formatos mais institucionalizados. Mas nunca tinha produzido um. Durante o processo me senti conectada com essas outras mulheres que utilizam o zine para se expressar.
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Juliana por Thaís DSR |
Você
e a Juliana DSR assinam a publicação. Fala um pouco do processo
criativo dessa parceria.
Aqui em casa somos três irmãs muito unidas e conectadas. Parecia um caminho natural a gente fazer as coisas juntas. Nós três temos uma ligação diferente no mundo das artes, a Ju desenha, eu escrevo e a minha irmã Carol é da área dos instrumentos musicais. Toda vez que escrevo algo novo é para elas que mostro primeiro. E, em contrapartida, a Ju sempre mostra seus desenhos e a Carol suas canções. Acho que isso une a gente. Alguns desenhos já estavam prontos e eu achei que cabiam no zine. Como o da Marielle e o da Matheusa, que a Juliana fez na época em que tudo isso doía ardentemente. Na época eu escrevi o texto da Marielle e ela fez o desenho, eles já se encaixavam. Outros a gente pensou juntas. Nós relemos os textos e pensamos o que poderia simbolizá-los. Foi tudo muito compartilhado, por isso assinamos juntas. É uma criação de irmãs.
Aqui em casa somos três irmãs muito unidas e conectadas. Parecia um caminho natural a gente fazer as coisas juntas. Nós três temos uma ligação diferente no mundo das artes, a Ju desenha, eu escrevo e a minha irmã Carol é da área dos instrumentos musicais. Toda vez que escrevo algo novo é para elas que mostro primeiro. E, em contrapartida, a Ju sempre mostra seus desenhos e a Carol suas canções. Acho que isso une a gente. Alguns desenhos já estavam prontos e eu achei que cabiam no zine. Como o da Marielle e o da Matheusa, que a Juliana fez na época em que tudo isso doía ardentemente. Na época eu escrevi o texto da Marielle e ela fez o desenho, eles já se encaixavam. Outros a gente pensou juntas. Nós relemos os textos e pensamos o que poderia simbolizá-los. Foi tudo muito compartilhado, por isso assinamos juntas. É uma criação de irmãs.
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Thaís por Juliana DSR |
Quando li o zine lembrei muito de uma texto da Clarice Lispector: Eu não aguento a resignação. Ah, como devoro com fome e prazer a revolta. Lembrei também da força dos versos de Maya Angelou em Still I Rise. A dor do agora é um "manifesto", um texto urgente que grita por resistência, uma porrada para acordar os que estão na apatia?
Acho que a A dor do agora trabalha com dois movimentos. Tem essa chamada pública de que é preciso levantar, que o mundo nos exige coragem, que ficar parada não é uma opção. Mas também são processos muito pessoais das dores que lutar e resistir nos causa. Então também é um texto que pode tocar as pessoas que já estão lá, que já tiveram seu despertar político, que já estão nas trincheiras. Porque fala do quantas vezes estamos cansadas, no quantas vezes pensamos em desistir, fala sobre perder batalhas. A morte da Marielle foi uma dessas perdas irreparáveis, que nos destruiu em vários níveis. Ela era a primeira vereadora lésbica e negra que eu conheci. Era mágico saber que ela existia. Nós chegamos a estar juntas na construção do movimento de mulheres lésbicas do Rio de Janeiro. E quando a assassinaram... Nossa! Nada poderia reparar isso! Nós perdemos e sabíamos disso. Mas também sabíamos que Marielle não iria querer ver a gente se conformando com a derrota. Então levantamos em meio a dor. Por ela e por todas as mulheres. Outros textos falam muito sobre a lesbianidade e esse processo de sair do armário, mas não só de sair, mas também de sentir orgulho de quem é (o texto da Cidade e os desejos também fala disso). Todo militante homossexual por mais que levante suas bandeiras com orgulho no presente carrega consigo um passado de dúvidas, muitas vezes de vergonha de si, um processo doloroso de autoaceitação. A dor do agora também é pra elas/eles. A dor do agora mas que a gente sabe que não é pra sempre.
* Thaís DRS é professora de Geografia, Mestre em Educação, lésbica e feminista.
*Juliana DRS tem essa sensibilidade no traço que parece se refletir na vida.
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Copio aqui o texto do lançamento do zine, escrito por Anna K de Lima, integrante do Aliás Selo Editorial, uma das escritoras mais porretas do Estado do Ceará, quiça do Brasil! As mulheres do Aliás não se cansam em multiplicar afetos . Elas reverberam o mundo:
A gente se empenha em impulsionar mulheres pelo mundo, Aliás! Uma força revolucionária, essa, de estar de mãos dadas — umas às outras. Daí apresentamos a zine da Thaís e Juliana DSR que nos toca imensamente sobre as formas de nos posicionarmos e sermos resistência nesse mundo. Não tá fácil, a gente sabe (e sofre!), mas é importante que estejamos juntas.
Publish at Calameo
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Taciana Oliveira é cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.
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Taciana Oliveira é cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.
por João Gomes __
Dividido esquematicamente, De mim ninguém sai com fome nos oferta um apanhado de temas que, numa leitura descuidada, podemos acreditar que trata sempre da mesma presença/ausência, quando mais parece que tudo está associado ao “jeito de arrumar o ar no peito”, o ritmo suave no “muito do que eu dissesse poderia ser poesia”. Tendo o amado como o interlocutor de sua metalinguagem irônica e sem chatear o leitor, seu interlocutor de fora, a poeta mineira Norma de Souza Lopes, nascida em 1971 e autora de Borda, quer ser amada porque sabe que na poesia, como no amor, “é só esperar o dia bom”. Seus poemas, alguns, querem ser sussurrados em “decilitros de ar” sendo “quase um suspiro”, já noutros devemos gritar “e se foder com violência” num frenesi tipo Roberto Piva. O que mais encanta é isso partir de uma mulher que faz de seus anseios estéticos a representação pluralizada do desejo feminino sem, necessariamente, se fazer de objeto.
por Taciana Oliveira__
As Duas Mortes de Sam Cooke é um documentário que aborda a trajetória do cantor e compositor considerado por muitos o pai da Soul Music ou o Rei do Soul. Sam Cooke foi um dos primeiros e mais importantes artistas militantes dos direitos civis americanos. Filho de um pastor evangélico, criado em Chicago, começou sua carreira musical cantando em igrejas até tornar-se vocalista de uma banda gospel. Anos depois foi contratado por uma grande gravadora e sua voz ganhou as rádios americanas. Por sua elegância e suavidade na interpretação, no início da carreira passou a ser comparado a Frank Sinatra.
Visionário, em uma época que as grandes gravadoras dominavam o mercado, investiu na criação de um estúdio de gravação voltado exclusivamente na valorização e contratação de músicos negros. Era amigo de Muhammad Ali, Malcolm X, Smokey Robinson e de tantos outros nomes que contestavam a política segregacionista do governo americano. Cooke era o segundo maior nome em vendas da gravadora RCA, ficando atrás apenas de Elvis Presley. Talento incontestável, morreu aos trinta e três anos em circunstâncias até hoje não devidamente esclarecidas. Seu legado musical inspirou gente como Marvin Gaye, All Green e Michael Jackson. Inspirado em Bob Dylan, que escreveu Blowin' in the Wind, Cooke compôs Change is gonna come, canção que virou o hino dos direitos civis nos Estados Unidos. Seus versos foram citados no discurso de posse do presidente americano Barack Obama em 2014.
A direção do documentário é de Kelly Duane . O filme é costurado por depoimentos de familiares, amigos e fãs, e ainda conta com as participações de Quincy Jones e Dionne Warwick. Abaixo uma playlist de grandes sucessos de Sam Cooke e o trailer do filme.
I
was born by the river in a little tent
Oh
and just like the river I've been running ever since
It's
been a long, a long time coming
But
I know a change gonna come, oh yes it will
It's
been too hard living but I'm afraid to die
Cause
I don't know what's up there beyond the sky
It's
been a long, a long time coming
But
I know a change gonna come, oh yes it will
I
go to the movie and I go downtown
Somebody
keep telling me don't hang around
It's
been a long, a long time coming
But
I know a change gonna come, oh yes it will
Then
I go to my brother
And
I say brother help me please
But
he winds up knockin' me
Back
down on my knees
There
been times that I thought I couldn't last for long
But
now I think I'm able to carry on
It's
been a long, a long time coming
But
I know a change gonna come, oh yes it will
A Change Is Gonna Come, Sam Cooke
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Taciana Oliveira é cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.
por Taciana Oliveira___
A
história começa na comemoração do aniversário de Nadia
(Natasha Lyonne),
que após um acidente “fatal” mergulha em uma espiral de
repetições diárias com efeitos diferentes para determinadas
situações de sua existência. Nessa viagem é possível vislumbrar
passagens determinantes na formação de sua personalidade, e
perceber que o seu envolvimento com o mundo estabelece consequências
inevitáveis para quem a cerca. Com um elenco extremamente afinado,
uma montagem ágil e uma trilha sonora que te pega no primeiro verso
de Gotta Get Up,
de Harry Nilsson,
a série é uma caixa de referências pop que vão desde a citação
do filme Vidas em
Jogo
de David Fincher
até o nome da empresa onde Nadia trabalha, Rock
and Roll Games,
uma homenagem explícita a produtora Rockstar
Games,
das séries Grand
Theft Auto
e Red Dead
Redemption.
Sim,
Boneca Russa
merece uma maratona. Assisti de um fôlego só. A série tem um
roteiro inteligente, uma narrativa enxuta construída por diálogos
hilários. A ironia e o loop atemporal que permeia os oito episódios
são a fonte de sustentação para o desenvolvimento dos conflitos
psicológicos das personagens. Porém, nem tudo na série é motivo
pra gargalhada. Rir de tudo em Boneca Russa é sinal de desespero.
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Natasha Lyonne |
Fuja
do clichê “mais
um roteiro parecido com o filme Feitiço do Tempo.”
A produção em questão não é o primeira a utilizar do mesmo
recurso narrativo. La
jetée,
um curta-metragem de ficção científica, dirigido pelo francês
Chris Marker
em 1962, já apostava na fórmula. Há dezenas de outros títulos que
utilizam dessa ferramenta criativa para criar histórias que
transcendem além do loop atemporal e da viagem no tempo. Boneca
Russa
não é uma simples comédia de costumes. A proposta das roteiristas
Natasha Lyonne,
Leslye Headland
e Amy Poehler,
extrapola comparações simplistas com o filme de Harold Ramis.
Fuja dessa premissa e dê o play no primeiro episódio.
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Taciana
Oliveira é cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada
por fotografia, café, música e literatura. Coleciona memórias e
afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir:
Ter bondade é ter coragem.