por Rebeca Gadelha __
Link para download da edição completa do Manifesto: Manifesto Balbúrdia Poética: 80 tiros
por Lucas Fernandes____
Era
dia 24 de julho de 1911 quando nasceu, na cidade de Savran (Ucrânia),
Leah — filha primogênita do casal de judeus Pinkhas e Mania
Lispector. Depois de Leah, Mania deu à luz a Tania (1915) e Haia
(1920). Quando os Lispector chegaram ao Brasil, em março de 1922,
seus nomes foram abrasileirados: Leah tornou-se Elisa; Mania recebeu
o nome de Marieta; Pinkhas passou a se chamar Pedro; Haia foi chamada
de Clarice; Apenas o nome de Tania não sofreu alteração por ser
comum no Brasil. Em solo brasileiro, a família Lispector morou em
Maceió por cerca de dois anos, em Recife por aproximadamente 10 anos
e se estabeleceu
por
Fernando de Souza__
APRENDENDO A VIVER COM A SOLIDÃO DO MORRER
APRENDENDO A VIVER COM A SOLIDÃO DO MORRER
morte,
não sejas orgulhosa
apesar
de alguns te chamarem terrível e poderosa
tal
não serás
aqueles
que pensas teres deixado para trás
não
morrem, pobre morte,
nem
a mim podes levar
após
um breve sono, acordamos eternamente
e
a morte deixará de existir,
morte,
tu também morrerás
(John
Donne)
Emma Thompson |
por Fernando de Souza__
..Não
dá pé, não é direito
Não
foi nada, eu não fiz nada disso e você fez um
Bicho
de sete cabeças
Não
dá pé, não tem pé nem cabeça
Não
tem ninguém que mereça, não tem coração que esqueça...
(Zé
Ramalho)
A
expressão popular “bicho de sete cabeças”, assim como “fazer
muito barulho por nada”, refere-se à (infindável) capacidade
humana de projetar seus medos, ansiedades e angústias em situações
aparentemente sem grandes repercussões factuais. Este “bicho”
nos lembra a Hidra de Lerna, monstro da mitologia grega, também com
várias cabeças, e que tinha a capacidade de regenerá-las toda vez
que uma era cortada, crescendo outras em seu lugar. Via de regra, o
grande problema dos “bichos de sete cabeças” é justamente este:
assim como a Hidra, eles tendem a tomar proporções maiores do que
as reais, especialmente quando mal ou não resolvidos...
Neto, personagem interpretado por Rodrigo Santoro, vive com seus pais e sua irmã mais velha, e frequenta o Ensino
Médio. É um adolescente comum, com as dificuldades de
relacionamento com os pais, dúvidas e conflitos, como outros de sua
fase. Usa maconha esporadicamente com seus colegas, por lazer (ou
falta dele!), embora mantenha conservados os vínculos familiares,
sociais, escolares, etc. Certo dia, Neto e seus amigos, num ato de
rebeldia, vandalizam e picham um prédio, somente ele é preso pela
polícia e solto mediante a presença de seus pais: ele, autoritário;
ela, passiva. A partir deste evento e da posterior descoberta, por
seu pai, de um cigarro de maconha no bolso de sua roupa, a vida de
Neto vira de cabeça para baixo, com sua internação compulsória
num hospital psiquiátrico, autorizado por sua família, para um
pretenso tratamento para dependência química - apesar de nenhum
exame laboratorial, avaliação psiquiátrica ou psicológica ou
sequer entrevista ser realizada durante sua internação – baseado
exclusivamente na administração de medicamentos e exposto à
realidade de pacientes dos mais variados problemas de saúde mental e
de graus de gravidade clínica. Após um período de
ressocialização malograda, acontece uma segunda internação noutra
instituição, com efeitos terapêuticos e sequelas psicológicas
igualmente desastrosas. A nova internação nem surte os “resultados
esperados” (por quem?) como, ainda por cima, desestabiliza ainda
mais a saúde mental de Neto, novamente entregue a um tratamento
desumano, irresponsável e ineficaz. O que não era, até então, um
grande problema, agora o é. Um bicho de sete cabeças.
O
filme Bicho de sete cabeças (direção de Laís Bodanzky, 2001 ) nos possibilita várias
reflexões. Numa esfera subjetiva - embora representativa da
realidade de muitos jovens, tomando Neto como seu representante -
pensamos nas experiências de descoberta e de rebeldia durante a
adolescência, os conflitos geracionais presentes nas dinâmicas
familiares, causados pelo autoritarismo, repressão, incompreensão e
falta de abertura, e os impactos destas relações na vida afetiva e
no comportamento dos adolescentes. Podemos refletir também na
dificuldade em aceitarmos o “diferente” (eufemismo para
“perturbador” ou “indesejável” tanto nos indivíduos de
conduta transgressora juvenil como naqueles acometidos por
psicopatologias, por apresentarem comportamentos “excêntricos”
(outro eufemismo, desta vez para “inadequado”, “incômodo” ou
“desagradável?). Ambos os “perfis” são frequentemente
rotulados como desviantes e, em consequência, estigmatizados e
marginalizados.
Entretanto,
há uma reflexão – senão uma crítica – imprescindível neste
filme: trata-se de um símbolo da luta antimanicomial no Brasil.
Bicho de sete cabeças é baseado no livro Canto dos malditos, de
Austregésilo Carrano Bueno, que conta suas experiências de
internação em hospitais psiquiátricos, similares às de Neto.
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Fernando de Souza é psicólogo em formação, mestre em Letras e bacharel em
Comunicação pela UFPE. Publicou artigos acadêmicos em Psicologia,
concorreu e recebeu alguns prêmios de poesia entre 1991 e 1995.
por João Gomes__
O nosso entrevistado do mês é o poeta, músico e produtor cultural David Biriguy.
David Biriguy. |
Seu
livro Submarino
fala sobretudo de amar ou ter sido amado por alguém. Para você, a
poesia vem com alguma facilidade, o amor é mais difícil e o que
seria um poema pronto? A citar um poema desse seu livro, “Quantas
interrogações integram o teu silêncio?”.
A
temática do Submarino é o amor, mas o sentimento que se expõe ao
longo do livro é o arrependimento. É uma queda. Um declínio. Um
mergulho dentro de si para se reconstruir depois da queda.
Acredito
que há fluxos de escrita. Não diria que a poesia vem com
facilidade, mas que tenho facilidade para escrever e isso facilita a
escrita dos poemas. O amor é um lugar comum na literatura, talvez
isso o torne mais difícil de abordar de uma forma diferente do que
já se tem. O Submarino foi nascendo despretensiosamente. Eu estava
em um processo de desapego e estava escrevendo. Quando me dei conta
os poemas estavam todos ali. Fiz uma seleção dos melhores textos e
reuni neste livro.
por
João Gomes___
Nunca
me senti tão lembrado, a contragosto dos héteros, por ser o que
sou. Junho é o mês LGBTQ, essa sigla que só cresce, arrastando
multidões e adere quase tudo pela diversidade em si. Nunca também
fui à Paradas, metrópoles, saunas e cinemas pornô. Mas não é por
isso que desejo lembrar nossas conquistas, mas há quem ache que uma
Parada da Diversidade do Orgulho LGBTQ é apenas um Carnaval fora de
época, um golden shower em becos ou mesmo que cirurgia de vasectomia
é a causa de ser homossexual.
Custa
pensar como seria se não houvesse esse embate, essa troca de forças,
de olhares, de repressões e ataques homofóbicos. É um salve-se
quem puder, só deixe que seus amigos saibam, não dê a entender
nada para não morrer. Mas tudo é uma questão cultural, do modo de
agir e pensar, e biológica do modo natural de desejar. Negar a si
mesmo é algo religioso, por isso há os curiosos, os ativos na
homossexualidade e negadores da passividade, donos de uma meta
corporativa de homofobia que os encubra. Há um pensamento bem
verdadeiro que se encaixa a isso: você pode ser gay e não ser
homossexual, e homossexual sem ser gay.
Obra de Leonilson |
Não
haveria necessidade de uma sigla se as pessoas não gostassem tanto
do rótulo, do estar identificado e agrupado para lutar por direitos
óbvios. Com a modernidade, depois da Revolução Sexual, não
deveríamos estar batendo nisso. Mas como o óbvio é ululante, como
sugere Nelson Rodrigues, persistimos em garantir nosso espaço a um
preço caro às vezes. Médicos aclamados por sua atuação, como
Drauzio Varella, pesquisador do tema HIV/Aids, atenta para a questão
biológica citando inclusive a homossexualidade entre animais. Até o
Papa Francisco pede que tudo isso seja esclarecido no julgamento
final e que não cabe a ninguém julgar no mesmo plano, todos merecem
respeito. Mas há quem acuse que toda a cúria é homossexual, as
freiras são bissexuais ou lésbicas e tudo é coberto pela manta
divina.
por
Taciana Oliveira___
Escrevo ainda
“sofrendo” o impacto de assistir Todas as coisas que brilham. Rapidamente faço uma busca para conhecer detalhes
da produção do filme e encontro uma matéria no The Washington
Times celebrando a estréia da peça em Nova York:
Every
Brilliant Thing no Barrow Street Theatre é talvez uma das peças
mais animadoras e alegres para ver neste inverno, mesmo que se
aprofunde sobre o tema suicídio e você seja solicitado a ler algo
em voz alta.
Explicando:
Todas as coisas que brilham é um documentário dirigido por
Fenton Bailey e Randy Barbato, que capta durante
dois dias, três apresentações, com platéias diferentes, de um
monólogo que tem como tema a depressão e o suicídio. A
dramatização é conduzida genialmente pelo o ator e músico inglês
Jonny Donahoe e pela platéia, que é convidada a atuar
em algumas trechos do espetáculo.
O
texto é baseado no conto de Duncan Macmillan. Donahoe
é o responsável por adaptá-lo para a versão teatral.
O
filme e a peça nascem de uma lista elaborada por um filho para sua
mãe, que sofre de depressão crônica, Uma tentativa de
provar o valor de se viver cada instante da vida. Antes de começar o
espetáculo Donahoe distribui pedaços de papel e orienta o
público a ler alguns dos itens dessa lista, onde podemos encontrar coisas como: posso me vestir como
lutador mexicano, ficar acordado até tarde e poder ver TV, sorvete,
guerra de água, a cor amarela, coisas listradas, montanhas russas,
chocolates, usar capa, ter uma música perfeita, sexo, passar a
noite conversando com alguém, chá com biscoitos...
Confesso
que fiquei um pouco confusa ao determinar o gênero do filme como documentário. Fiz alguns questionamentos que divido com vocês:
A
narrativa teatral é o instrumento principal do filme?
O ato de apresentar os bastidores e a preparação da platéia
configura como um documentário observativo? A inserção
de imagens adicionais para complementar o roteiro é um
artifício de uma narrativa poética documental? Teatro filmado é
teatro?
Independente
de qualquer resposta, Todas as coisas que brilham é um
exercício artístico que bebe da fonte de várias linguagens e
suportes. Fiquem atentos na maravilhosa playlist, na fotografia em
preto e branco e na delicada montagem escolhida para o filme.
Jonny
Donahoe é um ator espetacular. Ele consegue expor um tema tão doloroso de uma maneira educativa e peculiar. Segundo dados da Organização Pan-Americana da
Saúde - OPAS, o suicídio é a segunda principal causa de morte
entre jovens com idade entre 15 e 29 anos.
Todas
as coisas que brilham nos convida a dançar, chorar e viver. O
filme transborda sentimento.Finalizo
o texto partilhando alguns itens da minha lista:
Nadar no mar em dia de sol com chuva (sempre tem um arco-íris no horizonte)
Conversar
bobagens com os amigos
Criar playlists com meu filho
Pudim
Café
Abraço
Ser
solidária
Ouvir
o silêncio
Cheiro
de livro novo
Amar
e mudar a coisas...
* Disponível na HBO GO
* Disponível na HBO GO
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Taciana
Oliveira é mãe de JP, cineasta, torcedora do Sport Club do
Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e
literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do
abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem