por João Gomes__

 


 

por Émerson Cardoso__




 

por Germana Accioly__


Fotografia:Germana Accioly

 por Divulgação___

 


 por Yvonne Miller__

 

Foto: Mikhail Vasilyev

 

por Divulgação__



 por Adriano B. Espíndola Santos__

 


Fotografia: Dan Farrell


 

por Taciana Oliveira __


Oswaldo Goeldi


Santa Catarina

 

Um operário espirra algumas vezes, seu nariz coça,

Ele reluta, tenta conter o incômodo.

Na câmara fria uma parte do teto desaba,

O gelo trincado fere a cabeça do trabalhador.

Soam o alarme, a porta é aberta.

- Querem morrer? Por que não tentam trabalhar direito?

O jovem ferido é arrastado para fora, convulsiona.

A ambulância vem buscá-lo.

Ele retorna ao expediente após três dias de atestado médico;

Uma semana depois é chamado a comparecer no Departamento Pessoal.

Voltará mais cedo para casa.

Nas fazendas de soja o imigrante é útil,

Não há lirismo algum em suas frases curtas.

Pronúncia precária.

- manman, papa, frè...

- Zanmi! Zanmi!

O supervisor o manda calar a boca.

- fatige soti

- Dívida! DI VI DA, PA TRÃO! VO CÊ TEM DÍ VI DA! Entendeu?

Marrom é a cor da luta e do preconceito no Vale Europeu.

 

 

Alzheimer

 

O Senhor Geraldo segue seu caminho com uma boneca ao colo.

Seus passos são lentos e largos, parece intrigado e tenta pisar no centro de sua sombra.

Súbitos emocionais de sua infância se confundem com a realidade presente.

Como dói amanhecer órfão em sua velhice!

Num impulso, ele abre os braços;

Alícia cai de costas. Ele se apavora, uma vizinha se apressa para ajudá-lo.

Ele chora, precisa socorrer sua bebê, não permite que a vizinha se aproxime.

Está desesperado, implora o perdão de Alícia. 

- Sua mãe vai ficar furiosa, minha criança!

Ampara-a e retorna correndo para casa. A filha o encontra, estava a sua procura.

- Paizinho! O Senhor saiu sem avisar.

- Zema, veja! Ela caiu! Ela caiu do meu colo. Foi o velho no chão! Eu estava tentando acertar sua barriga, mas ele continuava, Zema! Ele continuava...

- Pai, eu sou Alícia, estou aqui, estou bem. Vem, paizinho!

- Não, Zema!  Ela está tão calada, não diz nada, e nem chorou ao cair... A nossa menina bateu a cabeça, bateu forte no cimento. Havia a sombra de um homem no chão, a nossa frente, era a imagem escura de um velho, e ele a levava abraçada contra seu peito. Eu quis salvá-la! Vamos! Vamos! Precisamos de um médico!

Alícia chora e o abraça:

- Ela está bem, não precisamos de um médico.

Não! Não, Zema! Não somos nós. É a menina, a menina precisa. É para ela...

Será crueldade da noite devolvê-lo com aparente sarcasmo aos seus dias de sol?

Todos esperamos o milagre de uma morte calma, sem sustos.

Sem sustos!

O Senhor Geraldo divaga nos fragmentos de sua essência.

Riso a riso, dor a dor, pedra a pedra...

Abandona-se sem limitações ao passado.

O esquecimento é um antídoto transgressor, atua muito além da névoa fria da decomposição física.

Que os nuncas de suas memórias jamais o abandonem!

Adeus às tristes verdades!

Bem-vindas as adoráveis ilusões!

 

 

Insciência

 

Floresce o lodaçal.

Quem de lá vem?

Duas idosas de mãos dadas.

Acompanho a lentidão de seus passos diante de meu portão.

Quem conduz quem?

Um carro de som anuncia: "Adorados Irmãos, é amanhã às 20 horas. Venha e receba a unção do livramento! Convide seus familiares para a Campanha da Redenção com o Pastor sergipano Malaquias de Cristo, na Igreja Amantes do Altíssimo".

"Malaquias do Diabo?". Penso. "Malaquias fdp!". Penso.

- Amém e aleluia! Grita a vizinha erguendo os braços e aplaudindo a vinda do impostor. "EEEEE... O Pastor Malaquias de Cristo vem! Glória ao Pai!".

Minha boca espuma.

Estou louca?

Sairei e seguirei em direção ao lago,

Quero ver sua película verde mais espessa do que na semana passada.

Desde que espalhei o boato da maldição do lago, ganhei-o da ignorância comunitária.

Está sempre mais, e mais, e mais belo. Há um ciclo perfeito em sua vitalidade.

Ninguém mais perturba a paz de suas criaturas, a vegetação o circunda autoritária.

Se cheirar adoece!

Se tocar adoece!

Se entrar morre!

Joaquim morreu por tentar se exibir: afundou, prendeu a respiração, morreu.

Que bom que Joaquim morreu! Estava matando seus filhos, sua esposa, antecipando mortes outras.

Tantas!

Mas, muito bem, Seu Joaquim! O senhor morreu.

E não é que choraram sua morte? A própria Edra foi capaz de dizer durante o velório: "Ele era daquele jeito rude, mas era bondoso".

Mentirosa!

Sigo!

Estou cada vez mais perto.

Choro o Deuzebu pisando em minha sombra abstrata.

Sou um leve vulto entre folhas, ramagens, orquídeas, bromélias...

Ali está! A loucura jaz em sua superfície e profundeza.

A loucura da morte que sustém a vida

Beijo levemente seu veludo verde.

Meu coração pulsa.

Um dia morreremos.

Sobreviverá a selvageria virtual? A intolerância ambiciosa dos imbecis?

 





Laila Zanov
: natural de Itajaí, SC, é poeta, cronista, contista, roteirista; senhora de muitas fobias e de algumas ousadias. A loucura, o preconceito, a solidão, a morte, a noite são temas recorrentes em sua arte poética. Zanov escreve desde a adolescência, mas suas primeiras publicações datam de julho deste ano. Referência da imagem:   Kees Van Dongen - The Corn Poppy, c. 1919 







por Rebeca Gadelha__


Foto: Anastasia Taioglou

 

por Valdocir  Trevisan__


Steve Cutts

 

por Divulgação___




 

por Divulgação__



 

por Taciana Oliveira__





por Germana Accioly__

 

 




 

por Iaranda Barbosa___


 


 

por Valdocir Trevisan__


Jota Camelo. Para apoiar: clica aqui


Hein? Catábase? O que é isso?  O que significa?

 

Segundo a filósofa Márcia Tiburi esse termo é usado na literatura para lembrar descidas aos infernos, além de se referir à outras "caídas".

 

Márcia fala em humilhação como exemplo de catábase, uma vez que humilhar lembra uma descida ao inferno. É quando o humilhado perde sua voz e dignidade, lembrando a teoria da Comunicação Espiral do Silêncio, uma teoria onde o opressor "obriga" o oponente a ficar quieto, mudo.

 

Como uma catábase silenciosa.

Como as velhas artimanhas da indústria cultural que prendem nossas liberdades e emancipações quando a humilhação restringe nosso cotidiano impondo limites naqueles "tocados ou que serão violados, pois estão na mira", acrescenta Tiburi. E por incrível que pareça, a humilhação está inserida nas famílias, escolas, nas "instituições" de Foucault, e diante tais relações, a catábase revela seu ponto nefasto, trabalhando como controle.

 

Controlando os passos humanos que devem seguir as normas, caso contrário...catábase...tipo assim, controlando minha maluquez....

 

Para não cair, devemos andar no passo certo seguindo as normas ditadas? Deveria responder sim, só que não, ora, é isso que estou querendo dizer, não quero cair em tentação muito menos em catábase.  Porém, temos que ter conhecimento de sua existência, não é mesmo? Pois somente assim poderei ter controle de minha vida, e decidir o que é o certo ou o errado. Eu e somente eu. Claro, com coerência.

 

Para evitar humilhações, o discernimento é fundamental, simples. E nesses entremeios, surge a relação da catábase com a resiliência, palavra da moda, vigente e ativa. Se caímos, rogamos à resiliência.  E se tudo está correndo bem, ótimo, vamos prosseguir companheiro. Porém, estamos passando uma pandemia desgraçada, vivemos um (des)governo que mais parece um hospício, vivemos com crises econômicas, vivemos, vivemos e...sobrevivemos...

 

A catábase vem, mas a resiliência também. As leis da vida estão aí e apesar "deles", amanhã será outro dia.

 

Os paradigmas e conceitos mudam e mesmo com cotidianos líquidos (Bauman), e uma identidade pós-moderna em crise (Stuart Hall), o rei sol vai entrar em nossas casas com sua beleza magnânima. E quando nossas estruturas pedem socorro, forças desconhecidas surgem dos subsolos. Crescemos e amadurecemos à força, literalmente.

 

Quando matamos nossos pais (no sentido figurado), estamos assumindo responsabilidades.

 

Interessante perceber que o conceito catábase ainda não circulou nos milhares de livros de auto-ajuda. Realmente curioso. E catábase não significa catar bases existenciais ou mesmo na nossa linguagem, pois somos humilhados com a imposição dos vocábulos de outros idiomas como: center, tower, etc.

 

Que orgulho do Policarpo Quaresma que desejava um hino nacional em tupi-guarani. As cenas com o recém falecido ator Paulo José permanecem em minha mente como refúgio das identidades latinas.

 

São violências culturais originárias desde a nossa descoberta no século XVI, onde "vivemos desde então, o paradoxo de sermos definidos por palavras que não nos representam", acrescenta Márcia Tiburi. Quase um caos em nossa identidade onde a liquidez nos deixa à deriva. E a catábase nos leva aos quintos dos infernos dos imperialismos e opressões. Como a Revolução Industrial, sim, a Revolução do "Progresso" que massacrou a massa trabalhadora.  Deixo como exemplo para leitura “Germinal”, de Émile Zola, um drama humano.

 

Também me vem à cabeça o "divertsement" de Pascal: para fugir de nossos sofrimentos buscamos alegrias com alegorias. Fugas como jogos e vícios para "afastar" nossas misérias humanas. Para amenizar nossas descidas ao inferno, apelamos a famosa resiliência com doses de fé como se fôssemos Jó.

 

A "Queda" de Camus é referência para outras descidas de ladeiras. No romance o narrador, Jean-Batist Clemenc, se se isola ao presenciar, e não fazer nada para impedir, um suicídio no Rio Sena. Clemence sofre com sua culpa, escutando o grito do suicida como uma verdadeira...catábase.

 Quem não sentiu tais sentimentos em suas vidas atribuladas?


Clemence espera um milagre quando diz:  "ó jovem, atira-se de novo no rio, para que eu possa salvar sua vida..."

 

Infelizmente, muitas situações de nossas vidas não oferecem uma segunda oportunidade. 

A catábase está à espreita esperando nossos erros. Pelo menos na literatura.

 

   Ou não...






Valdocir Trevisan
é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui

 

por Dias Campos__


Street art: Banksy

 

Divulgação/BoniPeixe – Comunicação e Fotografia

 


 

por Isabela Sancho__




 

por Divulgação/Marcela Güther