Futebol de rua, cano, bola de encher e carimba


por Leo Silva__



Fotografia: Eliane Lobato
Fonte  Revista ISTOÉ


Calçada, cano, bola de encher, diversos meninos olham pro lado, pro oto. Em suas mão montam seu artefato, juntando um cano com a bola de encher, pegam um pedra joga pra dentro e solta. O estalo da bola ecoa ao ser puxado e soltado, fazendo a pedra sai e acertando algo a sua frente. Descem as ruas correndo, uns param encostam na parede e olha, se vê numa pequena guerra contra o time rival. Gritam e gritam. Correm, miram e solta, cospem mais uma pedrinha dentro do cano, correm pro lado pro oto. Na outra rua algumas pessoas sentadas conversam, otos apenas observam, e absorvem as brincadeiras de meninos e sorriem enquanto eles correm pro lado e pro oto. No resto da rua uma bola vai pro lado, pro oto, as meninas gritam "queimada" e a bola vai, dum lado duas pessoas, do oto apenas uma e essas tentam se acertar, vê qual time vai ganhar. O sol descia dando espaço ao escuro céu que logo ganha as luzes dos postes. Umas nem prestam mais. Os meninos atravessam a partida, correndo entre o carimba e o estala da bola de encher, que ecoa quando os meninos mira e soltam a pedrinha em alguém. Acertou ninguém. Lá na esquina otos meninos correm descendo; outro aparecem, fardados e miram pra cima a sua arma que não é de brinquedo, anunciando o fim da partida, do carimba e dos meninos que com seu artefato de cano correm. As ruas ecoavam os gritos, e os barulhos da chinelas daqueles que corriam para se esconder.. Respiração ofegantes daqueles que encontram inquietos. Na esquina anunciam mais... Um... Dois.. Três, chega a ser quatro ... cinco... Nesta noite ninguém dormiria, mesmo sem saber o que houve. As ruas voltam a lotar, todo mundo olha pro lado pro oto, o espaço vazio. A noite nebulosa escura, e agora não faria tanto sentido as luzes dos postes que mesmo fraca pouco iluminava. Nessa noite os rumores apareciam. Mas ninguém sabia o que realmente acontecia, mesmo que o fato tenha acabado com as brincadeiras de rua e também dos tiro de pedra que esvaia dos canos e da bola se encher dos meninos.




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Leo Silva, morador do Santa Filomena - Jangurussu, fotógrafo, escritor e co-autor do livro Saral #2 de Talles Azigon.