O encontro do Pequeno Príncipe com Baby Dietrich


por João Gomes__



O escritor e cineasta pernambucano Wilson Freire lançará no seu canal do YouTube, na data comemorativa dos 77 anos do livro “O Pequeno Príncipe”, mais um filme no gênero documentário. De sua página no Facebook, manda o recado:
Dia 06/04, às 18h, iremos lançar o documentário "O Encontro do Pequeno Príncipe com Baby Dietrich", no YouTube. Salvem a data e fiquem ligados: no dia e horário combinados, disponibilizarei o link do filme. Por enquanto, fiquem com o trailer. Até já!”.




Para a seção falatório de abril, entrevistei por e-mail o diretor e o personagem do documentário, o também pernambucano Jaime Junior, colecionador da obra.

ENTREVISTA COM WILSON FREIRE

Wilson, de onde partiu a ideia de fazer um documentário sobre O Pequeno Príncipe, obra do francês Antonie de Saint-Exupéry?

Estava zapeando no Facebook e no Instagram e vi que Jaime fazia postagens diárias com capas de diferentes edições do livro. Perguntei a ele se era colecionador. Disse que sim. Perguntei se ele toparia me mostrar a coleção para um possível documentário sobre uma série de colecionadores, que pretendia fazer. Ele topou. Marcamos um dia, fui lá na casa dele e rolou.

O filme foi todo gravado por um smartphone. Você teve assistência ou fez tudo diretamente com seu entrevistado?

Fui com a equipe de um cineasta só. Eu, tripé, uma steadicam manual, para smartphone e um rebatedor. Esse equipamento, o smartphone, nos dá essa possibilidade de sermos independentes, de não precisarmos, para esse tipo de filme, em lugares pequenos, com luz ambiente, som captado direto com um microfone lapela, também específico para o aparelho, com um só personagem, principalmente sem nenhum recurso financeiro de patrocínio, para pagar a outros profissionais. Treinei, aprendi e pus em prática. Em uma manhã fizemos as gravações e, logo em seguida, a edição. Tudo no smartphone.

Colecionadores sempre têm boas histórias para contar. No caso do Jaime Junior, que tem uma conta no Instagram chamada @baby.dietrich, como você soube dele e de sua coleção?

Como falei no início, através da minha zapeada pelas redes, atento à coisas interessantes. A conta no Instagram com aquele nome, no mínimo, curioso, despertou minha curiosidade. Já perguntei a ele o motivo dele. Quando me revelou, tinha certeza que estava diante de uma pessoa que tinha muitas coisas boas para um documentário. E Jaime é uma pessoa brilhante, super divertida, inteligente, com sacadas magníficas que, do seu apartamento, em Camaragibe, município que faz parte da região metropolitana do grande Recife, se conectou com os maiores colecionadores do mundo das milhares edições do livro e, com poucos recursos financeiros, através de trocas on-line, conseguiu fazer uma das maiores coleções do Brasil. Tem coisas incríveis. Quem assistir ao documentário, verá.

Durou em torno de quanto tempo o processo de montagem do documentário, foi feito também na palma da mão?

O tempo de montagem foi meio longo, em torno de três meses, pois era realizado nas "horas vagas". E também porque foi um processo de aprendizagem, de descobrir todas as possibilidades de edição do aplicativo, desde o primeiro corte no material bruto, o processo primário de limpeza, os cortes seguintes de ir montando a narrativa, depurando, até chegar no tempo ideal. Depois vem todo o processo de pós-produção, que é correção de cor, edição de áudio, trilha sonora, até dizer pronto. Chega, não aguento mais. Tudo isso na palma da mão.

O lançamento será virtual por medidas de isolamento na pandemia da crise do coronavírus, e isso faz recordar que o livro foi publicado durante a Segunda Guerra Mundial, há exatos 77 anos. Ficou pronto só agora ou a escolha foi lançar sobretudo neste momento de aprendizado universal?

Nesse momento de isolamento, e também da data de aniversário da primeira edição, pensei nesta possibilidade. Já havíamos tentado outras datas, desde o ano passado, em locais público, como a cinemateca do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco e privado, como a Aliança Francesa, onde Jaime fez um contato prévio, depois enviei um projeto, pois tínhamos a intenção de fazermos uma exposição com os livros mais interessantes da coleção, deixar aberto ao público, enfim. Mas não rolou. Não recebemos resposta nenhuma. Fica para outra oportunidade. Depois da pandemia é intenção nossa tornar esta coleção conhecida também do público, principalmente dos estudantes, pois o livro é o maior fenômeno editorial de todos os tempos. Só perde mesmo para a Bíblia. Nenhuma outra obra literária foi traduzida para tantos idiomas e com esta peculiaridade única, que são os livros exóticos de colecionadores. É a parte mais interessante.

ENTREVISTA COM JAIME JUNIOR


Jaime, quem lhe apresentou o livro O Pequeno Príncipe pela primeira vez?

Infelizmente não tenho essa lembrança, não sei como e nem quando um exemplar do livro caiu na minha mão. Creio que foi na biblioteca da escola ou mais provavelmente da Biblioteca Pública Estadual, onde eu era um frequentador assíduo da seção circulante, onde lá também descobri minha outra paixão, a literatura de Caio Fernando Abreu.

Para aumentar uma coleção é necessário fazer às vezes algumas trocas? Você conhece outro colecionador desta obra a que você se dedica?

Sim, praticamente a coleção aumenta com as trocas que são feitas, conheci o colecionador Yildiray Lise, da Turquia, por acaso no Instagram pois ele ficou interessado numa edição que postei no feed, trocamos edições e ele me apresentou “o maravilhoso mundo dos colecionadores de edições d’O Pequeno Príncipe”, traduzindo: me colocou em dois grupos de trocas de colecionadores do livro, coisa que eu nem imaginava que existisse, e foi aí que me surpreendi, existe um mundo à parte só com colecionadores do livro, com uma grande concentração na Espanha e na Turquia. E se eu conheço outros colecionadores? Pessoalmente só conheci o Javier Merás, da Argentina, em 2017, que também é editor das edições mais interessantes que conheço, aliás a edição em francês especular que está no cartaz do filme é dele.

Foram precisos quantos anos para chegar na sua coleção, que possui exatamente quantos itens?

O meu primeiro exemplar eu ganhei em 2003 de uma amiga chamada Suzana Rodrigues, mas o marco zero da coleção, o ano que eu considero como o início da minha coleção é 2014, foi durante um almoço de Semana Santa aqui em casa e conversa vai, conversa vem o assunto caiu em coleção, aí eu disse: acho que tenho uma coleção de livros d’O Pequeno Príncipe, em agosto fotografei e pus no Instagram a coleção até então, mostro até no filme essa foto, tinha 21 exemplares contando com um cd de uma adaptação com Paulo Autran. Hoje tenho 460 exemplares em 166 idiomas diferentes.

Você já fez alguma grande loucura para conseguir um dos seus inúmeros exemplares?

Não é uma grande loucura, mas um atestado de como eu era ingênuo, logo no começo quando ainda não sabia distinguir as edições raras das outras, comprei uma edição inglesa no site Estante Virtual, creio que da década de 70 achando que estava comprando uma raridade, mas não era tão rara assim, lembro que foi cara pois dividi em 10 parcelas. Fato: levei fumo.

Como você reagiu à proposta de ser documentado pelo também escritor Wilson Freire e o quanto carrega de magia para você ser colecionador de uma das obras mais conhecidas da história da literatura?

Primeiro fiquei cabreiro, assustado, uma mistura de sentimentos, pois sou tímido e não conseguia me imaginar filmando um documentário, mas no dia da filmagem fui relaxando à medida que a entrevista/cenas eram filmadas. Wilson sabe muito bem o que está fazendo, é um ótimo diretor. Quanto à magia do livro, bem, as pessoas estranham muito quando digo que coleciono edições do livro O Pequeno Príncipe, a maioria das pessoas, principalmente as que não me conhecem de verdade, fazem uma ideia totalmente errada de mim, ou não, de que sou uma pessoa... como posso dizer? Fria. Mas sempre digo que sou um amorzinho, e se eu acreditasse em signos diria que era culpa do meu signo, Áries.


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Wilson Freire de Lima é natural de São José do Egito (PE), é médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco, pós-graduado em endoscopia digestiva e gastroenterologia, pela Universidade de Münster, Alemanha, produtor cultural, poeta, cordelista, roteirista, cineasta e compositor. Participou das coletâneas: “Novo Conto Português BrasileiroPUTAS, Quasi Edições – Vila Nova de Famalicão/Portugal (2002), “Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século”, Coleção Cinco Minutinhos Ateliê Editorial – São Paulo (2004). Ecreveu: “A Mulher que queria ser Micheliny Verunschk”, Edith (2011), “Haikaiando”, Candiero Produções (2012) e “A Última Voz”, Mariposa Cartonera (2015). Dirigiu os filmes: “Miró: Preto, Pobre, Poeta e Periférico” (2008), “Zé Monteiro, O Homem que venceu as Cinco Mortes” e o longa metragem “Nelson Barbalho, o imortal do País de Caruaru.” – 2014.
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Jaime Junior — Uma pessoa que gosta do cheiro da terra molhada depois de uma chuva rápida, jujubas, torrone, Fanta Uva, bolo de noiva e uma boa conversa ao telefone... Não suporta o sabor de pêssegos nem o cheiro de pepinos... Se emociona com qualquer cena tocante de cinema e realmente acha que música é uma coisa essencial para se viver... Não sabe andar de bicicleta nem assobiar, tem medo de lagartas, mas já comeu tanajuras...e gostou... Adora contemplar o mar, tem boa memória e guarda rancor, rir fácil e se apaixona fácil e não sabe receber elogios... Não acha ruim ser pobre, mas adoraria ser milionário!!!... Esse sou eu.





João Gomes (Recife, 1996) é poeta, escritor, editor criador da revista de literatura e publicadora Vida Secreta. Participou de antologias impressas e digitais, e mantém no prelo seu livro de poesia.