Seis poemas de Stephen Crane traduzidos por Mayk Oliveira

por Mayk Oliveira__

 

 

Intervenção na fotografia de Marek Piwnicki



 

IN THE DESERT

 


In the desert

 

I saw a creature, naked, bestial.

 

Who, squatting upon the ground,

 

Held his heart in his hand,

 

And ate of it.

 

I said, 'Is it good, friend?'

 

'It is bitter-bitter,' he answered;

 

'But i like it.

 

Because it is bitter

 

And because it is my heart'

 

 



NO DESERTO

 

 

No deserto

 

Eu vi uma criatura, nua, bestial.

 

Quem, de cócoras no chão,

 

Segurou o coração na mão,

 

E o comeu.

 

Eu disse: 'Está bom, amigo?'

 

'É amargoso', respondeu;

 

'Mas eu gosto.

 

Porque é amargoso

 

E porque é meu coração'

 




YOU TELL ME THIS IS GOD

 

  

You tell me this is God?

 

I tell you this is a printed list,

 

A burning candle and an ass.

 

 



VOCÊ ME DIZ QUE DEUS É ISTO

 

 

Você me diz que Deus é isto?

 

Eu te digo que isso é uma lista escrita.

 

Um candeeiro e um jumento

 




I SAW A MAN PURSUING THE HORIZON

 


I saw a man pursuing the horizon;

 

Round and round they sped.

 

I was disturbed at this;

 

I accosted the man.

 

“It I futile,” I said,

 

“You can never---“

 

 

 

“You lie,” he cried,

 

And ran on.

 

 



EU VI UM HOMEM PERSEGUINDO O HORIZONTE

 

 

Eu vi um homem perseguindo o horizonte;

 

Girando e girando aceleraram.

 

Fiquei perturbado com isso;

 

Abordei o homem.

 

"É inútil", eu disse,

 

"Você não consegue---"

 

 

 

"Você mente", Ele marejou,

 

E disparou

 





I STOOD UPON A HIGH PLACE

 

 

 

I stood upon a high place,

 

And saw, below, many devils

 

Running, leaping

 

And carousing in sin.

 

One looked up, grinning,

 

And said, "Comrade! Brother!"

 

 



EU ESTAVA NAS ALTURAS

 

 

Eu estava nas alturas,

E vi, abaixo, muitos demônios

Correndo, pulando

E farreando em pecado.

Um olhou para cima, ironizando,

E disse: "Camarada! Irmão!"

 

 

 

 

A MAN WENT BEFORE A STRANGE GOD

 


A man went before a strange God---

 

The God of many men, sadly wise.

 

And the deity thundered loudly,

 

Fat with rage, and puffing.

 

"Kneel, mortal, and cringe

 

And grovel and do homage

 

To My Particularly Sublime Majesty."

 

 

 

The man fled.

 

 

 

Then the man went to another God---

 

The Godof his inner thoughts.

 

And this one looked at him

 

With soft eys

 

Lit with infinite comprehension,

 

And said, "My poor child!"

 

 



UM HOMEM FOI DIANTE DE UM DEUS ESTRANHO

 

Um homem foi diante de um Deus estranho ---

O Deus de muitos homens, tristemente sábio.

E a divindade trovejou alto,

Azedo de raiva e bufando.

"Ajoelhe-se, mortal, e adule

E bajule e reverêncie

Para Minha Majestade Sublime Particularmente."

 

O homem fugiu.

 

Então o homem foi para outro Deus ---

O Deus de seus pensamentos interiores.

E este olhou para ele

Com olhos suaves

Iluminado com compreensão infinita,

E disse: "Meu pobre filho!"

 

 


A MAN SAID TO THE UNIVERSE

 

A man said to the universe:

 

"Sir, I exist!"

 

"However", replied the universe,

 

"The fact has not created in me

 

A sense of obligation

 

 

 


UM HOMEM BRADOU AO UNIVERSO

 


Um homem bradou ao universo:

 

"Senhor, eu existo!"

 

"No entanto", respondeu o universo,

 

"Esse fato não cria em mim

 

 Sentido de obrigação."


 

 

Stephen Crane nasceu em 1871 em Newark, Nova Jersey. Caçula de uma família de catorze filhos, seu pai era um importante pastor metodista; e sua mãe, filha de bispo metodista, uma destacada militante da igreja. Depois de frequentar brevemente o Lafayette College e a Syracuse University, Crane passou a trabalhar na agência de notícias do irmão, em Nova Jersey, e, ao mesmo tempo que atuava como jornalista freelance, ingressou na boêmia da baixa Manhattan. Seu primeiro romance, Maggie: A Girl of the Streets [Maggie: uma garota das ruas] (1893), não teve sucesso comercial, mas foi recebido com entusiasmo por Hamlin Garland e William Dean Howells, que estimularam sua carreira literária.  Com o romance seguinte, “O emblema vermelho da coragem” (1895), ele conheceu instantaneamente a fama internacional. Jornalista, fez reportagens no Oeste americano, no México, na Grécia e em Cuba, assim como em Nova York, tendo transformado várias de suas experiências em ficção. Os contos que escreveu depois da composição de O emblema vermelho da coragem figuram entre as melhores narrativas breves da literatura americana. No entanto são os seus textos poéticos que melhor sintetizam a sua visão do mundo, da humanidade e de Deus. Poucos temas importantes escaparam ao lirismo ora solene, ora bem-humorado, mas sempre crítico, de Stephen Crane, que também era jornalista. Em 1899, fixou-se na Inglaterra com a companheira Cora. O ritmo de trabalho implacável que adotou para pagar dívidas agravou sua tuberculose. Crane morreu em um sanatório alemão em junho de 1900.

 



Mayk Oliveira - Nascido em Delmiro Gouveia nas Alagoas o poeta e escritor Mayk Oliveira é membro do movimento artístico Arborosa situado alto sertão, músico e professor de História e Letras com especialidade em ambas as ciências. Escreveu três livros de poemas: “Livro dos Delírios” (Parresia,2020), “Pétrino Astéri” (Parresia, 2021) e “Alcatrão Com Grilos” (2022), um romance (a publicar) e um livro de contos “Molhados Enxutos” (2021), mas a produção escrita vem desde 2000. Ambientalista de espírito cultiva sua roça orgânica, plantas e flores nativas enquanto salva as pessoas dos riscos sanitários do mundo moderno.