Polifonia Diabólica e 2 + 2 = 5, Valdocir Trevisan

 por Valdocir Trevisan___

 


Textura: Vojtech Bruzek

Nossas ideologias e debates estão tão complexos e paradoxais que podemos dizer que "ah, senhores, é possível que me considere um homem inteligente apenas porque, em toda a vida, não pude começar nem acabar coisa alguma"(Dostoiévski em "Memórias do Subsolo").

 

Incrível, pois passamos a vida inteira, mas inteirinha, ouvindo que aqueles que nunca levam seus projetos até o fim são os fracassados.

 

E agora José? Verdade que conceitos são conflitantes, o consenso é difícil e agradar a todos torna-se missão impossível. Uma mesma frase possui semânticas desiguais, um entende de uma forma enquanto outros interpretam de maneira difusa.

 

E os filósofos ainda complicam ainda mais né? Não, se continuarmos a ter certeza, como diz Dostoiévski, que 2+2=4, não vamos dar passos além de nossas capacidades e ficamos reclusos na sociedade vigilante de Foucault.

 

Ah tá, agora o blogueiro quer convencer que 2×2=5...tá loko.

 

Sim, não, talvez, a proposta é comprovar que se ficarmos "parados" na (in)certeza matemática, sem dar créditos às polifonias, uma certeza eu tenho, vamos ficar estagnados seguindo leis ditadas nem sei por quem.

 

Não é verdade que toda tentativa de dar a última palavra tranca criatividades? Ora, então fugir do trivial é lei, e eu quero ser um fora da lei..."eu não preciso ler jornais...eu não sou besta pra tirar onda de herói, cowboy fora da lei"(Raul Seixas).

 

Não sei, talvez 2+2=4 signifique o início da morte. Ludwig Wittgeinsten descreveu em suas investigações filosóficas que um dos objetivos da filosofia era não chegar a lugar nenhum. Confesso que tal conceito sempre me deixou à deriva, mas acho que com o 2+2=5, começo a entender...

 

A angústia está em reconhecer que 2+2=4 é definitivo. Além disso, Kierkegaard sempre disse que a morte é uma das principais origens das nossas tristezas. Afinal, a morte é uma certeza? Tem certeza? Com certeza, ou não, como não quero acreditar que 2+2=4, também não quero acreditar que a morte é uma...morte.

 

Me esforço para visualizar que 2+2=5. Fui questionado por um seguidor porque falo tanto em morte, tem tanto medo dela assim?

 

Não, justamente porque amo a vida e creio em outras jornadas finais, aquelas do meu amigo Capitão Kirk. E também porque estou fazendo um curso da PUC-Rio sobre as origens do Existencialismo e lá estão Pascal, Kierkegaard, Nietzsche, Dostoiévski.... e a temática é recorrente.

 

Entre conceitos e teorias, a polifonia infernal recrudesce como um labirinto de significados, concordando com a filosofia da linguagem de Wittgeinstein, surgindo novas semânticas ao natural.

 

Isto é, a linguagem instaura diretrizes de ação e mudanças onde nenhuma emergência é sem sentido.

 

E ainda nem falei das sensações, pois elas podem transformar ainda mais nossas frases e deixar às polifonias mais complexas.

 

Wittgeinstein questiona, o que aconteceria com a linguagem que não descreve as essências interiores, como a sensação. Neste caso nossas linguagens não seriam privadas não é mesmo? Como descrever minha sensação em palavras.

 

E a polifonia vai se tornando diabólica, o que devemos salutar, pois pode originar caminhos para o 2+2=5. São muitas vozes.

 

Vozes das Igrejas, do Estado, das autoridades, etc. Vozes que muitas vezes fracassaram. Graças a Deus, pois renascem esperanças para dias melhores. O que eu quero mesmo é controlar meu destino e ter forças para levantar das minhas quedas.

 

E a polifonia pode ser tão diabólica que conceitos "ruins", com o passar do tempo, podem virar coisas "boas".

 

O mal pode se transformar, vejam só. Nietzsche aborda a discussão em a "Geneologia da Moral" onde o Bem e o Mal dançam conforme a música.

 

 Polifonia, elemento necessário para tentar entender o outro, como os bolsominios, se bem que aí agrava o debate, pois se eles não sabem nem que 2+2=4, vão entender o 2+2=5?

 

2+2=5

 

Este texto pode ser considerado a segunda parte da polifonia diabólica.

 

Pode ser não, é.  Seguimos nas revelações da morte de Chestov, quando ele se refere ao 2+2=4 de Dostoiévski. Para eles, essa equação significa a morte. Diziam os russos que "o homem sempre teve medo de ser 2+2=4, e eu até agora, ainda mais. É verdade que o homem só se preocupa em procurar 2+2=4", disse Dostoiévski.

 

Para mim, trata-se de garantir a segurança, vivendo o trivial, e seguiríamos até Marte para garantir nossas seguranças, porém o que acontece quando chegamos lá?

 

 Quando alcançamos nossos sonhos?

 

Não parece que sentimos medo dessas conclusões? Evidente que 2+2=4 é algo formidável, mas sentir que o 2+2=5 está escondido em nosso inconsciente é superar o simples.

 

 É ser teletransportado. E se a razão for para o espaço, talvez o homem racional e sofrido se afaste das leis, muitas vezes infiéis. Sócrates, Mandela e o Lula que o digam.

 

Tenho o dever de se distanciar das classes e instituições controladoras.

 

Quero combater o 2+2=4 e as evidências. Fazer como Santo Antônio e falar com os peixes, ir além do soldado que segue à risca suas ordens sem compreende-las e ter a certeza  que está "em qualquer profecia que o mundo acaba um dia"(Raul Seixas).

 

Por isso Dostoiévski é fascinante, seus paradoxos são essenciais, pois como alguém que é contra o czarismo, condena o comunismo?

 

Suas teses falavam das condições da classe operária já em 1920.

 

Se ele e Chestov se recusam a ficar preso nas malhas racionais, lutemos, então, contra o racional.

 

Estou pronto para a briga. Eu quero o 2+2=5 e ultrapassar as ordens das castas opressoras. Quero coisas impossíveis.

 

Sonha Marcelino...ah é? Adoro esse exemplo, imagine falar na Idade Média que máquinas voadoras com 200 pessoas irão atravessar nossos céus. Fogueira para o louco, direto!

 

Vamos buscar o impossível, já provamos que é possível superar o impossível, será possível...

 

Quando descobri que 2+2=5 existe, "se viajei na maionese", quero as outras saladas. Ter o discernimento de que posso, sim, eu posso almejar algo superior. Vontade dizem os filósofos. Vontade de poder. Como diz aquele outro, se você continuar fazendo as mesmas coisas, com toda a certeza, os resultados sempre serão os mesmos. Não tem outro jeito. Se eu acreditar, de olhos fechados que 2+2=4, nunca, mas nunca mesmo vou entender o 2+2=5.

 

E às favas para as tradições, elas também já foram comprovadas que foram inventadas. Além de tudo e mais um pouco, as paredes e os muros estão por aí para assustar os fracos de espírito. Os construtores de muros sempre estão vigilantes.

 

Sejamos também. Percebem?

 

Lá vou eu lembrar, relembrar, de novo, mais uma vez da... indústria cultural. Prefiro seguir Dostoiévski e Chestov. E ainda que Chestov não goste de "talvez, se, pode ser", uso tais conceitos por humildade e forçar o leitor a chegar às suas conclusões.

 

Os homens parvos e cautelosos até podem serem confundidos como uma pessoa normal, mas não vão, com toda certeza, alcançar o 5, o 5...

 

Eles são os soldados que não debatem suas razões, não criticam a imposição de comportamentos e as manipulações de pensamentos.

Repito, busquemos o algo a mais, não necessariamente o Super-homem de Nietzsche, mas o humanismo de Edgar Morin, o reflorescimento espiritual, a amizade, a sociabilidade. Sentir que não sou soldado de olhos fechados, nem um indivíduo de olhos vendados. Há muitos mortos, vivos.

 

Reivindicamos a liberdade.

 

Como diria Nietzsche, o espírito livre. Apesar do seu niilismo, Nietzsche gostaria de ver todo cidadão "sair do sofá" e revelar nossa força, muitas vezes massacrada pela opressão. É justamente nesses dias, quando estamos abatidos e tristes, fracos, vendo o céu cinza, que devemos lembrar que 2+2=5.

 

  Visualizar a possibilidade.

 

   2+2=5 já.

 




Valdocir Trevisan
é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui