Trocando Influências, poema de Heberton Baptistela

 por Heberton Baptistela__

 






 Trocando Influências

                                                                

                                                                      “...tenho vontade de dizer que eu sou cartólico.”

                                                                                                                    Felipe Moreno

 

O Cesário é Verde,

o Noel Rosa,

o Mano Brown,

o Felipe Moreno,

já o Manoel Alegre.

 

O Adolfo Caminha,
a Florbela Espanca,

mas só o Fernando é Pessoas.


Eu pergunto aos livros:

o que querem os poetas?

Os livros respondem:

o Gregório de Matos Guerra,

já o Octavio Paz.


Se o Augusto é dos Anjos,

o Baco é Exu do Blues,

e a Carolina Maria é de Jesus,

mas eu só rezo mesmo é pra Cartola,

pois sou um cartólico convicto.


Este poema, amigo, é estrambótico

porque eu troco os radicais das desinências

e aí o que era sufixo e prefixo não é mais fixo

e posso escrever que ando Drummondético,

que acordei Quintanástico,

que me Cora Coralinizaram.


Se deixar eu vou Szymborskando os Manoelismos!

E enquanto nada me desNeruda

sigo iMaiakovskível,

Hilda Hilstescente,

porque em verdade

é tudo calculomalandramente neológico.

E daí que quero o que é de Homero?

E daí que ando roubando de Rimbaud?

O que importa é: galera, cadê o Daniel?

Cadê o Daniel, galera?


E ainda tem o Glauco Mattoso

com esse trocadalho do cadilho,

o cara é cego e ainda escreve

e por isso admiro ele pra Cacáso…


Só não chamo ele de Bocage Paulistano

porque odeio isso de chamarem

o João do Rio de Proust Brasileiro

ou o Diego de Bukowski do Amazonas

ou a Bruna de Leminski de saias.

Jorge Amado! A crítica às vezes só faz jumentação.

Até o Kobayashi Issa acha isso

e nem era pra rir mas o Reiner Maria Rilke.


E ainda teve aquela vez

em que eu lia a poesia Russa

logo na sequência da Uruguaia

e aí parei para escrever um poema

onde o Mario Benedetti

se encontrava com a Anna Akhmátova

e os dois ficavam no maior tranquilóvsky.


Não podemos esquecer de avisar

às futuras gerações de poetas

que se tu enfia uma garça num trocadilho

o recurso fica esgarçado, fechou?


E aproveito também para deixar

para um poeta melhor do que eu

isso de trocadilhar os nomes

de outros poetas que não entraram aqui,

porque é muita gente que eu ainda não li,

embora a Rita Lee, a Negra Li e etcetera e etcetera…


Bem, o Eucanaã já está mandando eu me Ferraz,

então por hoje é isso, acabou, zefini, falou, valeu,

(mesmo que você não baixe este poema, o Matsuo Bashô)

com sua licença poética:

a Ana Martins que se Marques.

 

 

 



Heberton Baptistela
é professor de língua portuguesa e literatura, autor do livro " A vulva da viúva negra" (2017), seu livro de estreia. E se não pudesse se render a ideias melhores já estaria morto.