Arte serve para romper, ensaio de Adriano Espíndola Santos


por Adriano Espíndola Santos__





É pacífico o entendimento segundo o qual a arte é um processo vivo, que acompanha os movimentos da civilização, a forma de expressão humana e sua relação com o mundo. Cumpre dizer que a arte, em dados momentos, se inspirou em outras instâncias, como o caso da arte romana, que se baseou na cultura e na arte greco-helenística; é o fato das edificações imponentes, que expressavam a beleza, a força e a grandiosidade de seu povo. Já a arte autônoma tem a sua própria concepção de existir, sem que, para isso, tenha se apegado ao estilo e aos princípios de outra cultura; é uma ruptura com o tempo, para chocar e provocar um novo olhar. Para exemplificar, trago a arte através da arquitetura, o anfiteatro romano, o Coliseu, que possui uma representatividade histórica marcante; era usado para o divertimento, com gladiadores, e com os cristãos, que aí eram confinados para o massacre. A relação do Coliseu com a cultura grega tem a sua raiz na grandeza e na expressão da beleza, que os romanos incorporaram e, a partir daí, fundaram novas formas, a toscana e a composta. Para demonstrar a descontinuidade com a ordem vigente, anárquica, tem-se o dadaísmo: “Os seus alicerces são os da repugnância por uma civilização que atraiçoou os homens em nome dos símbolos vazios e decadentes”. (SOUZA, 2009, p. 17). Uma obra relevante, para demonstrar a nova práxis, ou a significação da antiarte, é a “A Fonte”, concebida por Marcel Duchamp. O autor, com o pseudônimo R. Mutt, assinou a obra, um mictório, e o inscreveu numa exposição de arte. O bizarro, o estranhamento, “a purgação dos sentidos” pela catarse, como definiu Aristóteles em “Poética”, tão caros à arte, cumpriram o seu fim. A escolha de duas representações diametralmente opostas, o Coliseu e “A Fonte”, tem o propósito da reflexão, de que a arte está no grande, no luxuoso, e num objeto que poderia ser considerado comum ou insignificante. Nessa perspectiva, Walter Benjamin, expoente da Escola de Frankfurt, corrobora com o pensamento de que o Dada deturpa a lógica e os cânones; “O seu impulso só agora se toma reconhecível: o dadaísmo tentava criar, através da pintura ou da literatura, os efeitos que hoje o público procura no cinema” (BENJAMIN, 1955, p. 17). Ou seja, o Dada tinha como abrangência o fenômeno do escândalo. Para Walter Benjamin, no dadaísmo a arte adquiria uma experimentação tátil, como ocorre no cinema, onde o espectador busca o entretenimento tátil, representativo pela construção de lugares e ações, que tem como desígnio o choque. 




Referências


Arte Romana. Disponível em: <https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-na-antiguidade/arte-romana/>. Acesso em: 04 de maio de 2022.


BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4179833/mod_resource/content/1/A%20OBRA%20DE%20ARTE%20NA%20ERA%20DE%20SUA%20REPRODUTIBILIDADE%20T%C3%89CNICA.pdf>. Acesso em: 02 de maio de 2022. 


BUENO, Sinésio Ferraz; SANITÁ, Karina Constancio. A Relação entre Arte e Sociedade à Luz do Conceito de Autonomia Estética de Adorno. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/trans/a/vx3yQ6FhCvdfBPcMQ8SYQ8k/?lang=pt>. Acesso em: 05 de maio de 2022.  


CRUZ, Talita. A arquitetura romana e seu grande legado para o mundo ocidental. Disponível em: <https://www.vivadecora.com.br/pro/arquitetura-romana/>. Acesso em: 04 de maio de 2022.


Fonte, Marcel Duchamp. Disponível em: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/fonte-marcel-duchamp/>. Acesso em: 05 de maio de 2022. 


LIMA, Luiz Costa. A autonomia da arte e o mercado. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ars/a/KBnJ6JcrQmgLLqkJtNpwMzq/?lang=pt>. Acesso em: 03 de maio de 2022. 


QUEIROZ, Álvaro. Sobre o conceito de catarse na poética de

Aristóteles. Disponível em: <file:///C:/Users/adria/Downloads/214-Texto%20do%20artigo-770-1-10-20131106%20(1).pdf>. Acesso em: 03 de maio de 2022. 


SOUZA, Juliana de. A magia das vanguardas em Walter Benjamin:

Arte, Política ou Revolução. Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Estadual Paulista. Marília, 2009. 


VASCONCELOS, Yuri. O que foi o Coliseu de Roma? Disponível em: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-foi-o-coliseu-de-roma/>. Acesso em: 05 maio de 2022. 





Adriano Espíndola Santos é natural de Fortaleza, Ceará. Em 2018 lançou seu primeiro livro, o romance “Flor no caos”, pela Desconcertos Editora; em 2020 os livros de contos, “Contículos de dores refratárias” e “o ano em que tudo começou”, e em 2021 o romance “Em mim, a clausura e o motim”, estes pela Editora Penalux. Colabora mensalmente com as Revistas Mirada, Samizdat e Vício Velho. Tem textos publicados em revistas literárias nacionais e internacionais. É advogado civilista-humanista, desejoso de conseguir evoluir – sempre. Mestre em Direito. Especialista em Escrita Literária e em Revisão de Textos. Membro do Coletivo de Escritoras e Escritores Delirantes. É dor e amor; e o que puder ser para se sentir vivo: o coração inquieto. instagram:@adrianoespindolasantos | Facebok:adriano.espindola.3 email: adrianoespindolasantos@gmail.com