A última onda, crônica de Valdocir Trevisan

 

por Valdocir Trevisan__

 



Vocês sabem, sou do mar, da praia, mas adoro uma cabana no frio das serras, também. Tudo faz parte, mas minha existência sempre esteve ligada ao oceano, suas ondas, suas cores. Nada como ficar olhando suas ondulações, claro, com umas "geladas" próximas, bem próximas.

 

Pena que não tive a genialidade de um Monet, que também manteve uma proximidade com as águas, basta ver suas pinturas.

 

Porém, desta vez vou propor uma metáfora, mas antes quero revelar meu sorriso interno, pois sempre que cito a palavra metáfora lembro do filme O Carteiro e o Poeta quando Pablo Neruda ajuda um apaixonado, que em sua jornada leva um corretivo da mãe da moça da qual o desejava expressar o seu amor.

 

O carteiro então pede ajuda a Neruda e suas preciosas metáforas que encantam a jovem, apesar da velha não engolir e ficar de olho nessa parceria de conquista.

 

Voltemos às ondas derradeiras.

 

As ondas invisíveis.

 

As ondas da felicidade.

 

Como, você não sabe onde elas estão?

 

Não tenho certeza, mas imagino onde elas se escondem. Ainda assim, se você souber, me diga, pago o que for necessário.

 

Ora, já vivi as ondas da infância, da adolescência e agora, estou vivendo as ondas de hoje e acho que conheço as ondas infinitas.

 

Mas, insisto, quero encontrá-las daqui 30, 40 anos e por enquanto proponho valorizar doutrinas corretas, ou pelo menos, aceitáveis.

 

E me afastar daqueles que dão valor a coisas insignificantes e que dizem geralmente o que não devem. Quero paz no meu coração.

 

Se "Ele" desejar, quero mais uns trinta anos de ondas, pois desconfio que as ondas invisíveis realmente existem...depois...

 

Desconfio não, sei, elas me pertencem e espero encontrá-las, como disse, daqui trinta anos.

 

Uma certeza já está inserida no meu âmago, elas existem e vou curtir suas espumas brancas na eternidade.

 

Como dizem certos gaúchos, "apára" Pedro, não me conversa meu. Não é meu objetivo, se você ainda não conhece as ondas eternas, as últimas ondas, ou pior, não acredita nelas, não posso debater o livre arbítrio.

 

Ora, como não vou acreditar na última onda se já vivi as ondas da infância, da adolescência e estou enamorado das ondas adultas.

 

Como diria Schopenhauer, pretendo viver as ondas de Júpiter (daqui, portanto, trinta anos). O filósofo alega que o prazer nessa fase, está na calma. Pode um filósofo desses ser considerado pessimista?

 

A última onda está lá, para ser descoberta. E pode quebrar outras ondas, a dos pessimistas e céticos.

 

E até mesmo esses vão descobrir que lá, naquelas ondas invisíveis, só existem pessoas generosas, humanas.

 

Acho que vocês já estão percebendo de que ondas estou falando, ondas invisíveis, mas reais. Ondas espirituais, quem sabe...

 

Uma onda, um mar, um oceano escondido no interior que não enxergamos, porém, aqueles que sabem que elas existem estão a léguas de distância.

 

Eles sabem.

 

Pena que muitos insistem em derrubar esse avanço.

 

Pena que a resiliência também serve aos cabeças de pedras.

 

Pena que o material e o capital impedem o visual das ondas lindas infinitas, invisíveis e... derradeiras.

 

E ainda menosprezam com o consumo que afasta essências humanas onde o Sol perde sua majestade.  O Rei Sol quer apenas aquece seu corpo e alma nas ondas infinitas do humano, o demasiado.

 

 Afinal, aquele calor grita quando estamos perdidos.

 

 

Não quero ter esse discernimento apenas nas últimas ondas, quero (e sei, já disse), flutuar nas ondas invisíveis eternas do Capitão...



Impressão, nascer do Sol, Claude Monet











Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Autor do livro de crônicas Violências Culturais (Editora Memorabilia, 2022) Para acessar seu blog: clica aqui