Dois poemas e trecho do livro Por osmose, de Vítória Gabriela

 por Vitória Araújo__




Há tempos eu não me sentia bem-vinda  

mas esperei por sua despedida 

você não pareceu se incomodar com meu silêncio  

quando soube que ele seria o último 

se houvesse alguém para que você pudesse endereçar um carta eu me pergunto se sua capacidade de despersonalização  chegaria até minha confusão  

falar de outros para que esqueçam de quem vem as notícias já que a idiotice-em-se-ofender-com-facas-que-não-foram-atiradas-a-você é minha e totalmente minha  

pelo menos foi o que deu para entender  

quando eu rolei da escada e você disse que não se importava já que a causa foi grudar na cola que estava ali para pegar ratos  eu nunca gostei de queijo  

mas as vezes a vida pelas brechas é tudo que vejo  

a rata sou eu 

você pegou seu alvo se sente aliviado? 

- Para: meu próprio egoísmo.


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Quero morar nos momentos de estadia.  

Quando o vento passa diretamente  

no rosto refrescando as lágrimas 

afirmando é bom que você esteja aqui 

quando o quente do leite chega ao meio do peito ao meio da estrutura corporal 

e desliza seu caminho abraçando com a temperatura  os órgãos que estão ali lutando no escuro por mais tempo  e mais energia vital.  

Quando os nervos relaxam em posição fetal  

se lembrando de como era bom  

quando ainda não tinham descoberto o quanto iriam expandir, mas com a certeza de que é muito melhor assim.  Quando David Bowie grita Oh no love, you’re not alone!  em sua música que desaparece no tempo assim que acaba  até que alguém dê play novamente  

e o grito estará ali sempre presente. 

Quando há uma folha limpa e paciente  

esperando pelo seu descarrego raivoso; 

são todos momentos que pertencem ao pertencer. Quem não quer morar na facilidade de ter?


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(...) tive um sonho onde estou caindo  

em uma escada caracol  

e havia tantos insetos esperando por mim embaixo  que eu não descia, a escada mexia e tremia e eles subiam eu gritava mas ninguém ouvia 

todos riam logo acima 

então em um desequilíbrio  

eu acertei com um chute o aquário que estava no fim da escada um peixe agonizava, morria por minha culpa  

e eu não conseguia fazer nada  

mesmo quando morria, eu ainda matava.






Vitória Gabriela tem 20 anos (2002) e jeito com as palavras. Nascida em São Paulo- SP, filha de pais baianos, escreve desde a infância e atualmente além de possuir material disponibilizado on-line, participou da antologia Alma em Letras (Editora Exílio do Jaguar) e da antologia Poesia Viva 2022 (Coletivo Fomento Literário).