Poemas do livro Da Costela do Impossível, de Marcela Alves

 por Marcela Alves___








Da pertença 



quando nasci

o amor garantiu

que fôssemos eu e a realidade

uma coisa só

permitiu 

que criasse o mundo

abrigasse tudo

a sorte de pedir e ter


quando descobri que não sou deus

e que nada me deve a vida

eu caí em mim

e aquele amor primeiro

me livrou da queda infinita


o destino do colo é virar chão

o destino do homem é abrigar outro homem: 

bicho apanhador de horizonte entre

uma queda e outra




Trecho do poema “A terceira realidade”


(...)


da costela do impossível o poema nasce

e o verbo que não se faz carne

também habita e ronda os azuis

entre o que é e o que não pode ser

há uma terceira realidade

pois é dela que eu vivo

e inauguro a manhã





Ressureição


Ressurreição

mesmo que tenham desligado

aquelas máquinas

interrompendo bruscamente o sol

que nunca mais vai nascer

em seus olhos

ainda que esteja agora 

o mundo

vagando sem utilidade

por não mais conseguir entrar

pelos seus poros

e diante de todo horror

que me anuncia

a noite sem clemência

ao me aproximar

ternamente

do seu corpo

apanhei seus sonhos

quentes ainda

respirando na minha mão






Marcela Alves
(@amarcelaescreve) nasceu em 1991, em Divinópolis, MG. É psicóloga formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especialista em psicologia da saúde e atua na prática clínica. Escreve desde a infância. “Da costela do impossível” (Urutau) é seu primeiro livro.