Poemas do livro Recife Anfíbio, de Alexsandro Souto Maior

 por Alexsandro Souto Maior__




                                                 



Cinema São Luiz

 

 

O cinema São Luiz é a ficção da Boa Vista

 

Uma narrativa fluida contra o cotidiano

 

e o concreto armado em seu derredor

 

Ora espelho, ora janela para além-mar

 

O São Luiz é a película da película

 

É casa onírica da cidade onde habitam Cronos

 

E a senhora Saudade

 

 

 

Ela dança

                                                                                             

Ela dança

                Ritmada no ofício do encanto

                               Ela se espalha pelo salão de espelhos

                                               No balanço sutil de suas ancas               

                                               Ela é templo, tempo e devoção

                               Faz um solo de ave

                Um cisne na escuridão

Ela dança

                Descompassa olhos de rapina

                               Um balé de grandezas

                                               Convidando a todos

                                                a serem uma divinal borboleta

                               uma sereia, um escrito de ilusão

Ela dança

 

 

 

 

Azul em desvario

 

 

Viu a franja do mar

 

assanhada pelo vento?

 

Toda vez 

 

em tempo de ressaca

 

Há algo violento naquele azul

 

É como se nada tivesse controle

 

O horizonte vira um desmantelo 

 

Diante dos olhos carcomidos do inverno

 

 

Toda vez que o mesmo mar grita

 

Ele sacode umas reminiscências, dispersa meus versos

 

E fatal e disciplinadamente me reorganiza

 

 

 

 

 

Itinerário de Miró

 

A Miró de Muribeca

 

 

Deve ter um Ônibus 

 

Que me leve para algum sonho mais próximo

 

Um bar sem as ilusões costumeiras

 

Para eu pôr palavras na mesa

 

E gritar umas esperanças

 

E quando a noite fechar as portas dela

 

E eu me despedir

 

Os versos fiquem lá

 

Lembrando ao mundo todo

 

Que a poesia precisa resistir

 

 


Alexsandro Souto Maior - Escritor, ator, diretor de teatro, produtor cultural, ator e professor de literatura. Em 1995, começou a fazer teatro. Ele teve seus primeiros poemas publicados em 1997 nos jornais O pão e Diário do Nordeste, ambos do Ceará. No ano de 1999, atuou na peça O Público, de Federico Garcia L'orca, e Antônio Conselheiro, de Joaquim Cardoso. Em 1999, ao fundar com Eron Villar o Engenho de Teatro, iniciou a sua trajetória na dramaturgia com O terceiro dia. Foram dezenas de peças de teatro como Luzia no caminho das águas (2005) 3º lugar no Prêmio Funarte de Dramaturgia (assinou a direção e as músicas com Eron Villar); Jeremias e as Caraminholas (2011), ambas para criança e juventude; Mariano, irmão meu, Prêmio Cidade de Manaus, teatro adulto, 2011. No ano seguinte, estreou a peça Mariano, irmão meu, atuando ao lado de Tatto Medinni, sob direção de Eron Villar. O autor também escreveu  Alcateia, 2016; O discurso do Rato, 2018/2019. Eu e os Avelós, Prêmio Cidade de Manaus, categoria Teatro Adulto, 2017; Tempo de Flor, Prêmio Ariano Suassuna 2018, categoria de teatro para criança e juventude. Em 2019, a peça foi montada pelo Grupo Pé de Vento de Arcoverde.  Além dos textos dramatúrgicos, ele é autor das obras literárias: Servis Amores Senis, conto, (2010); Árido, poesia, (2015); Inflamável, poesia, 2019. A Seiva, Menção Honrosa pelo Prêmio Edmir Domingues, categoria poesia, concedida pela Academia Pernambucana de Letras (2019).  O livro de contos, Inglórios (2021) e o de poemas Recife Anfíbio (2023), são seus trabalhos mais recentes.