A arte vive | Leida Reis

 por Leida Reis_



Fotos: Carlos Monteiro
                                                             
Quem visita Buenos Aires não deixa de incluir no roteiro o Cementerio de la Recoleta, assim como em Paris uma atração de destaque é o Père Lachaise. O Rio de Janeiro também tem endereços cemiteriais de belezas artísticas e arquitetônicas, e o São Francisco Xavier, ou Cemitério do Caju, é um deles. Há muito, o preconceito e o temor dos mortuários vem deixando de existir, e esses locais transculturais passam a atrair olhares dos apreciadores de arte. 

Um desses visitantes atentos, o fotógrafo Carlos Monteiro, por sete anos focou em esculturas, túmulos de famosos e anônimos, na natureza invadindo o espaço, nos detalhes onde a morte contrasta com a existência, gerando presentes estéticos nos quais quase nunca reparamos. Assim, deu vida a um lugar de despedidas, e eis aqui o belo São Francisco Xavier – Necrópole do Rio

Afinal, como não celebrar a beleza tumular? É a pergunta que ele nos faz com esta seleção de fotografias. A morte passeia por outras manifestações da arte. A admiração por Pietá – Maria tendo no colo o corpo morto de Jesus Cristo – e Perseu com a cabeça da Medusa, escultura do italiano Antonio Canova, são dois exemplos. Para não falar de outras vertentes, como cinema, teatro, literatura, música e pintura cultuando também o tema. Então, por que não admirar a arte no espaço onde jazem os corpos, inclusive dos próprios artistas?

No Cemitério São Francisco Xavier há mais do que túmulos de famosos, como Tim Maia, Dolores Duran, Noel Rosa, Orlando Silva, Elizeth Cardoso, Cruz e Souza, Artur de Azevedo, Emilinha Borba, Cartola, Dona Zica, Dona Neuma, José do Patrocínio, Bezerra de Menezes e tantos outros. O primeiro cemitério do Rio, instalado em 1839 para enterrar os escravizados e os indigentes da cidade, é aconchego derradeiro também de anônimos e de uma arte que é pura cosmovisão. 

Carlos Monteiro tem a sensibilidade das lentes para captar luzes e cores em meio ao cinza que normalmente domina o ambiente cemiterial, para reparar em detalhes de fé e encanto e nos trazer um resultado de extrema beleza. Depois da caminhada por estas páginas, não se poderá pensar em cemitérios com o mesmo sentido. 


                                                                    
                                                          
                                                                 
                                                                   
                                                                              













Leida Reis é escritora, jornalista, master editora de livros na Páginas Editora de Belo Horizonte (MG) e empreendedora. Passou pelos principais veículos mineiros e é diretora de projetos da Academia Mineira de Letras. Ativista das lutas culturais femininas foi convidada pelo cronista Carlos Monteiro para participar desse espaço.





Carlos Monteiro
 é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.