por Theo G. Alves __
todas
as vezes em que me perco
todas
as vezes em que os dias me penduram
pelo pescoço
em coloridos galhos de
cerejeiras
todas
as vezes em que a vida é grande demais
para ser percorrida
por
pés descalços
todas
as vezes em que os relógios já cruzaram
os
braços
e
as aves diurnas
já
assinaram o livro de ponto
todas
as vezes em que a insônia branqueia
as
noites
de pouca esperança
todas
as vezes
todas
as vezes
em que só nos resta
amor.
a chuva
antes de ser água
a chuva
é barulho
antes
de pregar
as camadas de pó
ao asfalto
antes
de correrem
as moças
com seus guarda-chuvas
antes
de lavar
os meses de estrada
dos carros
antes
de levar
para as ruas
as crianças
antes
de verdejar
o feijão
sobre a terra
antes de ser água
a chuva
é barulho
tamborilando
sobre os telhados
evaporando
sobre o pó dos dias
barulho
como se todo o mundo
fosse um ventre
em que chovesse
por dentro
porque
antes de ser água
a chuva
é barulho
barulho
e
perfume.
sob o pó
sobre os dias
uma camada de poeira
tão densa
que mal se pode ver o
presente
sob o pó
todos os móveis parecem
fantasmas
cansados demais
para irem embora