Garçom, aqui nesta mesa de bar… | Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro__



                                                                             
                                                               
                                                                             
                                                                              
                                                                                 

                        


Garçom, aqui nesta mesa de bar…


Dizem que quando o garçom te conhece pelo nome algo está fora da ordem: ou o pendura já está descontrolado ou o bar é bom demais da conta sô, em homenagem a capital do buteco brasileira: Belo Horizonte que, quando em vez, o belo fica muito mais distante no horizonte: depende das calibrinas ingeridas e acompanhadas do torresminho de fé.


Seu garçom faça o favor de me contar depressa outra história, pode ser de amor, já que o bar Fecha Nunca estava fechado. Desce aquela loura vestida de noiva e põe a linguiça do tira-gosto. Só tem uma coisa, garçom amigo, se eu dormir não me deixe aqui no chão porque a Dama de Vermelho está a minha espera, olha ali pelo espelho.


Histórias ouvi, histórias contei e, como o bordão do fofoqueiro, “eu aumento, mas não invento…”. Tem a história do Bill do Bola Bar, um clássico mineiro da estufa no Padre Eustáquio, que quase veio para Rio para morar e trabalhar, apaixonado pela Lapa, só não o fez porque o contratante ‘era muquirana e mão fechada’ e não quis chegar junto com o salário. Perdeu o Rio, ganhou Belzonte!


Tem a história do garçom cujo nome é de ídolo dos anos 1970: Johnny, mas que na verdade não é uma homenagem ao cantor estadunidense de folk, feita pelos pais. A história tem requintes de programa de TV dominical. O nome foi dado em homenagem a um primo médico, morador em uma cidade vizinha, distante 50 quilômetros. Tudo normal se não fosse o detalhe de não se conhecerem até hoje, passados mais de 40 anos.


Tem a história da dupla Ximenes e ‘Ceguinho’, que usava um fundo de garrafa digno dos cascos das Brhamas antigas, cujas garrafas eram esverdeadas — sim queridos leitores, nos anos 1970 o capacitismo era, infelizmente, moda para apelidar pessoas; nós não sabíamos o que fazíamos. Os dois eram inseparáveis, algo parecido com o Batman e o Robin. Trabalhavam na boite do Castelinho ali na orla de Ipanema. Aquele trecho da praia recebeu o nome de Castelinho em menção ao famoso bar.


  Moravam perto, batizaram filhos um do outro, casaram-se com irmãs, sendo, portanto, cunhados. O mais incrível é que o ‘Ceguinho’ tinha visão subnormal, via apenas vultos, os óculos eram, praticamente, mero adereço. Mesmo assim era um profissional de mão cheíssima, não errava um pedido, fazia contas de cabeça e, jamais, esquecia os 10%.


Histórias não faltam e não faltarão. Então, pede uma ‘bunda de foca’, uma ‘mofada’, uma ‘estupida’ onde sempre o primeiro gole tem donos: Seu Zé e a Dona Maria Navalha. 


Chama o garçom de fé que, nos tempos atuais, tem só um nome ou só o sobrenome. Eles, invariavelmente, não têm mais apelido a não ser o Lima, que nos áureos idos dos anos 1980 comandava as bandejas do Aurora raiz e na verdade se chama Hermínio, o Lacerda do Bar Lagoa, o Sassa do Braseiro da Gávea... e senta que lá vem história.




Carlos Monteiro
 é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.