Poemas do livro Talvez este não seja o meu ano, de Jules de Faria

 por Jules de Faria__








#2

Acreditei um dia

Ter potencial


Talvez não tenha

Espero que não!


Pois não se trata

De virtude natural


Potencial é dado

Pelos outros


Não como bênção

Mas como limites


Não como regalo

Mas como ofício


De cumprir com o que 

Se espera de mim


Não me esperem, não

              Já fui 




#6

O desespero por transparência

Não tem apetite por conexão

É fuga para quem a vomita

A depressão de quem a recebe

Se enche e se aplana

Rapidamente 

De opiniões tão plásticas 

Que não há humanidade

Capaz de elaborar 


Sobrecarregada, percebo

– Vocês quiseram me afogar 

Para me vender 

Ar




#7

Enfeitiçada pelo som da minha voz

Achei que eu e meus feijões mágicos éramos um só

Só que os moinhos trabalham de sol a sol

Moendo moendo moendo 

O que sobra quando tudo vira pó

E grãos inteiros reclamam meu espaço?


O que brota e desabrocha 

Se mostra deslumbrante

Mas vivacidade mesmo

Está na mão que planta 


Aprendi no inverno duro que cultivar é paciência

Entender que o momento de morte desse ciclo 

Se apresenta como a noite que desbota pensamentos

E traz, para remediar, novos sonhos




#10 

O espetáculo do eu mesma 

Precisa se apresentar todos os dias

Quando as cortinas se fecham

O público esquece

Que a protagonista existe






#20

Entre o horroroso                                         e o maravilhoso da vida


                                  o banal 

                             a costura do dia a dia





Jules de Faria (@ju_faria) é uma otimista praticante e gosta de transformar seus sonhos em palavras. Não à toa, é jornalista, poeta, escritora e consultora de comunicação. Fundou a Think Olga, uma das ONGs de direito das mulheres de maior relevância do cenário nacional, e atuou como presidente da organização até 2020. Lançou campanhas como Chega de Fiu Fiu e #PrimeiroAssédio. Em 2022, criou o Estúdio Jules, onde dá contornos para propósitos e ideias visionárias por meio de storytelling e branding. É também mãe de dois meninos, Jonas e Leo, e de uma bebê breve, Lila. "Talvez este não seja o meu ano" (Paraquedas, 2023, 56 páginas) é sua estreia na poesia.