Uma conversa sobre o fazer literário com Myriam Scotti

 por Divulgação__


                                                               
ENTREVISTA | Explodindo bolos com Myriam Scotti: uma conversa sobre o fazer literário

Myriam Scotti, escritora manauara e mestre em literatura, lançou na Flip 2023 o livro "Receita para Explodir Bolos", pela editora Patuá. Com 38 poemas, a obra explora narrativas cotidianas, abordando temas essenciais como feminismo, alteridade, autoconhecimento, amor e maternidade. Elizabeth Cardoso, crítica literária, descreve a poesia como um "vácuo poético" que abraça solidão, desejo, incompreensão e memórias.

Reconhecida pelo Prêmio Literário de Manaus em 2020 com "Terra Úmida", Scotti revela, em entrevista, sua jornada literária desde 2012, iniciada com um blog de crônicas maternas. É influenciada por grandes nomes como Emily Dickinson e Clarice Lispector. No universo poético de Scotti, as palavras são gestos que cativam, transportando-nos para a essência do humano.

Leia a entrevista com a Myriam Scotti:

1 - O que motivou a escrita do livro “Receita para Explodir Bolos”? Se você pudesse resumir os temas centrais, quais seriam?

O livro é a reunião de poemas desde 2020. Conforme fui agrupando, percebi que havia um livro nascendo. O processo foi sem pressa, sem prazo. Quando atingi um número bom de poemas, reli e escolhi aqueles que conversavam entre si e me davam uma temática.

Feminismo, alteridade, autoconhecimento, amor e maternidade são temas presentes em todas as minhas obras. Temas que me inquietam e me provocam escrever.

2 - Em sua análise, quais as principais mensagens que podem ser transmitidas pelo livro?

Acredito que revela (ou nos leva a refletir) sobre a multiplicidade do ser humano, através de seu cotidiano, ora brando e amoroso, ora feroz e vacilante. Estamos sempre em construção, pois como escrevo num de meus versos, corpo não é fim, é caminho…

3 - Quais são as suas principais influências literárias? Algum livro especificamente influenciou “Receita para Explodir Bolos” diretamente?

Na poesia: Emily Dickinson; Augusto dos Anjos; Hilda Hilst; Ana Cristina Cesar. Na prosa: Machado de Assis; Guimarães Rosa; Clarice Lispector; Toni Morrison; Elena Ferrante; Annie Ernaux etc.

Mas minhas obras são acúmulos de vivências e leituras, não há apenas uma influência para apontar.

4 - Como a bagagem dos livros anteriores que você escreveu ajudou na construção do seu livro mais recente?

Tendo a acreditar estarmos sempre reescrevendo as obras que lemos e que incorporamos após a leitura, numa contínua reinvenção da obra e de si mesmo. Ao escrevermos, descobrimos quem somos ou quem nos tornamos a partir de nossas leituras do mundo e dos livros que nos atravessam durante o nosso percurso.

5 - Como você definiria seu estilo de escrita? Tem algum processo?

Tento uma escrita destemida, verdadeira comigo mesma. O processo é de muita, muita leitura. Antes de escrever preciso me nutrir de palavras.

6 - O que significou para você a conquista do Prêmio Literário de Manaus em 2020 com "Terra Úmida"?

Além de uma alegria quase inenarrável no momento em que vi meu nome escrito no diário oficial, significou o reconhecimento dos três anos de escrita do romance e dos anos anteriores de oficinas de escrita, quando me debrucei sobre a literatura e sobre mim mesma de um modo nunca experimentado.

7 - Você tem algum ritual de preparação? Tem alguma meta diária?

Não tenho meta diária, mesmo quando escrevo romance. Nem sempre a disposição é a mesma e respeito meu estado de espírito.

8 - Você escreve desde quando?

Comecei a escrever em 2012, quando inaugurei um blog de crônicas maternas. A intenção era me ajudar a compreender melhor o novo momento pelo qual estava passando. Aos poucos, notei que o processo de escrita me cativava como profissão e não apenas como escape.

Então, vieram as primeiras histórias infantis e depois oficinas de escrita literária para alcançar mais robustez na escrita.

9 - Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?

Estou às voltas entre dois romances. Um bem contemporâneo e outro histórico, que me exige muita dedicação à pesquisa antes de escrever a história em si. Embora haja momentos de agonia pela busca da palavra, A palavra, gosto muito do processo de escrita. Vou me transformando e me moldando junto com a história, nunca saio a mesma.