por Valdocir Trevisan |
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Foto de Jr Korpa na Unsplash |
Passeando como um autêntico flâneur vejo uma placa, dessas igrejas que rondam nossas esquinas, me chamou a atenção. “Vem Ser”… Curioso… “Vem Ser”, creio que deve estar se referindo ao ser humano, nós, simples mortais. Seguindo meu caminho entre ruas e avenidas fiquei pensando na mensagem… “Vem Ser”… Não, não é vencer, é “Vem Ser”… Vou… Bom, vou tentar “ser” um indivíduo humano, demasiadamente humano.
Mas… não precisa vencer?
Taí, uma proposta na origem, na luta contra o mal-estar da civilização, não priorizando o vencer a qualquer custo.
Uma mensagem diferente daquelas “Como vencer na vida”, “7 Leis para o Sucesso”, “20 sinais de Riqueza”, etc.
Buscando o âmago, o interior, a paz no subsolo, na humanidade, sim, o resto… bom, o resto é o resto.
Meus cavalos são aqueles que Guliver conheceu.
Amigos fiéis.
Não quero ser apresentado ao cavalo “senador” Bucéfalo do louco imperador Nero.
Não busco amigos fiéis, como o escritor Jelson Oliveira lembra “um amigo fiel é uma poderosa proteção, um amigo fiel é como um bálsamo de vida”(Eclesiastes 6,14).
Venha.
Vem meu amigo.
“Vem Ser”…
Não há necessidade de vencer (bom, evidente que vencer sempre é salutar), mas a essência, a proposta é “Vem Ser”, daquela bendita placa.
Uma placa.
Um tapume.
Um outdoor.
Uma igreja.
Não importa, o “ser” agora é o cume… calmo… da sombra sonora… É o acordar do homem ridículo de Dostoiévski. Aquele possuído, suicida, mas que dormiu, e sonhou com outros “seres” acalmando o espírito.
Recuperou sua estima e aceitou seu empirismo.
Sonhou com o “Vem Ser”.
Acordou com melodias celtas em seus ouvidos.
Entendeu que suas ideias são suas, fazem parte dele.
Num dos contos de Tchekhov, numa casa de banhos, um servidor ficou admirado com um Papa por suas opiniões e após discordar do homem santo, sem saber que era um diácono, solicitou que ele se calasse, mas depois pediu desculpas “por pensar que o senhor tem ideias na cabeça”.
Pobre homem com conceitos rasteiros e racistas.
Este não será bem-vindo à suposta igreja, o seu valor é vencer, sua alma não percebeu ainda onde fica o cume calmo… do disco voador… com seres humanos ou com os orelhudos parentes do Dr. Spock…
Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Autor do livro de crônicas Violências Culturais (Editora Memorabilia, 2022)
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