Cari Oca | Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro | 


Cari
                 oca.

Foto: Carlos Monteiro

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No princípio foram criados os céus e a terra, fez-se a luz e Deus, em sua infinita beleza, criou o Rio e ali instalou seu almoxarifado, como relatou Monteiro Lobato. “… Mas, sob o sono dos séculos / Amanheceu o espetáculo…”, uma rosa-dos-ventos buarqueana.

O Rio de lindeza e exuberância singular em sua pluralidade ímpar, o Rio onde a Zona Leste é o mar, o Rio de montanhas que avançam sobre o mar e de florestas que teimam em resistir ao alastramento imobiliário desenfreado.

Olorum deu seus toques de suavidade e amor, paz e carinho, criando a alvorada mais linda de todo Planeta e um povo que só quer ser feliz, na feliz(cidade) de ri(o)r de janeiro a janeiro. “Você já viu um amanhecer? Já viu o sol que faz de manhã? Deus é assim — sempre foi um exagerado…” disse Jayme Ovalle sobre a alvorada carioca. Calcanhoto não gosta de dias nublados. Ela sabe das coisas.

Estes ilustres cariocas, nascidos ou aventurados e acolhidos em terras tupis, escrevem e descrevem o que é viver em querências maravilhosamente cidadescas.

Agrippino Grieco escreveu dedicatórias à cidade; em uma delas lemos: “…É uma máquina de moer corações e cérebros. Persisto em andar pelas ruas do Rio. A rua é a melhor das bibliotecas.” Talvez, quem sabe, uma ode literária a João do Rio.

Théo-Filho enalteceu Ipanema, Gil mandou abraços ao povo da Portela. Elysio de Carvalho, em 1912, falava de larica e bonde em seu dicionário de gírias cariocas.

Ben, Flamengo até morrer, deu asas ao síndico, azul da cor do mar, quando Álvaro Moreyra versejou que: “… A história deste tempo conta que o homem feliz tem camisa, e é a camisa do Flamengo.” Manto Sagrado eternamente.

Chrysanthème descreveu nossas praias como: “Um longo de areias cor de âmbar, orladas de espumas…” pura poesia em forma de Rio. Olegário Marianno versejou que, a Cidade Maravilhosa, na luz do luar fluídica e fina, lembra uma excêntrica bailarina, corpo de náiade e sereia, quem sabe viu Yemajá no balanço das águas da Princesinha do Mar. Cae caetanou os dragões que evidenciam o corpo como tatuagem, das moças e rapazes coloridos pelo sol.

Seu Zé dá boa-noite para quem é da noite e bom-dia para quem é do dia, abençoa com saravá para quem dele é, e dá bençãos para quem não é.

A Cidade Maravilhosa é assim, este carnaval de geleia geral, essa imensidão que invade nossos corações, é a mais fina tradução e tradição do amor. A ela dedico versos de Gilka Machado, Invocação ao sono. “… Eis-me lânguida e nua / para volúpia tua /Faze a tua carícia…”.

Vivamos Rio apesar de todos os pesares.




Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.