Thaís Alcoforado estreia na poesia com A Torre

 


Thaís Alcoforado estreia na poesia com
A Torre, obra que une tarot, queda e libertação

Publicado pela editora Primata, livro transforma arcanos maiores em metáforas poéticas sobre traumas, rupturas e renascimentos

A escritora recifense Thaís Alcoforado inaugura sua estreia literária com o livro A Torre (Primata, 116 págs.), uma obra poética que revisita o tarot como guia simbólico para narrar desmoronamentos pessoais e coletivos. Inspirada no arcano maior que dá nome à coletânea, a autora constrói uma cartografia lírica que percorre traumas, perdas e as potências de transformação que emergem do colapso.

Ao escrever, Thaís deixa, pela segunda vez, a própria Torre ruir. No vazio que se abre, escuta a linguagem dos sonhos, do corpo e das cartas. Ao fim, a queda é uma nova fundação”, escreve a psicanalista, jornalista e escritora Gabrielle Estevans, que assina o prefácio da obra.

Tarot como linguagem poética

Os poemas de A Torre dialogam não somente com a carta que lhe dá título, mas também com outros seis arcanos maiores do baralho, transformando símbolos arquetípicos em linguagem poética. A capa foi ilustrada pela artista e poeta Priscilla Menezes, reforçando o caráter ritualístico do projeto.

Para Thaís, o tarot é antes de tudo uma ferramenta de introspecção. “Os poemas nasceram como escrita de sobrevivência e gesto de fé no futuro. Tanto o tarot quanto a poesia podem nos ajudar a perceber pistas e indícios que a vida nos dá — essa é a verdadeira magia”, afirma.

Advogada, mestre em Direito Internacional e especialista em estudos de paz e conflito, Thaís Alcoforado construiu carreira como trabalhadora humanitária em países como Senegal, Irã e República Dominicana. Atualmente vive no Panamá, onde encontrou na natureza e na convivência com animais a inspiração para retomar a escrita e dar forma ao livro.

“Quanto mais se escreve, mais se torna urgente e inevitável escrever. Agora minha meta é manter aberto esse canal e criar espaços intencionais para a poesia na vida cotidiana”, destaca.

Entre suas referências literárias estão Bruna Beber, Ana Estaregui, Prisca Agustoni, Sofia Mariutti, Mar Becker e Júlia Carvalho Hansen. Do universo do tarot, a autora cita a obra O Caminho do Tarot, de Alejandro Jodorowsky e Marianne Costa, como fundamental para sua pesquisa.

Outras influências diretas de A Torre incluem os Diários de Susan Sontag, Eros, o amargo-doce de Anne Carson e o clássico Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola-Estés. Leituras que, segundo Thaís, alimentaram sua busca por uma escrita sinestésica, capaz de transitar entre cotidiano e espiritualidade.

Além de A Torre, Thaís já prepara novos trabalhos. Entre eles, um conjunto de poemas em homenagem à fazenda panamenha que a acolheu no último ano, concebido como manifesto em tributo aos animais que marcaram sua trajetória.


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Poemas do livro:


Dodona 


Arqueólogos encontraram 150 tábuas com perguntas para Zeus 

O que o futuro reserva para o meu reino?

Vencerei a guerra que se aproxima?

Que sacrifícios devo fazer para garantir a segurança do meu povo?

Quais deuses devo venerar para alcançar meus objetivos?


Quando dizes que me amas, posso acreditar?



Andrômeda 


Encontrei algo da tua pele

Em outro corpo


Fragmento fugidio 

Da completude impossível


Revi o céu 

Eclipsar-se


Los Mendez 33 


Em temporada de eclipses 

E planetas retrógrados

É fundamental ter força nos braços

Encontrar árvores 

Que não estejam mortas por dentro

Trocar ideia com grilos, gafanhotos

(esperanças)


De cabeça para baixo

Confundem-se 

Vagalumes e estrelas 


Exceto pela sua velocidade

E pelo seguinte:

Os vagalumes, todos eles, ainda estão vivos.






Thaís Alcoforado nasceu no Recife, é advogada, mestre em Direito Internacional e atua como trabalhadora humanitária. Viveu no Senegal, Irã e República Dominicana, e atualmente reside no Panamá. Em 2024, passou um ano na província do Darién, em um povoado rural na fronteira com a Colômbia. Foi nesse território silencioso e selvático que “A Torre”, seu primeiro livro de poesia, ganhou forma.