Poemas do livro “Toda reza é tentativa de telecinese”
avesso
pra sempre também é nunca mais
já não é contradição
o bordado do avesso
também é trabalho à mão
líquido que desce pelo ralo
eletricidade em corrente espiralada
me enredar nessas tramas
é o que mais quero
limite-se à sua insignificância
e fique contente se chegar
a se tornar
uma letra de bolero
kairós
neste baile delicado, a vida me embalou
embrulhou pra presente e jogou na esteira
folha ao vento,
onde você quer cair?
dirijo meu carro como uma diva de cinema
erro o caminho de propósito só para alongar o take
confio nos planos-sequência
desnudados em cena, a ficção nos regurgitou
não quer mais os velhos simulacros
devolveu nossas tramas
em nós mais intrincados
para sempre estou acorrentado no seu calcanhar
fazemos questão de não devolver este fogo
namorado
é um tipo de peixe
dois namorados
são dois peixes
podem ser da mesma espécie
ou gênero
ou sexo
nunca comi um namorado
apesar de comer de tudo
os namorados que tive
não se permitiam ser comidos
my precious my precious
meu cuzinho de ouro imaculado
é a sociedade do anal.
comer um cu
nunca foi meta
só acho engraçada
tanta frescura
no mercado
o peixe fresco é desejado
bucetas também
frescas, aneladas
desavisadas
dizem que buceta cheira a peixe
só se for a do peixe
namorado
também pode ter buceta
tem quem coma fazendo careta
porque pode gostar de buceta
mas não pode gostar de cu
gostar de peixe pode
namorado, dourado, pirarucu
meu cu!
minhas regras
(não há regras)
meu cu
é um anel de plástico
que encontrei no chiclete
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Flávia Teodoro Alves (São Paulo, 1982) é arte-educadora, pesquisadora, escritora, servidora pública, artista de rua, performer e atriz. Autora de “Toda reza é tentativa de telecinese” (2023) e outros trabalhos poéticos, sua escrita é marcada pelo fragmento, pelo intuitivo e pelo engajamento com questões sociais. Vive e trabalha na Brasilândia, onde também atua como professora na rede pública. É mestra em Artes pela Unesp e pós-graduada em Formação de Escritores pelo Instituto Vera Cruz. Em 2024, foi semifinalista na categoria Poesia Publicada do Prêmio Loba Festival.

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