De 16 a 26 de outubro – Programação da Mostra Profissional
Martin Luther Propagandapiece - Suíça
Dias 16 e 17/10 - Teatro Barreto Júnior/Recife (19h)
por
Taciana Oliveira
Colaboração:
João Gomes___
por Taciana Oliveira___
Naná Sodré em cena
Carioca
de nascimento, radicada em Pernambuco, produtora e atriz, Naná Sodré
é uma figura imprescindível na cena cultural do Estado. Uma das
idealizadoras da Mostra Luz Negra – O Negro em estado de
representação, iniciou sua trajetória trabalhando com luz cênica.
Mas no ano de 2009 começa a se dedicar aos estudos da interpretação
e atuar como atriz. Para Naná era “algo incontrolável” criar um
novo percurso profissional. A partir da aprovação de um projeto em
um edital, e a realização de um espetáculo, os efeitos do racismo
institucional se fez presente até mesmo na própria comunidade
teatral. Uma atriz negra em cena, para alguns, era um “devaneio”
A
performance Mulheres que carregam homens dá seus primeiros passos no
ano de 2013, a partir da concepção de uma pequisa intitulada
Violência de Gênero: Da opressão à transformação social através
do diálogo. Desde então o grupo Nexto - Núcleo em Experimentações
do Teatro do Oprimido, formado pelos atores Andréa Veruska e Wagner
Montenegro, se debruça sobre o tema através da elaboração de
oficinas e realização de espetáculos. Em 2016 o projeto Do gênero
performativo às performatividades de gênero no Teatro de Rua, é
aprovado no Edital do Funcultura- PE. O objetivo dessa nova pesquisa
é a promoção do diálogo entre as pessoas e o espaço urbano.
Espaço esse que não está acostumado a debater questões sobre a
violência de gênero.
Mulheres
que carregam homens é um dos dispositivos gestados dentro desse
projeto. As principais referências para concepção dessa
performance habita no conceito de performatividade de gênero,
apresentado por Judith Butler e na narrativa mais do que necessária
da obra Teoria King Kong de Virginie Despentes. A
performance conta com a participação de atores em espaços
públicos, oferecendo assim oportunidade para se conhecer outras formas de atuação teatral. Mulheres que carregam homens é muito
mais que uma metáfora, é a constatação que a arte não se afasta do
cotidiano. Uma performance provocativa, um espelho para quem assiste
e muita vezes não se dá conta que reproduz o que condena. Conversando
com a atriz e uma das idealizadoras do projeto, Andréa Veruska, ela
comenta que a reação do público feminino, em algumas das
apresentações, é de surpresa ao se deparar com a suposta inversão
da “lógica”: homens é que carregam mulheres. Esse mesmo público
se questiona, se revolta ou se reconhece na performance. Expressam
descontentamento ao enxergar na dramatização o papel designado para
mulher na sociedade. A resposta de parte do público masculino já é
diferente. Quando convidados para atuar no dispositivo, manifestam
naturalmente um comportamento agressivo e machista. Mulheres
que carregam homens, como quase toda intervenção performática, é
antes de tudo um ritual, uma abordagem para uma leitura crítica de
algo que diz tanto sobre nós. A performance não procura responder
sobre o tema. Não é esse o objetivo. O NEXTO busca estimular o
diálogo e a participação popular. Após assistir o vídeo que documenta a passagem dos atores no Mercado Público do bairro de Afogados, peço licença e tomo emprestado o poema de
Alice Ruiz para encerrar o texto: algumas
flores teimam
em viver/ apesar
do tempo/ apesar
do peso/ apesar
da morte/ apesar
de algumas que
teimam em morrer/ apesar
de tudo.
Taciana
Oliveira é mãe de JP, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife,
apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura.
Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra
quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.