Jota Camelo |
O economista e
filósofo grego Cornelius Castoriadis (1920/97), já alertava em 1979: o
jornalismo contemporâneo inventa todos os trimestres um novo gênio e uma
revolução nesse ou naquele domínio com esforços comerciais eficazes para fazer
guiar a indústria cultural.
Para a alegria
do gado.
A cultura como
fábrica de ideologias e personagens e onde a massa que faz parte do futuro (Zé
Ramalho), não visualiza seus potenciais, pois estão encarcerados.
A vida não é um
romance político, romance é outra coisa. Ora, adoro romances, mas devemos ter o
cuidado de perceber que eles podem se transformar de um simples romance para uma
arma e ameaça, até para nossos hábitos, havendo necessidade de separar a
realidade da ficção quando a temática envolve política.
Esse cuidado
recrudesce diante das palavras de Costariadis quando a cultura ultrapassa
dimensões de nossas identidades e assume valores, não é mesmo? Pois aí está o
perigo de culturas industrializadas, o momento das criações ideológicas, a hora
onde "vocês que fazem parte dessa massa" segue a boiada.
Nesses momentos
surgem caçadores de marajás, onde o caçador é o próprio marajá, (com milhões de
seguidores falindo e perdendo suas poupanças), e mitos como personagens de um
suposto romance. Porém, real e com finais infelizes.
Em busca de
nossa independência (ou morte), toda sociedade autônoma deve sangrar diante
tais submissões. Todo cuidado é pouco com as grandes corporações midiáticas. E
seguir os malucos dadaístas, ousando contra imposições e tradições traiçoeiras
daqueles mitos que a mídia produz de três em três meses e, pasmem, alguns
tornam-se até presidentes de nações. Tá loko!
O indivíduo que
não é dono de suas palavras, já doutrinado pela indústria cultural, aceita as
artimanhas de corporações poderosas, tanto financeira como ideológica. Isto provoca o silêncio dos inocentes, pois eles sempre irão se preocupar no que os outros vão pensar no
que eles pensam, afinal eles querem a inclusão, fazer parte da elite, mesmo com
dívidas no mercado, padaria, bancos...que coisa!
Se a publicidade
e a política tem poderes de manipulação, de criar modismos e ritmos, somente
através de uma sociedade reflexiva poderemos retornar o pêndulo. A crítica
exige sua presença. Ora, somente assim para combater caçadores de marajás, reis
e outros mitos. Autorreflexão, essa é a palavra. Costariadis dizia que numa
democracia a coletividade e seus grupos fazem parte do que antigamente se
chamava "agora", os espaços públicos de Habermas. São esses locais
que podem originar regimes autorreflexivos.
Lá as funções da
crítica rebatem aquele dito popular que diz que todo povo tem o governo que
merece. Busco incrementar as críticas à indústria cultural por outros caminhos,
mas em dado momento é necessário recorrer às suas teorias.
Lembrar que a
repetição e a reprodução introduzem valores, afinal a reprodução tem capacidade
(e objetivo), de aumentar suas cópias.
Fica fácil a produção
de mitos e personagens, cantores, atores e até disciplinas com a consagração da
televisão e através de suas visibilidades inimagináveis, criando modismos,
costumes e...mitos.
O assunto é
repetitivo, porém não muda, se repete, repete e repete.
Quando falei no
medo que as pessoas tem de não serem incluídas, recordo a teoria da comunicação
"Espiral do Silêncio". Ela mostra como o "inocente" é
manipulado, não através de agendas, mas pelo medo, se obrigando a ficar quieto,
num silêncio constrangedor. A pessoa se sente coagida, numa posição vulnerável,
obrigada ao silêncio.
Vou simplificar: imagine você no meio de um grupo com ideias contrárias a sua, e eles, os
simpáticos alegando que quem pensa de forma alternativa são os
"burros". Não é melhor para você ficar quieto? Afinal você não pensa
como eles, os "sábios". A mídia utiliza muitas vezes essas artimanhas
e a elite mais ainda. Eles são terríveis né? Resta a massa que faz parte do
futuro seguir a maioridade de Kant, com esclarecimentos...
O relevante é
não fazer parte do gado, isso é do interesse deles, pois o conhecimento fica
restrito e o perímetro limitado.
Como na ciência
da linguagem muitas vezes a ética inexiste, toda atenção às leis antinaturais.
A mídia está 24 horas ligada, e segundo Paul Valéry, estudioso da comunicação: a
própria noite está povoada de palavras de jogo, e desde a manhã somos atingidos
quando inúmeras folhas impressas estão em nossas mãos, mãos que passam...
Sinto obrigação
de permanecer alerta para combater os "inteligentes" de plantão com
seus interesses, já que eles entram em nossas casas todos os dias, sabendo que
eles não passam todas as informações, apenas aquelas que lhes interessam
Taí um começo
para combater e derrubar as fábricas de mitos e amenizar nossos prejuízos.
E definitivamente,
entender porque certos governos não desejam disciplinas como filosofia ou
sociologia nas escolas, pois como Jean-Paul Sartre disse: quando dizemos que um
homem faz a escolha por si mesmo, entendemos que cada de nos faz essa escolha,
mas, com isso, queremos dizer também que ao escolher por si, cada homem escolhe
por todos os homens".
Escolher por si,
não como se fosse parte de uma boiada.
Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui