por Alessandro Caldeira___
Colaboração: Taciana Oliveira___


Greta Van Fleet
Fonte: https://goo.gl/iyGbk1



Os versos da clássica canção My Generation da banda inglesa The Who, Hope I die before I get old, são uma forte referência para outra citação que li há alguns anos: É preciso ser jovem para gostar de Rock. Será?

Todas as vezes que escuto a banda americana Greta Van Fleet me faço essa pergunta. O grupo é formado por quatro garotos: Os irmãos Josh Kiska (vocal), Jake Kiska (guitarra), Sam Kiska (baixo) e o amigo Danil Wagner (bateria). Na sua formação os rapazes desenvolveram uma paixão pelo rock clássico, o som típico dos anos setenta. Chama atenção a forte semelhança da voz de Josh Kiska com a do lendário vocalista do Led Zeppelin, Robert Plant. Algumas vezes sua extensão vocal também registra uma forte similaridade com a performance de Geddy Lee, vocalista da banda canadense Rush.


desempenho de Josh no palco e sua voz são uma combinação poderosa e refletem claramente a influência do Led Zeppelin na construção da identidade musical do grupo. O vocalista apresenta expressões idênticas as de Plant. Os olhares, o diálogo corporal com o guitarrista e suas reações com o público evidenciam isso.

No EP intitulado: From The Fires é possível associar mais uma vez a banda com o Led Zeppelin: Safari Song, Flower Power, Highway Tune (ouçam Immigrant Song e percebam a semelhança) e Talk On The Street. Porém, o primeiro álbum oficial nos leva a outra sonoridade. Nota-se logo na abertura com Age of Man a presença de ritmos cadenciados, que passam do Pop ao Indie e transitam pelo Rock Progressivo.

A ideia de que o álbum teria uma sonoridade diferente do Hard Rock, termina na audição das faixas. A aposta é por sensações entre o peso e a leveza, entre o claro e o escuro. São solos com a influência vintage da técnica do guitarrista Jimmy Page. Apesar de todas as comparações inevitáveis com grandes nomes, há uma sensação muito maior de rejuvenescimento do rock. Não vamos aqui declarar que o rock está salvo. O gênero nunca precisou ser salvo, não existe essa obrigação. O Greta não contribui para o renascimento do Led Zeppelin. O Led Zeppelin não precisa renascer. O que a banda americana traz com seu repertório é uma vitalidade pungente para o momento atual. Ela reacende os ideais da cena musical de uma geração batizada pelo surgimento da Contracultura e o Flower Power. Isso vale também para quem viveu e sobreviveu na intensidade dessa época, onde vigorava a luta pelos direitos civis. Penso que a banda expõe na sua essência a amplitude do encantamento rocker, sem pretensão, apenas a "obrigação urgente" de se jogar no mundo. É o “reinventar do sonho”, expondo a luz de um estilo musical que não se apaga.

Passado e presente podem compactuar de uma mesma narrativa. Portanto, compará-los com outras bandas pode ser algo natural, assim como o Rush com o Led Zeppelin, ou o próprio Plant que lembra a visceralidade vocal/corporal de uma Janis Joplin, ou até mesmo quando a crítica especializada brada e contesta a originalidade de "evidentes plágios" do grupo britânico. Clica aqui pra saber mais sobre isso: https://goo.gl/NesdLy

A fonte que perpetua um gosto musical não é somente a escolha do gênero, ou o formato de exibição, mas sim uma atemporalidade criativa que transcende a identidade do seu público em gerações. Ah, e o The Who continua na estrada, celebrando: It's my generation, baby!



Vida longa ao Rock!




    
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Alessandro Caldeira é jornalista, santista e nas horas vagas prefere postergar qualquer um desses títulos para se dedicar à literatura, música e cinema.
por Juliana Berlim__


   A vida humana é pautada por muitas entradas e saídas. 2018 foi um ano em que entrei em muitos espaços e permiti que me fizessem de porto em diversas ocasiões. Esses haveres somados e trocados fundam planetas em que gostamos de morar. Foi através de uma excursão pela galáxia da literatura que entrei em contato com o Selo Editorial Aliás, um coletivo feminino majoritariamente de Fortaleza (mas também do Recife e do Rio de Janeiro) que lançou chamada nacional para contos em torno do tema "A cidade e os desejos". Assim que vi a proposta, soube que meu conto "7x1", produzido no âmbito do processo de formação de escritores da Festa Literária das Periferias (FLUP) - projeto ninjitsu- poético- afrofuturista capitaneado anualmente na capital fluminense pela dupla Ecio Salles e Julio Ludemir - casaria à perfeição, pois nele há isso: a cidade do Rio de Janeiro e seu desejo de pulsar via sexo. Seleção feita, eu e outras vinte e quatro mulheres figuramos falando das vicissitudes do ser feminino, sua pletora de sulcos, invaginações e resistências.
Fórum das Minas
  Resistência é a palavra de toque do planeta mulher. Com isto em mente, a Aliás lançou ainda em 2018 "Boca de cachorro louco", romance testemunhal de Kah Dantas, resposta literária às consequências de um relacionamento abusivo. Anna Karine Lima, uma das mulheres- Aliás, anunciou que Kah estaria no Rio e ofereceu uma conversa com a autora a quem se interessasse. Ofereci a palestra as minhas colegas professoras do Colégio Pedro II, que, através do projeto Fórum das Minas, permitiram que Kah expusesse sua escrita e sua experiência de vida a nossos alunos secundaristas.
  A parceria com a Aliás se consolidou em novembro, com a encomenda de uma zine. Assim surgiu "Formas quentes de beber", escrita no calor do momento, elétrica, desprogramática, musical, meu primeiro trabalho totalmente solo, voo rasante para os domínios de outra órbita. Eis que, em um ano tão frutífero, em que encaminhei um projeto de escrita literária decididamente profissional, com publicações em diferentes editoras independentes (além da Aliás de Fortaleza, a Lendari de Manaus, a Metanoia do Rio de Janeiro, em breve a Calamares de Belo Horizonte), o pontapé inicial desta jornada aconteceu ainda em janeiro, ao lado destas amazonas nordestinas, sigrando a poeira das estrelas de novos começos, tanto elas como eu. Lembro do meu primeiro encontro com Anna Karine e Davila, no salão LER, para lançarmos o "As cidades...", sem que pudesse saber àquela altura que os nomes delas e os de Taciana (cineasta pertencente ao coletivo Aliás) se incorporariam tão firmemente a meu imaginário. Mas é bem isso o que acontece quando se desfralda o Universo em aventura exploratória: on fait connaissance.

por Taciana Oliveira__



Miguel Rude é natural de Natal, Rio Grande do Norte. Formado em Artes Plásticas pela UFRN, é professor, ilustrador, caricaturista, ativista e pai. Em nossa conversa pontua: Não existe autodidata. A não ser que você more numa ilha"
1 - Há quanto tempo você atua no mercado?
Desde 1998 produzia fanzines, e aqui e acolá fazia esboços para pessoas que pediam projetos. Não me sentia seguro de desenhar. Mas fazia o esboço das ideias e repassava para os desenhistas que produziam comigo os zines da época. Abri uma loja em 2008 e terceirizava algumas coisas. No final das contas tive que fazer eu mesmo muita coisa, porque as pessoas começaram a se ocupar com seus projetos pessoais.
2 - Quais suas principais influências?
Em termos de traço, acho difícil citar um nome. Não tenho realmente alguém que me influenciou. Mas em relação a arte-final, vou citar o estilo mangá. Na produção de mangás é raro creditar assistentes. Acho que na arte-final ocidental posso citar apenas um cara chamado Dale Keown. Nacionalmente me inspiro mais na carreira e filosofia de vida do Maurício de Sousa, Ziraldo, Laerte, Angeli, Max Andrade e Thiago Spyked.

by Miguel Rude

 3- Fala um pouco da tua formação como caricaturista/ilustrador.
Muitos "floreiam" suas história de vida e sofrimento até a chegada ao topo. Eu nunca cheguei no topo de nada. A verdade é que sempre fui muito inseguro em arrumar um emprego formal, de carteira assinada e fazer alguma besteira e ser sempre demitido. Meu último emprego formal foi assim. No período de experiência fui despedido por falar o que penso. Então na verdade, sempre procurei fazer algo que não me obrigasse a procurar um emprego padrão. E como já falei, a demanda para alguns profissionais era grande. Tive que arcar com os pedidos que surgiam. Assumir um filho também me obrigou a procurar por mais e mais serviços.
by Miguel Rude

4 - Quais nomes você destacaria no cenário?
Nos quadrinhos, cito o Load, o Hugo Canuto, o Max Andrade e o Thiago Spyked,. Cada um na sua. Cada um com um motivo. Mas acho que sempre fazer uma releitura do Mauricio, acompanhar suas tentativas de renovar o mercado, é válido. O Ziraldo, Laerte e Angeli também. Na caricatura, acho que só posso citar mestre Baptistão, mesmo!
5 - Você já me falou dos seus trabalhos ilustrando livros para uma editora de Natal. Comenta um pouco sobre esse e outros trabalhos
Como falei, sou muito preguiçoso. Não desses que não quer fazer as coisas. Eu passo o dia 
desenhando, se possível Só me canso depois que não vejo mais sentido fazer certas coisas. Então já fiz quadrinhos, tive loja de caricatura, ilustrei estampa de camisa. E agora atuo na ilustração de livros. É um formato novo para expressar o meu trabalho. Não que eu tenha parado de atuar em outros formatos, mas costumo deixar claro, inclusive virtualmente, o que estou me dedicando. Então já escrevi quadrinhos pessoais e infantis para empresas. Colori também. Já atuei como arte-finalista de mangás no Brasil e no exterior. Fiz muita caricatura, antes, durante e depois do espaço que abri dedicado ao gênero. Atualmente ando esquentando os neurônios para produzir capas que expressem o conteúdo de livros para uma editora. Já realizei alguns desses trabalhos para Editora CJA e Jovens Escribas. Nesse momento estou produzindo um livro de RPG que envolve os mitos de Cthulhu e um romance sobre vampiros e seus clãs. Espero finalizar os dois e procurar novos desafios. Não sei o que será desse Brasil nos próximos quatro anos, com tanto disse me disse, Fake News e discurso de ódio. Mas ao menos espero que me deixem trabalhar em paz, e eu possa sustentar minha família. Para mim é o que vale.





by Miguel Rude 

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Fotografia:  Ensaio Aquário Humano , Lara Zankoul

Fotografia: Kyle Thompson Photography


Fotografia: Richard Tuschman

por Taciana Oliveira___

        Nereu Gargalo, componente ilustre do majestoso Trio Mocotó, é uma daquelas figuras emblemáticas na história da MPB. Na sua trajetória musical trabalhou com nomes como: Vinicius de Moraes, Clementina de Jesus e Nelson Cavaquinho. É do encontro de Jorge Ben com o Trio Mocotó que nasce o gênero musical samba-rock. Essas e outras histórias estão no documentário No Gargalo do Samba, dirigido por Águeda Amaral e José Augusto De Blasiis, uma produção da produtora paulista Cabelo Duro. O documentário é vencedor do VI DOCTV LATINOAMÉRICA e tem exibição garantida em 16 países da América Latina. 
              A história da produção do filme começa no encontro de Águeda e Nereu promovido pelo DJ Dony Dancer. A diretora de imediato se encantou pela ideia da criação de um documentário, que durou exatos oito anos para ser concretizado. No Gargalo do Samba reúne amigos, familiares e músicos admiradores do artista. A narrativa proposta para o filme não traz um esboço da personalidade do músico. O documentário é 100% Nereu. Os diretores costuram com maestria entrevistas, recortes biográficos e momentos musicais como se escrevessem a partitura de um samba. O passado é atualizado numa conexão rítmica com o futuro. O menino e o homem se reencontram para ditar a batida. Revelam no mesmo olhar que a vida que corre pela suas mãos é música. Para assistir No Gargalo do Samba é preciso ficar atento à programação da TV Brasil, detentora atual dos direitos de exibição no país. Há uma proposta futura de encontrarmos No Gargalo do Samba nas salas de cinema. Estamos na torcida! Beleza, beleza, beleza!






por Taciana Oliveira__


                                              
  No fundo a Fotografia é subversiva, não quando aterroriza, perturba 

ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa. 

-                                                                       A Câmara Clara, Roland Barthes.







                                

Fotografia de DamirSagolj/Reuters /PrêmioPulitzer de Destaque em Fotografia



por João Gomes __




Fotografia: Jan Ribeiro



Por Anderson Paes Barretto__



Clarice Lispector fotografada por sua amiga Bluma Wainer


por Norma de Souza Lopes____

Obra de  Mónica Mayer
Link:https://goo.gl/WEVirP






      Em 2015 mulheres do país inteiro saíam às ruas para combater o assédio. Era a primavera feminista brasileira. O estopim, uma garota de doze anos que participava de um programa de culinária. A indignação tomou proporções imensas. E era justo que fosse assim. Desde os tempos bíblicos homens se comportam dessa maneira. Trata-se de uma prática milenar. E precisa acabar. Resolvi contar aqui o #primeiroassédio versão bíblica que, diferente das circunstâncias de hoje, foi julgado de maneira favorável. Estejamos unidas para evitar, combater e resolver com justiça essas violências.   Esta é a história da Susana, filha de Joaquim e mulher de Hilquias. Bonita como um lírio, cultivava o hábito de se banhar num lago no meio do jardim ao meio dia. Tomar banho todo dia era um privilégio naqueles tempos. Joaquim devia ser muito hospitaleiro porque vira e mexe em sua casa estavam os anciãos da aldeia julgando casos do populacho, uma vez que eram juízes. As vistas da bela Susana e de seus hábitos acenderam os velhinhos, coisa que as pessoas costumam ignorar. Acham que velhos são assexuados. 

Arderam tanto que acabaram confessando-se um para o outro e tramando um terrível ardil contra a pobre Susanita. Como de costume, ao meio-dia a menina dirigiu-se para o jardim, despiu suas vestes para banhar-se e pediu às criadas para buscar óleo e bálsamo e também para fechar a porta do jardim. Com a saída das criadas os velhos se lançaram sobre Susanita ameaçando: "As portas do jardim estão fechadas, ninguém nos vê, e nós te desejamos. Por isso, consente conosco e junte-se a nós! Se recusares, testemunharemos contra ti que um moço esteve contigo, e que foi por isso que afastaste de ti as meninas". Susanita decidiu que ceder seria uma ofensa a seu Deus e pôs a boca no trombone. E os anciãos cumpriram a ameaça de calúnia em assembleia e condenou a pequena à morte por apedrejamento porque o que a turba quer é ver sangue. 

Daniel ainda era novinho mas encasquetou com a palavra dos dois juízes e levou os dois para a acareação. Um disse que tinha visto o ato debaixo de uma árvore alta e o outro disse que tudo ocorreu debaixo de uma árvore baixa. Descoberta a mentira dos anciãos, a multidão feliz pode apedrejar os dois e Susanita voltou aliviada para os braços de seu Hilquias, passear pelo jardim. E foram felizes para sempre. Ou não. Aqueles não eram bons tempos para as mulheres.