Três poemas de João Gomes

por João Gomes__



Jr Korpa



 

Do senso intuitivo

Todo cheiro é estranho
parece que vem de dentro
de onde não consigo

escrever fragrantes poemas.

Parece que estão escritos
em algum lugar da pétala,
só resta organizar pedaços
tocando espinhos no caule.

Não o faço com incensos
e a técnica não me chega
porque não é esse o tratado
das descobertas sem esmago.

Tal uma mosca zapeando cega
que perdeu sua direção
e ainda assim marca espaço
no tempo que desenterra.

 


Jejum de vida

Por opção
comer pouco,
o necessário
para se manter
em pé de ave
que voa alto
e bica pouco,
sem vomitar
tanta pressa
de reserva
armazenada:
para nenhum
esforço visto;
ou alcançar
o supra sumo
comestível
a milhas longe
da mordida
e mais energia
para manter
o necessário
sem medida
acontecível:
abocanhando
a vida repartida
em porções.




Ganhos deliberados

 

Neste coração

de folhas rabiscadas

rebusco o fôlego

sempre novo

do instante.

 

Suportei todos

de forma brava,

olhares congelados

em raio ou teia

de veneno farto.

 

Evoluí no jogo

quiçá cresci o nível

do riso traseiro

antes tão murcho

hoje abridor pusilânime.

 

Deixei de veia saltante

a porta da bomba

testosterona dita

com licença atlética

para ser forte.

 

Único de mim

padeço de todos,

dor e desejo sofro

sem saber pra onde.






João Gomes nasceu no Recife/PE em 1996. Autodidata, é escritor e poeta, publica resenhas, crônicas e entrevista com escritores na revista Mirada. Publicou em algumas antologias, como Granja, Sub-21, Capibaribe vivo, Tente entender o que tento dizer, No entanto: dissonâncias e etc. Edita a revista de literatura e ideias Vida Secreta. Atualmente estuda Multimídia no Ginásio Pernambucano e mantém no prelo seu livro de poesia.