por Lubi Prates__
você nunca esteve diante do horror
você
traz os olhos arregalados
e
você nunca esteve diante
do
horror,
você
nunca viu uma cidade bombardeada
uma
cidade destruída
uma
cidade esvaziada pela guerra.
você
nunca esteve diante
do
horror,
você
nunca chegou em outro continente
sem
saber dizer palavra
só
com seu nome e a angústia na boca
você
nunca foi deportado para um país que
não existia mais.
você
traz os olhos arregalados
e
você nunca esteve diante
do
horror,
você
nunca sentiu uma arma
apontada
para sua cabeça
enquanto
repetia: é um engano
você
não é negro, você sempre
esteve
em segurança,
você
nunca sentiu a fome
te
impedir de lamentar levantar
aguentar
você
nunca perdeu o telhado
para
a tempestade.
você
nunca esteve diante
do
horror,
você
pode fechar seus olhos.
possessividade II
o
que faço é te negar
pelo
que já disse tantas
vezes:
possessividade
e
viver em círculos com
frases
frases que não são
poemas.
porque
me vem sempre
como
inspiração
sua
presença
e
não te quero
lábio
palavra idioma
de
outrem.
não
quero
repartir
minhas migalhas.
*Poemas
do livro Até aqui, de Lubi Prates (Editora Peirópolis, 2021)
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Lubi Prates (1986, São Paulo / SP / Brasil) é poeta, tradutora, editora e
curadora de Literatura. Tem três livros publicados (coração na boca, 2012;
triz, 2016; um corpo negro, 2018). “um corpo negro” foi contemplado pelo PROAC
com bolsa de criação e publicação de poesia e, além de ter sido finalista do 4º
Prêmio Rio de Literatura e do 61º Prêmio Jabuti, também foi traduzido e
publicado na Argentina, Colômbia, Croácia, Estados Unidos e França; Espanha,
França, Itália e Suíça, no prelo. Tem diversas publicações em antologias e
revistas nacionais e internacionais. Co-organizou os festivais literários para
visibilidade de poetas, [eu sou poeta] (São Paulo, 2016) e Otro modo de ser
(Barcelona, 2018) e também participou de outros festivais literários no Brasil,
em outros países da América Latina e da Europa. É sócia-fundadora e editora da
nosotros, editorial e da nossa editora e é editora da revista literária
Parênteses. Traduziu Poesia Completa, da Maya Angelou, e Zami: uma
biomitografia, da Audre Lorde. Dedica-se à ações que combatem a invisibilidade
de mulheres e negros. Atualmente, é doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento
Humano, na Universidade de São Paulo.
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