Três poemas de Renata Santana

 por Renata Santana___

 





  FIDO DIDO

 

você degraus e digressões

eu drops and dress

 

você dor e discos dizendo

dez em cada dez pessoas

eu drops and drags

 

dançando dig dig dig ê

dizendo duvideodó.


(página 11)


 

o jeito como você

reinventa pratos com miojo

patenteando nomes

que depois esquecemos

me convence da salvação

 

você é um deus de plantão

no final do mês

 

o homem com o cardápio nas mãos

em paris

na porta da geladeira

não é maior do que você

ao seu lado atravessaria guerras

e resistiria, grata

 

como um tamagotchi.



(página 15)




eu te amei

como quem procura o pai

no palco do primário

 

você me via — e acendia as luzes do quarto

quando faltava, o monstro saia do armário

 

os dias esquecida no pátio da escola

te esperando

azedam metade do doce,

eu guardei

 

o bedel é a louça suja

caixas de yakissoba

esse fosso no estômago

 

eu te amei como quem quer limite

mas transborda o leite no copo.

 

(página 37)






Renata Santana - Mulher, negra, nascida no Recife-PE e de origem periférica, é escritora, jornalista, bibliotecária, pesquisadora e mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Publicou seu primeiro livro em 2019, “Na terceira margem do agora” (Ed. Castanha Mecânica). Publicou textos em antologias como “O poema se chama política” (2021), “Abrigo” (2020) e “Quem dera o sangue fosse só o da menstruação” (2019). Ainda em 2021, se tornou a primeira mulher negra recifense a ganhar o 7º Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura (antigo Prêmio Pernambuco de Literatura), na categoria poesia. A obra premiada, “A Mulher do Tempo”, será publicada pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) ainda neste primeiro semestre de 2022.