Três poemas de Thaís Campolina Martins

 por Thaís Campolina Martins__

 




ENTRE TERRITÓRIOS

nunca amei ninguém encostada nessa parede. nem beijei alguém sentada nessa escadaria. jamais troquei olhares nesse bar. nem figurinhas ou tazos nessa praça. sequer esperei um ônibus perto daqui. eu não lembro de ter vivido qualquer coisa nessa esquina e nem na outra. não sei dizer nem se já parei nessa calçada antes. tudo ou é paisagem ou é passagem dos pés, dos ônibus, dos olhos, dos dias. quase tudo que amo olhar nessa cidade não tem qualquer vínculo comigo. pelo menos não ainda. serei sempre uma forasteira aqui, enquanto me torno uma turista onde a memória está.

 


OH MY GOD

o mercado financeiro é
uma partida de pingue-pongue profissional
uma ficção contada como biografia séria
de um homem branco qualquer
uma seita que promete a reabilitação
de pessoas jurídicas desesperadas
um jogo de espelhos
de um parque caindo aos pedaços
cuidado pra não ir para o lado errado
cair no conto do vigário
acreditar em compliance
e maquiagem contábil

há tantos caídos
na base da pirâmide
um mar de gente sem deus
a falência é o maior dos pecados

 

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cabelo trançado já foi pecado
trança em escamas é penteado
mulher peixe cavalo

 


 

Thaís Campolina Martins nasceu em Divinópolis - MG em 1989, mas vive na capital mineira desde 2014. Bacharel em Direito, pós-graduanda em Escrita e Criação, medeia, organiza e faz curadoria do Leia Mulheres Divinópolis e é a criadora e faz-tudo do clube de leitura online Cidade Solitária. Após ganhar o 2° lugar no concurso Poesia InCrível de 2021, estreou na poesia com o livro “eu investigo qualquer coisa sem registro” pela Crivo Editorial. Também publicou o conto “Maria Eduarda não precisa de uma tábua ouija” em formato e-book na Amazon e segue escrevendo suas bobagens e incômodos em seu site thaisescreve.com, newsletter e redes sociais.