por Valdocir Trevisan__
Introspecção? O que é?
Reflexões
de foro íntimo, você "entrar" em si mesmo, o famoso "conhece-te a ti
mesmo" de Sócrates... Amigos e amigas e inimigos, quando escrevo meus
textos, diríamos existenciais, não desejo ser um mestre ou guru da felicidade,
apenas destrinchar a temática com autores como Bertrand Russell, Augusto Cury e
vejam só, Schopenhauer, para muitos um pessimista de plantão, mas para mim um
professor com lições positivas.
Nietzsche,
logo ele, dizia que Schopenhauer tinha um "perfume fúnebre", porém sinto
somente aromas silvestres com suas teorias que ensinam a viver com 20, 30,
40...até os 90 anos de idade.
Russell
em seu clássico "A Conquista da Felicidade" dizia que existem
inúmeras introspecções, mas cita três: a do narcisista, do pecador e do
megalômano.
Vou focar
no megalômano, aquele que sofre interferências diretas e indiretas da indústria
cultural e que geralmente não percebe suas relações com as violências culturais
que açoitam suas decisões.
Cuidado,
porém, para não confundir o megalômano com o narcisista, eles têm muito em
comum, mas há diferenças essenciais. Enquanto o narcisista se acha o indivíduo
mais lindo do mundo, o megalômano quer poder, ser o primeiro, custe o que
custar.
Ambos são
chatos, ninguém aguenta um narcisista se vangloriando ou um megalômano
"forçando a barra". Enquanto o amigo do espelho se admira por vaidade
e ego, o megalômano utiliza o terror para tomar posições. Suas conquistas se valem
de assumir o poder ameaçando o outro: o temor para alcançar a glória. Para ele,
sua cultura é “A cultura”, as demais podem ser qualquer coisa, menos cultura.
Ele sabe tudo e se alguém discordar, vai para a fogueira como se estivesse enfrentando
a igreja medieval.
O
interessante é que se escondemos algumas passagens de nossas vidas - muitas
vezes por receio dos amigos não entenderem nossas posições - o megalômano não dará
a importância, afinal ele está acima, é um cowboy fora da lei... Ele quer o
topo, a "hegemonia cultural” de Antonio Gramsci, e o espelho que fique com
Dorian Gray. E não é necessário estarmos
em ambientes selecionados, ele aparece em todos os lugares.
Curioso é
que a megalomania só traz desgraças, mas o homem é resiliente em sua busca pelo
poder e menospreza esse pequeno grande fato. Alexandre, O Grande, depois de
conquistar tudo e mais um pouco, enlouqueceu e morreu bêbado, alucinado e sem
amigos. Grandes heróis históricos tiveram o mesmo fim. Depois de conquistar
seus objetivos, a maioria por caminhos ilícitos, a conta vem por boletos. As
pedras voltam a ser pedras, aquelas mesmas que para o simplório serviam para
ver belezas naturais em altas montanhas e onde o megalômano observava seus
"súditos".
Alguns
meses atrás publiquei aqui, um estudo da UFSC onde narrei a difícil infância de
Alexandre. "Os Herdeiros de Alexandre" revela as consequências de
uma infância severa. Fica claro como a megalomania tem respostas funestas.
Seria
mais conveniente persistir nos sonhos com humildade. Em algum momento eles se
tornam realidade.
Depois de
duas tentativas frustradas, uma conhecida foi aprovada no mestrado e dias
depois, me sai com a seguinte frase: "o problema dos sonhos é que podem
ser realizados".
Outra
questão curiosa relativa ao megalômano é que o poderoso, depois de alcançar
seus objetivos, sente um vazio. Ele é tão superior que nada mais é relevante. O
próprio Russell argumenta, porém, que não acredita que a inteligência possa
trazer sofrimentos.
Prefiro
andar com fé, porque a fé não costuma falhar, diz o gênio e bom baiano
Gilberto Gil. Isso nos ajuda a garantir a leveza do ser.
Crer, assim como Daniel que tinha 24h para
decifrar os sonhos do Rei Nabucodonosor, caso contrário mais um ia para a fogueira.
Enfim, a introspecção
tem seus lados negativo e positivo. Sempre recorro à moderação de Epicuro para
não cair em estradas sinuosas.
Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Autor do livro de crônicas Violências Culturais (Editora Memorabilia, 2022) Para acessar seu blog: clica aqui