Vocação para naufrágios | Karina Ripoli

 por Divulgação__

 



Um naufrágio que submerge: brasiliense Karina Ripoli estreia na editora Patuá com poemas sobre saúde mental e feminismo

 

 

Livro de estreia da poeta brasiliense Karina Ripoli, “vocação para naufrágios” (editora Patuá, 80 pág.) aborda temáticas como saúde mental, o peso de expectativas alheias, feminismo e amor a partir do conceito do naufrágio, convidando quem lê a mergulhar entre um universo fantástico repleto de criaturas mitológicas e a banalidade angustiante da vida cotidiana. A orelha é assinada pela escritora, atriz, arte-educadora e produtora cultural gaúcha Marina Monteiro.

 

 

A proposta da autora envolve atravessar essa submersão em águas profundas para, ao fim, ancorar  ou emergir transfigurada, porém ainda relativamente a salvo, em algum lado de lá.  A poeta, que se define brasiliense de coração, explora com suas palavras um corpo ao mar, mesmo estando em meio ao cerrado do Centro-Oeste brasileiro e citando cigarras e ipês.

 

 

 

Uma poesia de travessia

 

 

“vocação para naufrágios” fala da materialidade do corpo do eu-lírico desde a orelha de Marina Monteiro: “flutuamos, vamos de arrasto, embolamos em espuma e areia, enfrentamos a solidão do alto mar e o calor das tripas de um cachalote descomunal”.

 

 

O movimento das águas obriga a matéria que compõe as pessoas a se mexer como nunca e estar envolto às ondas não é fácil, mas os versos de Karina mostram para onde ir em meio a toda essa natação, bem ao estilo da epígrafe do livro, cuja autoria é da poeta paulista Orides Fontela: “Não mais sabemos do barco / mas há sempre um náufrago: / um que sobrevive / ao barco e a si mesmo / para talhar na rocha / a solidão.”

 

 

Entre o mar de Homero e a vida submarina de Ana Martins Marques

 

 

As principais referências de Karina Ripoli são poetas brasileres, inclusive estreantes, de editoras pequenas, autores lgbtqia+. Ela se considera uma leitora compulsiva de poesia: o que lê em um determinado momento sempre influencia em sua escrita de alguma maneira e, mesmo adorando ler mulheres, também se inspira na literatura feita por alguns homens, como Ferreira Gullar e Drummond.

 

 

Karina conta que uma vez ao ser perguntada qual livro ela seria, descobriu que queria se ver transformada em um livro de Ana Martins Marques. Também destaca outros nomes: "Hilda me pega pelo lirismo, Orides pela estrutura. Na Ana Cristina César e na Angélica Freitas, eu gosto da linguagem que bagunça a gente.”

 

 

Ainda assim, sua referência direta para escrever “vocação para naufrágios” foi Homero: “Odisseia” foi usada como referência direta para essa obra porque ela joga ludicamente com conceitos épicos, mesmo enquanto fala do cotidiano que se apresenta tão bem nas poetas contemporâneas brasileiras.

 

 

Formada em Letras pela Universidade de Brasília (UnB) e Mestra em Estudos Literários pela Universidade Complutense de Madri, Karina sabe usar tanto suas referências clássicas quanto as fora do cânone. Seu processo de escrita da obra foi caótico.

 

“Foi misterioso, catártico e repleto de descobertas. Demorei bastante tempo para perceber que estava escrevendo um livro”, conta Karina. “Mais tempo ainda para me dar conta de que a maioria dos poemas falava sobre saúde mental, de uma ou outra forma. Essas epifanias me ajudaram. Quando decidi unir as pontas através da imagem do naufrágio, as coisas aconteceram com maior naturalidade.”

 

A escrita dos poemas foi motivada também pelo desconcerto de se ver de repente inserida num contexto de pandemia, fora o medo e a desesperança de viver em um país que “toma rumos cada vez mais tenebrosos”: “Não foram escolhas necessariamente intencionais. É tudo o que mexe comigo, aquilo que mais me atravessa ao longo dos dias. Inquietações antigas. Algumas delas eu até preferia não ter. Mas são todas muito minhas.”

 

Leia um poema de “vocação para naufrágios”, de Karina Ripoli:

 

travessia

 

 

desfiar a trama

desenrolar a trança

desembaraçar as ondas 

da tua cabeça

tão cacheada

 como quem promete

 

te atravesso mas sempre volto

 




Karina Ripoli (1990) é paulista de berço e brasiliense de coração. Formada em Letras pela Universidade de Brasília (UnB) e Mestra em Estudos Literários pela Universidade Complutense de Madri, é professora de línguas e literatura. Lançou seu primeiro livro, Palavra de Copo Virado, em 2021. Publica poemas em revistas literárias e é colaboradora do portal Fazia Poesia. Tem medo do avião, mas não da viagem. Já morou em 9 cidades. Se entende muito bem com gatos.