por Divulgação__
Uma jornada fantástica pelos mistérios de um Brasil
real e imaginado
O
realismo fantástico é uma vertente literária que fundou suas raízes na América
Latina, tendo no colombiano Gabriel Garcia Marquez a sua expressão mais
conhecida. No Brasil, Murilo Rubião é um dos autores que se consagraram
escrevendo textos nos quais a realidade e o fantástico se misturam.
Essa
mistura continua dando resultado, bons resultados. É ela o fio condutor do
romance de estreia do escritor Valentim Biazotti, “Síngulas Brasilis
Fantásticas”, que está sendo lançado pela Editora Penalux neste segundo
semestre.
A
obra, que
pretende passar ao leitor a tradição latinoamericana do realismo fantástico
(nos moldes de Borges, Juan Rulfo, Cortázar, Isabel Allende), propõe conduzir o
leitor numa jornada permeada por uma multiplicidade de vozes, pontos de vista
distintos e “um estranhamento borgeano” que causa curiosidade.
Todos os capítulos do livro seguem uma
mesma lógica: textos na primeira pessoa do singular (Síngulas), que se passam
em diferentes tempos e regiões do Brasil (Brasilis), com a presença de realismo
fantástico (Fantásticas). “Por trás disso”, conta Valentim, “existe a
influência da filosofia de Deleuze e Guattari, que ajuda a apresentar os
cenários brasileiros em suas multiplicidades, diferentes potenciais, códigos
culturais e relações com as diferentes máquinas sociais. É, portanto, um livro
que fala das multiplicidades de um Brasil real e imaginado”, sentencia.
A
personagem destaque da obra é Amélia Beraldi, pesquisadora brasileira, que
descobre um velho galpão, trajado em espelhos, na região do Oiapoque, estado do
Amapá. Dentro desse galpão, próximo à Ponte Binacional Franco-Brasileira,
Amélia e seu grupo de pesquisadores encontram três artefatos: grandes
penduricalhos contendo milhares de pequenos bilhetes, um cogumelo alaranjado
conservado em uma jarra de vidro opaco e um pequeno livro preto com o nome Síngulas gravado em sua capa. Enquanto
estudam os artefatos, se deparam com a história de um povoado brasileiro do
Século XVIII, a Vila do Atacaia Real, que foi destruído pela invasão de 56
estranhos. Também descobrem que a autora a assinar os bilhetes, Maria Cabral,
anteviu pessoas e eventos de séculos futuros. Amélia é abandonada pelos
pesquisadores quando desconfiam ser tudo clara maquinação. Mas, determinada,
ela recomeça a leitura do livro Síngulas,
que a transporta para um frenesi de palavras e histórias: assim se iniciou a
escrita do livro Síngulas Brasilis
Fantásticas por Amélia Beraldi.
O título da obra provoca um pouco de estranheza,
mas essa é a intenção do autor. “Quero que desperte curiosidade. A brincadeira
com as palavras busca demonstrar uma mistura entre realidade e fantasia. De
forma específica, o título representa o pacto literário que farei com o leitor:
todas as histórias no livro serão contadas na primeira pessoa do singular, cada
uma com sua voz particular, terão suas raízes no Brasil de hoje, de ontem e de
amanhã; e, por fim, terão o elemento de realismo fantástico”, explica o autor.
Em um momento de dificuldades sociais e
políticas, o livro tenta imaginar todos os potenciais que estão reprimidos em
um Brasil que é, por essência, cheio de multiplicidades. “O livro também traz
sua pequena contribuição ao realismo fantástico sulamericano e ao regionalismo
brasileiro, falando de lugares, tempos e vozes, cada qual com sua oralidade”,
acentua Valentim.
Jacques Fux, que ao lado do poeta Fabrício Corsaletti
auxiliou o autor na revisão do original, também assina o texto de orelha, no
qual escreve: “Este
precioso e misterioso livro nos causa um certo estranhamento borgeano: estamos
diante de escritos inéditos, contemporâneos e fantásticos de um
escritor-detetivesco e audacioso ou estamos nos defrontando a rascunhos
recém-descobertos, desnudados e desvelados por um escritor-arqueólogo e
curioso? De onde vieram esses textos? Para onde eles vão? Qual o segredo que a
sua estrutura (incomum) e a sua linguagem (inesperada) esconde e ao mesmo tempo
revela?”
São
perguntas aguardando o leitor para que encontre por si mesmo as respostas neste
romance instigante, que esconde em suas páginas tesouros e descobertas como
artefatos arqueológicos escondidos nos recônditos de uma floresta.
TRECHO
“O
mais do tempo desconhecido se apoderou de mim até o último ponto final do que
viria a chamar de Síngulas Brasilis Fantásticas. O barulho do mundo que
esbravejava para ou em mim voltou a ser o de uma garoa fina e seus beijos na
lama. Meu estômago roncava, meus olhos ardiam e minhas coxas haviam pingado um
sangue que já se encontrava seco. Levantar-se ou se deitar são atos
vertiginosos, mas usei de minha teimosia e fabulações para chegar até a porta e
encarar a luz. Tudo o que me preocupou, mesmo que tenha sido menos do que minha
astúcia, já não existia mais. E a verdade se alongava desse fato.”
SERVIÇO
Singulas
Brasilis Fantásticas - Volume I (romance; 14x21; 244) – Valentim
Biazotti. R$: 47,00.
Onde comprar: clica aqui
Valentim Biazotti, nascido em sete do três de noventa e um, graduado pela PUC-SP e mestre pela USP, é natural do bairro da Pompéia, em São Paulo, e carrega sua ancestralidade Vêneta junto a seus heterônimos: Amélia Beraldi, Wladislau Schioppo e Chaia Battistuzzi. Os motivos esquizofrênicos de Deleuze e Guattari norteiam a estrutura e os rumos de seus escritos.