Hinos ao acaso | Hudson R. Santos


por Hudson R. Santos__


Foto da capa do plaquete: Jeremy Thomas



1

O medo


Mote

O silêncio eterno dos espaços infinitos me apavora! (Pascal)

 

Glosa

Houve um momento em que

me apavoraram

a eternidade e o infinito

sou filho do barro

quero ser pó

não quero

persistir em mim

 



2

 

Mote

A arte conjurando os mortos. (Nietzsche)

 

Glosa

Será que ainda pensamos

abstratamente

com cabeças de serreias

decepadas

ou o mundo em um grão

de areia

ou tudo agora

é imanência ou concretude?

 

desconfio que os mortos

continuam em outro tempo

a tecerem o luar

ou a observar pássaros

 

  

3

 

Mote

O sofrimento da água é infinito! ( Bachelard)

 

Glosa

Narciso não se afoga mais nesse rio sujo

o mar vai mal

vai mal o firmamento de azul profundo

a floresta vai muito mal

as pessoas (risos) vão muito muito mal

mas o diabo diz que tudo está bem

(os loucos, isso é todos, ou quase todos, aplaudem)

 

caminho tão logo

                               nenhum passo dado

e toda a terra

                               é radiante e bela

o mar

                                tem as portas fechadas

na areia pura

                                fica o infinito

os labirintos de ondas

                                na vertigem da vida

 

 

 

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Hudson R. Santos
é poeta e arte educador, escreve há trinta anos. Seu primeiro livro de poesia publicado pela Multifoco: A palavra soprada (2019). Seu segundo livro foi publicado pela Edições Parresia: O outro, a ausência (2021). O reino das coisas (2022) pela Isto Edições é seu terceiro livro de poesia, e um marco importante na sua escrita. Adora seus cães e o mar imenso.